28 fevereiro 2004

Emília e uma noites

Esta crónica era para ser outra coisa mas sucede que de repente, ao principiar a escrever, Angola me veio com toda a força ao corpo. Desculpem, ia dar-vos uma história que se chamava Emília e uma noites e Angola, sem eu saber porquê, veio-me com toda a força ao corpo. Não sei explicar bem: já não me acontecia há muitos anos, julgava-me livre, julgava-me numa certa paz e estou a mexer a mão sobre o papel com tanta pressa e tanta raiva eu que faço tudo devagar, principalmente desenhar as palavras, eu que não vou corrigir nem uma sílaba, nem uma vírgula, nem reler isto sequer
(eu que releio tanto meu Deus!)
porque é insuportável sentir que Angola me veio com toda a força ao corpo. Não vou ter humor nem ser inteligente nem subtil nem terno nem irónico: Angola veio-me com toda a força ao corpo, custa muito, e o Macaco, o condutor, acaba de morrer de uma mina no Ninda: o Ernesto Melo Antunes estava lá e lembra-se. Perguntem-lhe a ele que se lembra. Pus a mão no peito do Macaco e não havia peito, e no entanto nem uma gotinha de sangue. No Ninda sob os eucaliptos um soldado que foi buscar água ao rio deitado na areia à minha frente. Apenas isto. Este foi o primeiro apenas. Podia relatar-vos muitos outros. Podia relatar-vos coisas horríveis, absurdas, cruéis ao ponto de ter vontade de
não escrevo a palavra só que Angola me veio com toda a força ao corpo e eu acuso a guerra de ter mudado a minha vida. É difícil entender mas eu não estava preparado, era novo de mais, se calhar é-se sempre novo demais. Percebam: eu não merecia aquilo. Falo por mim: não sabia como aquilo era e ao saber como aquilo era compreendi que não merecia aquilo. Como nao mereço isto hoje dia 1 de Setembro, dia dos meus anos em que Angola me vio com toda a força ao corpo. Aos que se interessam pelo que escrevo peço desculpa: ia dar-vos uma crónica chamada Emília e uma noites: pensei nela, tinha-a mais ou menos na cabeça
(tanto quanto se pode ter um texto na cabeça visto que depois o texto toma conta da cabeça e faz-se conforme ele, texto, entende)
achava que vocês iam gostar e todavia não consigo: há tanta coisa em mim, tanta metralhadora, tanto morteiro, tanta horrível miséria. Para a próxima garanto que faço os possíveis por vos dar uma crónica como vocês gostam. Hoje não posso: é o dia dos meus anos e Angola veio-me com toda a força ao corpo. Depois de uma paz comprida, depois de imenso tempo de sossego. Claro que passa, claro que amanhã ou depois já estou melhor, os eucaliptos do Ninda desaparecem, tenho de novo a minha idade de agora, deixo de estar no armazém da companhia
(o armazém da companhia era um barraco)
a olhar os caixões e a pensar qual deles iria ser o meu. Lê-se que toda a guerra estava controlada em Angola: a guerra estar controlada era eu contar os mortos. Se calhar não foram muitos: para mim foram de mais. Se calhar a guerra estar controlada tem que ver com um número reduzido de cadáveres: a merda é que eu os vi. Os conhecia. Costumava falar com eles, essas perdas insignificantes. Eu próprio sou uma perda insignificante a falar de perdas insignificantes. um colega médico explicava assim a desordem e a ineficácia dos bancos de urgência dos hospitais
- O doente entrou bem, depois sobreveio-lhe o banco e morreu
Eu também entrei bem: depois sobreveio-me a guerra e. Há tempos, almoçando com o capitão disse-lhe
- Nunca vi ninguém tão corajoso debaixo de fogo como você a passear de lanterna acesa no meio dos abrigos
e ele olhou para mim uma data de tempo
- Sabe? É que às vezes apetecia-me morrer.
Entendem um bocadinho melhor agora? Foi há 24 anos, caramba. Em 1971. É aborrecido fazer anos e receber Angola de presente. Eu sei que vocêsnão têm nada com o assunto e como nunca viram rapazes mortos sob os eucaliptos do Ninda muito menos têm de pagar as favas disso. Perdoem: a próxima crónica será como se habituaram a que seja, como apreciam que seja. Hoje não sou capaz. Tinha pensado numa coisa bem gira chamada Emília e uma noites e agradeço-vos a pachorra de aturarem por tabela Angola com toda a força no meu corpo. Para mais isto deve estar uma porcaria porque nunca escrevi nada tão depressa. Mas agora pergunto: será que se consegue soltar um grito devagar?


António Lobo Antunes, in Livro de Crónicas

27 fevereiro 2004

Ruy Belo


Fotografia de Teresa Belo

Nasceu em S. João da Ribeira, Rio Maior a 27 de Fevereiro de 1933.
Diplomado em Direito pela Universidade de Lisboa, após ter iniciado o curso na Universidade de Coimbra, Ruy Belo partiu para Roma onde se doutorou em Direito Canónico na Universidade de S. Tomás de Aquino. De volta a Lisboa, licenciou-se em Filologia Românica. Além da actividade editorial, Ruy Belo foi ainda professor.
Da sua obra poética fazem parte Aquele Grande Rio Eufrates, Boca Bilingue e Despeço-me da Terra da Alegria.
Faleceu em 1978.


Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido

Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido

E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer

Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer


E Tudo Era Possível, Ruy Belo

26 fevereiro 2004

Há 68 anos

nascia um mito: o Volkswagen Beetle, ou Carocha.

Adolf Hitler decidiu em 1934 financiar um projecto que permitisse ao povo alemão adquirir um automóvel a preço acessível. Este automóvel deveria cumprir Volkswagen 4 objectivos: espaço para toda a família, conforto, potência suficiente para subir montanhas e um chassis polivalente que se pudesse adoptar a diversas carroçarias.

O veículo era adquirido através de um plano de poupança no qual as famílias iam pagando antecipadamente o seu automóvel.

Após vários esboços e protótipos desenhados por Ferdinand Porche, o Carocha nasceu em 1936, sendo construído pela Daimler Benz. Em 1937 esta série de veículos enfrentou uma dura prova de resistência. No final deste ano já tinham percorrido uma distância equivalente a 2.400.000 km, comprovando assim a principal característica do carro: a robustez.

Foi então construída uma fábrica - em Wolfsburg - para fabricar este veículo. Como entretanto eclodiu a 2ª Grande Guerra, a produção do Carocha foi desviada para veículos de uso militar, sendo mais tarde suspensa a produção até ao fim da guerra.

A fábrica de Wolfsburg, entretanto destruída pelos bombardeamentos aliados, foi reconstruída pelos aliados (ficou no sector inglês) e recomeçou a produção do Carocha. Em 1949 o governo inglês entregou a gestão da fábrica a Heinrich Nordorff, um engenheiro que já tinha desempenhado funções na Opel. Este novo gestor foi importante no desenvolvimento do Carocha apetrechando-o de pormenores técnicos avançados para a época.

Shame on you, Mr Bush!

Um relatório catastrófico elaborado pelo Pentágono prevê que o Reino Unido tenha em 2020 um clima semelhante ao da Sibéria e que muitas cidades europeias estarão submersas por essa altura.
Este relatório contraria a política da administração Bush, que tem negado repetidamente que existam quaisquer alterações climáticas... preferindo investir na defesa nacional.

25 fevereiro 2004

Múmias

Foram descobertas no Perú duas múmias com cerca de 700 anos. Estas encontram-se em tão bom estado de conservação que alguns dos seus órgãos estão intactos.
As múmias vão seguir para o Instituto Nacional de Cultura no Perú, para determinar a idade exacta e tentar descobrir como terá sido efectuado o enterro que permitiu a sua conservação até aos dias de hoje.

Sinceramente, não sei porquê tanta surpresa... Basta aparecer nalgumas festas do nosso jet-set para descobrirmos algumas múmias quase com aquela idade. É certo que algumas destas nossas múmias não estarão em tão bom estado de conservação, mas também as plásticas não fazem milagres, não é ?

24 fevereiro 2004

Arte do Dia


Girl with a Pearl Earring

Girl with a Pearl Earring
Johannes Vermeer

23 fevereiro 2004

Comunicado da Abadessa

Queridos fiéis e outros não tão fiéis quanto isso, mas queridos na mesma:

Em primeiro lugar, queria pedir-vos desculpa pela minha ausência. Tenho andado ocupada com trabalho e exames. Além disso, tenho estado um pouco adoentada. Não é nada de grave, mas tem-me tirado algum ânimo. Não costumo estar doente nem gosto da sensação. Fico "murcha", aborrecida, embirrante, impaciente, enfim, fico muito desagradável e o meu lado mais solitário toma conta de mim. Apetece-me o silêncio, o escuro, o sono, a paz.

Sempre entendi este espaço como uma espécie de diário interactivo e não como uma obrigação - se algum dia me sentir obrigada a escrever ou a comentar alguma coisa, esse será o último dia em que vestirei o meu hábito de abadessa - por isso, só venho aqui quando tenho tempo e disposição e só escrevo quando creio ter alguma coisa a dizer. O mesmo se aplica à minha segunda casa virtual, o Dicionário de Baldas.

Hoje escrevo porque tenho novidades. Esta coisa da "blogosfera" é óptima porque se conhece gente boa, pessoas que, de outra forma, talvez nunca chegássemos a encontrar numa vida inteira. Mas também serve para arrastarmos os amigos na enxurrada do nosso entusiasmo e foi isso que aconteceu. Assim, gostaria de dar as boas vindas a um novo "blog", mantido por uma pessoa que tenho a honra de contar entre o meu grupo de amigos, o meu querido Micas.

Em segundo lugar, gostaria de esclarecer que não estou zangada com o meu abade e que a minha "blogofobia" se deve única e exclusivamente às razões que já indiquei.

Finalmente, gostaria de enviar beijos grandes e gordos a todos vós, acompanhados do meu pedido de desculpas por não ser uma pessoa mais atenta e assídua.

1928-1987


Daisy, c. 1982 (Blue on Blue)
Daisy, c. 1982 (fuschia & yellow)
Daisy, c. 1982 (Blue & Red)
Andy Warhol

1929-1987

A formiga no carreiro
Vinha em sentido cantrário
Caiu ao Tejo
Ao pé dum septuagenário
Larpou trepou às tábuas
Que flutuavam nas àguas
E de cima duma delas
Virou-se prò formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro

A formiga no carreiro
Vinha em sentido diferente
Caiu à rua
No meio de toda a gente
Buliu buliu abriu as gâmbias
Para trepar às varandas
E de cima duma delas
Virou-se prò formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro

A formiga no carreiro
Andava a roda da vida
Caiu em cima
Duma espinhela caída
Furou furou à brava
Numa cova que ali estava
E de cima duma delas
Virou-se prò formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro


Zeca Afonso, A formiga no carreiro (do álbum Venham mais Cinco)

Estou velho

Estou a ficar velho. Ontem apercebi-me disso.
Para verem o quão velho sou ... eu ainda sou do tempo em que o Benfica lutava para ser campeão nacional e não se contentava com a luta pelo 2º - ou mesmo o 3º - lugar.

21 fevereiro 2004

21 Gramas

Ontem à noite fui ver o filme 21 Gramas.
Adorei o filme. Adorei o argumento. Apesar de no início parecer um pouco confunso, a pouco e pouco a história desenrola-se e começa a fazer sentido.
Excelentes interpretações dos 3 actores mais consagrados: Sean Penn, Benicio Del Toro e Naomi Watts - estes dois últimos nomeados para um Óscar por esta interpretação.

20 fevereiro 2004

Hoje

tive um dia super atarefado.
Não fui trabalhar mas tive mil e uma coisas a resolver. Fiquei muito surpreendido pela rapidez com que na Loja do Cidadão tratei da renovação do BI e da substituição da carta de condução - estava farto de olhar para um puto de 18 anos com uma poupa à Bros.
Numa hora, comprei diversos impressos, preenchi diversos impressos, entreguei diversos impressos e - last, but not least - recebi vários impressos. No meio das trocas e baldrocas de impressos para aqui, impressos para ali... tratei das coisas e agora resta-me esperar 8 dias úteis pelo BI e 2 meses pela nova carta - desta vez sem uma fotografia de um puto de 18 anos, mas com uma de um iniciante trintão sonolento com ar de quem dormia muito mais se o deixassem.
De volta a casa, estive a tratar de pôr umas coisitas em ordem, pintar aqui, ver o que a gata andava a fazer, esfregar acolá, ver o que a gata andava a fazer, lavar além, ver o que a gata andava a fazer, tirar a gata de dentro da banheira, sentar-me um pouco a descansar, fazer festas na gata... enfim. Até que enfim que é Sexta-feira!!!!!!!!!!

19 fevereiro 2004

Noutra banca perto de si ...


Revista Camané

Numa banca perto de si...


Revista Amélia

Globalização

A globalização também se faz sentir na atitude de certas pessoas ao volante de um automóvel. Este caso passou-se na Alemanha. Poderia muito bem ter-se passado em Portugal.
O resultado seria muito provavelmente o mesmo, mas a condenação seria substancialmente diferente em Portugal, porque dificilmente haveria qualquer condenação.

Pelo 7º aniversário da sua morte

Todo o tempo é de poesia

Desde a névoa da manhã
à névoa do outo dia.

Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia

Todo o tempo é de poesia

Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas qua amar se consagram.

Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.

Todo o tempo é de poesia.

Desde a arrumação ao caos
à confusão da harmonia.


António Gedeão, Tempo de Poesia

18 fevereiro 2004

Lisboa Alerta

No Diário de Notícias

Os lisboetas têm um novo número a apontar nas agendas telefónicas. 808 20 32 32 é a combinação a marcar sempre que o cidadão detecte uma pequena anomalia na via pública, cujo arranjo seja da responsabilidade da câmara. O serviço Lisboa Alerta, agora apresentado por Santana Lopes, foi criado para resolver pequenos incómodos diários, como os buracos no passeio, as sarjetas entupidas, os dejectos de cães, ou os chamados monstros abandonados perto dos contentores do lixo. O arranjo pode ser solicitado por qualquer pessoa, pelo telefone, ou pelos Olheiros-smart, carros de vigia que andam pela cidade à procura de falhas. Dado o alerta, entram em acção as equipas especializadas, envolvendo cerca de duzentos profissionais. Agindo sob o lema 'Estamos cá para o ajudar', o Lisboa Alerta pretende melhorar a qualidade de vida , contando com a participação activa dos munícipes. Santana Lopes dá o exemplo, garantindo que será dos maiores utilizadores do serviço, pois estes pequenos problemas abundam em Lisboa e não devem ser ignorados. Para o autarca, manter Lisboa bonita é uma tarefa de todos, e «é uma questão de brio e de decência», a favôr de moradores, mas também de turistas: «Não é por causa do Euro 2004, ou do Rock in Rio, é por causa de todos os que nos visitam».

Lisboetas (e visitantes) toca a ligar para o número em questão. Resta saber é se a chamada dá origem a qualquer acção por parte da Câmara de Lisboa para corrigir a causa do telefonema... mas isso são contas de outro rosário.

17 fevereiro 2004

Gothika

Acabei agora de ver este filme. Gostei. Quem gostou d'O Aviso vai gostar deste. É o mesmo género.
A lindíssima Halle Berry e a não menos bonita Penélope Cruz acompanham Robert Downey Jr. neste thriller paranormal.
A grande supresa do filme é a participação do Robert Downey Jr. - provavelmente num intervalo entre detenções ...

Quem fala assim

não é gago... é estúpido.

"Natural gas is hemispheric. I like to call it hemispheric in nature because it is a product that we can find in our neighborhoods."
George W. Bush, Dec. 20, 2000

"Sometimes when I sleep at night I think of (Dr. Seuss's) 'Hop on Pop."
George W. Bush, in a speech about childhood education, Washington, D.C., April 2, 2002

"My answer is bring them on."
About Iraqi militants attacking U.S. forces, George W. Bush, Washington, D.C., July 3, 2003

"See, free nations are peaceful nations. Free nations don't attack each other. Free nations don't develop weapons of mass destruction."
George W. Bush, Milwaukee, Wis., Oct. 3, 2003

Finalmente

a resposta às minhas preces. Uma boa notícia e um bom investimento. Já só falta fazer uma sociedade com o Marquês TNT e juntos empreendermos esta hercúlea tarefa de trazer esta jóia para casa.

16 fevereiro 2004

Segunda-Feira

Cá estamos em mais um início de semana. Tenho andando com pouco tempo para escrever devido a alterações no meu local trabalho e no projecto onde estou inserido. Nem tenho tido muito tempo para saber o que se passa no mundo, mas pelo que vi... continua tudo na mesma, não há nada de novo. O Santana Lopes continua a colocar-se em bico de pés para Belém, o Benfica empatou com o Porto, o Estrela da Amadora empatou em casa e continua a sua bem sucedida caminhada rumo à 2ª Liga, os arguidos do caso Casa Pia continuam presos, o Paulo Portas não perde uma oportunidade de ir à televisão, alguns ministros desejam a remodelação do Governo, o G.W.Bush quer continuar na senda de destruição das armas de destruição maciça, tudo na mesma, portanto.
Entretanto, fui ver na sexta-feira (mais a abadessa - claro está) o "Lost in translation". Gostei muito do filme. Acho que vale a pena ir ver.
No sábado, dia dos namorados, onde quer que nos deslocássemos, só víamos casais agarrados, abraçados, aos beijos... Mas onde é que eles se metem durante os outros 364 dias do ano?

13 fevereiro 2004

Estatística

  • 45% das mulheres preferem fazer amor no escuro.

  • 55% das mulheres dormem nuas.

  • 56% das mulheres preferem fazer amor de manhã.

  • 86% das mulheres nunca fizeram amor na banheira.

  • 99% das mulheres pretendem nunca fazer amor no escritório.

  • 100% das mulheres sonham fazer amor no meio da natureza.


  • Conclusão:
    Parece ser estatisticamente muito mais fácil dar a volta a uma mulher no meio dum bosque de manhã, do que à noite no escritório.
    Por essa razão, não vale a pena ficar a trabalhar noite dentro no escritório...

    Foi há 39 anos...

    General Humberto DelgadoA PIDE, que já no Brasil fizera uma tentativa de assassinar Delgado, infiltrou certos círculos da oposição mantendo uma apertada vigilância sobre todos os movimentos do líder da oposição portuguesa no exílio.

    Uma intensa campanha de descrédito e de isolamento, alimentada pelos serviços secretos, fomentou, gradualmente, ao longo de um período de cinco anos, a criação de uma rede de informadores que conseguiu obter a confiança do General. Foi assim que ele consentiu no encontro de Badajoz.

    Convencido que se ia reunir com "oficiais portugueses" interessados em derrubar o regime, Delgado foi de facto ao encontro da morte. Uma brigada da PIDE chefiada pelo inspector Rosa Casaco atravessou a fronteira utilizando passaportes falsos, a fim de montar a cilada que vitimaria o General e a sua secretária brasileira, Arajaryr Moreira de Campos.

    13 de Fevereiro de 1965 é a data do encontro fatídico, marcado para os Correios de Badajoz, donde aliás enviou quatro postais para quatro amigos em quatro países diferentes e assinados com o nome de sua irmã - Deolinda. O objectivo do envio destes postais correspondia a um código, previamente combinado, que significava: "estou vivo e não estou preso". Foi o último sinal de vida e por isso aquela data é considerada a data do seu assassinato que se pressupõe ter ocorrido perto de Olivença.

    Durante dois meses de especulações e de mentiras deliberadas da imprensa portuguesa nada se soube de Delgado. A pedido do Professor Emídio Guerreiro em Paris, a Federação Internacional dos Direitos do Homem enviou a Espanha uma delegação composta por um escocês, um italiano e um francês. Estes foram confrontados com uma muralha de silêncio em Espanha. No entanto, após o seu regresso a Paris, a 24 de Abril de 1965, os membros da delegação puderam ler nos jornais as notícias da descoberta dos dois cadáveres numa campa rasa quase à superfície, perto da aldeia de Villanueva del Fresno , num caminho conhecido por Los Malos Pasos.

    O processo contra os agentes da PIDE implicados no duplo crime só foi possível após a revolução de 25 de Abril de 1974, concluindo com sentença condenatória do Tribunal Militar em 1981, embora nenhum dos réus tenha cumprido um único dia de prisão.

    Em 1990 Humberto Delgado foi promovido a título póstumo a marechal da Força Aérea, e os seus restos mortais foram trasladados para o Panteão Nacional.

    Extraído do site Fundação Humberto Delgado

    Feliz Sexta-Feira 13


    12 fevereiro 2004

    Momento de Poesia II

    Segue o teu destino,
    Rega as tuas plantas,
    Ama as tuas rosas.
    O resto é a sombra
    De árvores alheias.

    A realidade
    Sempre é mais ou menos
    Do que nós queremos.
    Só nós somos sempre
    Iguais a nós-próprios.

    Suave é viver só.
    Grande e nobre é sempre
    Viver simplesmente.
    Deixa a dor nas aras
    Como ex-voto aos deuses.

    Vê de longe a vida.
    Nunca a interrogues.
    Ela nada pode
    Dizer-te. A resposta
    Está além dos deuses.

    Mas serenamente
    Imita o Olimpo
    No teu coração.
    Os deuses são deuses
    Porque não se pensam.


    Segue o teu destino, Ricardo Reis

    11 fevereiro 2004

    (...)

    Jovem!!!

    Tens mais de 18 anos ??
    Tens gosto pela língua que falas?
    Sabes ler ?? (se não souberes, não faz mal - vês os desenhos)

    Gostas de aprender o significado das palavras ??

    Alista-te!! Perdão... Visita este Dicionário! Não te Baldes!!

    Conversa de Café

    Agora, quando fomos beber o terceiro café da manhã:

    Um colega: Pá, ainda não fiz nada hoje.
    Resposta pronta de outro: Queres ajuda !?

    Mini-post

    Essa peça, hoje tão vulgar como sexy - e esta é uma opinião pessoal - foi criação de Mary Quant, uma estilista inglesa que nasceu há precisamente 70 anos. Mary chegou mesmo a ser distinguida com a Ordem do Império Britânico, pelo seu contributo para o mundo da moda.
    A mini-saia, inventada - através de uma tesourada num vestido que usava a modelo Twiggy - em 1965, continua ainda hoje a fazer a delícia de homens e mulheres. É que, e isto é outra opinião pessoal, é muito mais sensual ver um pouco e ir descobrindo o resto, que ter logo ali tudo ao alcance da vista. Como diria o João Melo: "Eu gosto é do Verão"...

    Arte do dia


    São Vicente

    (Painéis de São Vicente de Fora ou Veneração de São Vicente, Portugal, 2ª metade do séc. XV. Obra atribuída à oficina de Nuno Gonçalves, pintor régio de D. Afonso V, cuja actividade se encontra documentada entre 1450 e 1492. Em exposição permanente no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa)

    De uma janela no Tempo, a sociedade portuguesa do séc. XV espreita os seus descendentes com incessante curiosidade. Todas as classes estão representadas neste políptico, pois todas haviam sido convocadas para a missão de construir um novo país, um novo reino, um império. Era a vontade de Deus. Era a vontade do rei. Era a vontade de todos, embora as motivações que conduziam a uma memsa Vontade fossem muito diferentes entre si.

    Valeu a pena? Como disse o poeta, tudo vale a pena se a alma não é pequena. Cometeram-se grandes injustiças, crimes atrozes que não podem e não devem ser esquecidos. Não se descobriu absolutamente nada, mas redescobriram-se os homens noutras raças, noutras tarefas, noutras responsabilidades e circunstâncias, noutros conhecimentos.

    Não se deram novos mundos ao mundo, porque eles já existiam e o facto de a toda poderosa Europa não ter deles conhecimento não punha em causa a sua existência, mas revelaram-se a aprenderam-se culturas e modos de vida diferentes. Se muitos não tivessem sido aniquilados em sangue e sombra, como escreveu Neruda, não tenho quaisquer dúvidas de que hoje todos seríamos muito mais ricos.

    Mas é este precisamente o último território a conquistar e também o mais difícil: respeitar o nosso semelhante e, em vez de fugir da diferença, procurar aprender com ela.

    10 fevereiro 2004

    (...)

    Voltei ao trabalho hoje para ser recebida com a notícia de que um colega meu morreu este fim de semana num acidente de mota, na zona do Parque das Nações.

    Tinha 29 anos.

    O irmão ia atrás, de carro e assistiu a tudo.

    Causa provável: excesso de velocidade.

    Até quando?

    Música do Dia

    Coldplay, The Scientist

    Come up to meet ya, tell you I'm sorry
    You don't know how lovely you are
    I had to find you, tell you I need ya
    And tell you I set you apart
    Tell me your secrets, and nurse me your questions
    Oh lets go back to the start
    Running in circles, coming in tails
    Heads on a science apart
    Nobody said it was easy
    It's such a shame for us to part
    Nobody said it was easy
    No one ever said it would be this hard
    Oh take me back to the start
    I was just guessing at numbers and figures
    Pulling the puzzles apart
    Questions of science, science and progress
    Do not speak as loud as my heart
    And tell me you love me, come back and haunt me
    Oh and I rush to the start
    Running in circles, chasing tails
    Coming back as we are

    Nobody said it was easy
    Oh it's such a shame for us to part
    Nobody said it was easy
    No one ever said it would be so hard
    I'm going back to the start

    Ooooohhhhhhh



    Não tenho tido muito tempo, por isso as minhas desculpas.

    08 fevereiro 2004

    Deve chamar-se tristeza

    Deve chamar-se tristeza
    Isto que não sei que seja
    Que me inquieta sem surpresa
    Saudade que não deseja.

    Sim, tristeza - mas aquela
    Que nasce de conhecer
    Que ao longe está uma estrela
    E ao perto está não a Ter.

    Seja o que for, é o que tenho.
    Tudo mais é tudo só.
    E eu deixo ir o pó que apanho
    De entre as mãos ricas de pó.


    Deve chamar-se tristeza, Fernando Pessoa

    07 fevereiro 2004

    Arte do dia


    Cat named sam


    Cat Named Sam, Andy Warhol

    06 fevereiro 2004

    Messe

    Uma colega convidou-me para o jantar dos seus 40 anos. Quando eu perguntei onde era o restaurante, respondeu-me que será numa base da força aérea...Será que as nossas forças armadas já organizam jantares? O próximo passo será organizar casamentos e baptizados? Será que a ideia partiu da nossa ministra das finanças?

    Eu vou, só para ver como será, mas desde que não me obriguem a comer rancho.

    Gustav Klimt


    Music by Gustav Klimt

    Klimt nasceu em 1862 em Baumgarten, perto de Viena de Áustria. Morreu há 86 anos, a 6 de Fevereiro de 1918, vítima de uma pneumonia.

    05 fevereiro 2004

    Leituras

    Contos Apátridas - Edições ASA

    Comprei este livro no fim de semana, devidamente acompanhado pelas "Íntimas Suculências" de Laura Esquivel e pelo "Frei Luís de Sousa" de Almeida Garrett - que apesar de conhecer minimamente a narrativa, infelizmente, nunca li.
    Tenho estado a ler este "Contos Apátridas" intervalado com o "Coca-Cola Killer", do Maestro António Vitorino de Almeida - indicado por um amigo - e estou a adorá-lo. Já li dois dos cinco contos que o compõem. Cinco escritores. Cinco contos. Um livro a ler.

    Captain's log 20040205

    E pronto! Mudou a Direcção! Os novos Presidente e VP andaram a conhecer os cantos à casa e cativaram toda a gente. Como me disse uma colega, demonstraram a vontade e a humildade de querer aprender.

    O VP convidou-me para o assessorar e disse-me que poderei, em paralelo, manter o projecto de trabalho que venho a desenvolver já desde há 10 anos. Além disso, quer dar-me isenção de horário e um aumento simpático de ordenado. Fiquei contente, claro, apesar de abadessa também vivo no mundo real, também tenho despesas.

    Há pouco chamou-me para que eu lhe explicasse o circuito habitual dos documentos. Ficou visivelmente impressionado, não no melhor sentido. Acho que finalmente teve um momento de epifania e lhe foi revelado o verdadeiro sentido da burocracia.

    Do ponto de vista humano, tem sido excepcionalmente bem educado, atencioso, gentil. As perspectivas parecem boas. Espero que se concretizem. Trabalho numa casa antiga e de grande prestígio mas que, nos últimos tempos, também tem experimentado o sabor da crise. Já é hora de alguém tratar de a reabilitar. Espero que seja agora.

    O civismo à moda da casa

    Pode dizer-se em suma que Portugal é um dos mais belos, um dos melhores, um dos mais agradáveis países do mundo, mas habitado por uma gente que o não merece

    Ah! Tanto que haveria para dizer sobre a falta de civismo dos portugueses, mas desconfio que todo o tempo do mundo (que eu não tenho) não seria suficiente. São tantas as variantes, desde o inocente papel atirado para o chão, até ao estado caótico dos poucos sanitários públicos que ainda subsistem na cidade de Lisboa; desde a beata atirada para a berma da estrada para não sujar o cinzeiro do carro, até à lata de Sagres semi-enterrada, à laia de armadilha, no areal da Caparica, quase sempre acompanhada da casca de melão e da embalagem de iogurte que dizem adeus às caixas de margarina e aos frascos de bronzeador que flutuam nas ondas para onde foram atirados por pessoas iguaizinhas a nós, com as quais todos os dias nos cruzamos na rua, no elevador, nos transportes, no banco, no supermercado, no café.

    Pessoas que, sendo aparentemente iguais a nós, sofrem de uma grave enfermidade que se traduz por uma estreitíssima noção de propriedade, que as leva a considerar como seus a casa onde vivem, o carro e alguns haveres pessoais, que quase sempre estimam, muitas vezes muito para além do que seria razoável (veja-se, a título de exemplo, o esmero exacerbado com que alguns homens tratam os seus automóveis, chegando ao extremo de lhes dedicar um dia inteiro na semana – quase sempre, o Domingo, mas desde que não haja futebol – durante o qual aspiram, limpam, sacodem e puxam o brilho com gestos lânguidos, como se estivessem a fazer festinhas ao possante bólide). Estas mesmas pessoas, costumam demonstrar um absoluto desprezo pela propriedade alheia e até por aqueles locais que o senso comum (e os impostos que alguns de nós teimam em pagar) diz serem de utilização colectiva, para usufruto e benefício de todos.

    Estas pessoas são doentes. A falta de civismo é uma doença e precisa ser tratada. Como? Sugiro que se contrate a EMEL para, ao invés de verificar a mesma fila de carros indevidamente estacionados 697 vezes seguidas, começar também a observar o comportamento destes transeuntes e a aplicar-lhes multas pelo indecente comportamento cívico que muitas vezes fazem questão em exibir, quase como se tivessem orgulho em ser assim.

    Quando, em 1730, o viajante César de Saussure escreveu a frase que citei, certamente não esperava que, passados 274 anos, as suas impressões de Portugal e, sobretudo, dos Portugueses continuassem tão válidas e actuais.

    Blogs em discussão

    no Fórum Económico Mundial.

    "(...)Os blogues estão a transformar os consumidores de conteúdos mediáticos em produtores desse tipo de conteúdos - referiu Jay Rosen, responsável pelo Departamento de Jornalismo e Comunicação de Massas da Universidade de Nova Iorque, segundo a informação disponibilizada pela organização do sítio do Fórum na Web ( www.weforum.org ). "É um desenvolvimento radical incrível, o mais excitante que vi na minha carreira como intelectual e crítico", afirmou Rosen.

    O crescimento deste fenómeno criou uma "cadeia alimentar de informação", referiu Joi Ito, "chief executive officer" (CEO) da empresa Neoteny. No topo, encontram-se os "poderosos", uma elite lida diariamente por milhares de pessoas; seguem-se os blogues de "redes sociais", interessados em certas temáticas ou regiões. Na base, encontra-se "uma vasta galáxia de obscuros blogues", com poucos acessos diários. Mas existirá um fenómeno de realimentação entre todos eles, que poderá mesmo acabar por levar certos temas aos média tradicionais.

    Assim, para Ito, apesar de os "bloggers" mais conhecidos receberem mais atenção, a "força vital" do fenómeno estará na base, naqueles que descobrem e apresentam conteúdos originais. Nesse sentido, Loïc Le Meur, fundador da empresa francesa Ublog, salientou que os blogues poderão ter o mesmo impacto (ou maior) nos média tradicionais que o Napster teve na indústria discográfica: "O Napster apenas tornou possível a cópia de músicas. Mas um 'blogger' pode acordar todos os dias e ter uma boa ideia - uma ideia que poderá desviar as atenções da imprensa tradicional (...)"


    Continue a ler este artigo no Público!

    Uso Pessoal

    Mas isto é notícia?
    Não é isso que tem sido feito até agora?

    Nascimento ... avantajado

    "Nascido a 1 de Janeiro de 2004 pelas 12:30 horas com cerca de 90 quilos, o primeiro bebé elefante nascido em Portugal é a nova atracção do Jardim Zoológico de Lisboa" in DD.

    Ah...pois...

    o que não vale aparecer assiduamente na televisão.

    04 fevereiro 2004

    O seio da discórdia

    O seio da Discórdia

    (...)

    Quando eu nasci, a minha mãe já não trabalhava mas, quando eu tinha cerca de três anos, resolveu recomeçar a trabalhar a meio-tempo. Foi quando conhecemos a Maria do Rosário, Magá, na minha linguagem atabalhoada de criança. E Magá ficou para mim, para a minha mãe e para a minha irmã. O que dizer da Magá? Gostava de estar com ela, gostava tanto que fugia para ir ter com ela. Um dia, enquanto ela se despedia dos meus pais à porta de casa, eu resolvi escapulir-me escadas abaixo para ir para casa da Magá. Mas as escadas eram bastante estreitas e as botas ortopédicas não ajudaram e lá fui eu, escadas abaixo. O estrondo fez com que o meu brilhante plano tivesse uma curta existência e acabei por ir com a Magá sim, mas até ao hospital, para que me cosessem o queixo...

    A Magá era generosa, boa, simples. Se é possível comparar as pessoas a paisagens, então a Magá seria um dia de sol, um céu perfeito, uniforme e brilhante no seu azul, sobre um mar cristalino, morno, verde-esmeralda, onde nunca se perde o pé.

    Nos últimos anos, a Magá tinha ido viver para o seu querido Alentejo – era uma exilada na cidade que aquecia o ânimo com histórias e cantigas de outros tempos, de outro mundo que eu fui conhecendo através dela. Sempre gostei de ouvir cantar. Sempre gostei de ouvir histórias. E as que a Magá me contavam tinham um saber ancestral e misterioso que só redescobri muitos anos mais tarde quando trabalhei na recolha de algumas lendas tradicionais portuguesas. Falavam de mouras encantadas e de grutas misteriosas, de poços sem fundo e de tesouros escondidos, de serras povoadas de fantasmas e de pedras que choram. Muitas vezes adormeci ao som das suas canções. Muitas vezes as suas histórias me transportaram a mundos fantásticos, que eu nem sonhava que existiam, num recanto qualquer das nossas imaginações, da dela que nunca me contava a mesma história exactamente da mesma maneira, e da minha que reproduzia imagens que só eu podia ver.

    Não quis que nos avisassem de que estava doente. Quando os tratamentos a obrigaram a voltar para Lisboa, nunca nos disse que aqui estava, sempre nos deixou acreditar que continuava lá, nas terras do sol e do pão. Quando o cabelo lhe caiu, deixou de sair de casa. Não suportava os olhares de pena que as pessoas lhe dirigiam. Proibiu o marido de nos dizer que tinha morrido até que o funeral estivesse terminado. Ele cumpriu. Compreendo a sua decisão, mas não me conformo. Queria tê-la visto mais vezes. É sempre assim – nunca temos tempo suficiente com as pessoas de quem gostamos. Ficamos sempre frágeis e infantis quando alguém nos morre. É uma parte do nosso passado que desaparece, é menos uma pessoa neste mundo a amar-nos. Ficam as memórias, fica tudo o que aprendemos, mas fica também uma grande tristeza, que o tempo vai atenuando e que se vai tornando mais suave, tal como as rochas que a água foi aos poucos esculpindo.

    Onde quer que a Magá esteja, espero que esteja em paz. Se algumas coisas perduram para lá da vida, então que a dor não seja uma delas.

    A Magá morreu

    A minha mãe telefonou-me para me dizer que a Magá morreu. Cancro na coluna, fulminante. Não quis que ninguém soubesse. Não quis visitas no hospital, não quis ninguém presente no funeral. Morreu uma parte da minha infância. Mais tarde falarei sobre ela, agora não consigo.

    Lamento tanto não ter estado com ela, mas compreendo tão bem a sua decisão.

    Citação do dia

    A história é o reportório de tudo o que se tem passado sobre a Terra. A literatura, essa, é o testemunho de tudo o que se tem passado no coração dos homens.
    (Claude Roy)

    Verdes os olhos....dela

    (...) Um vulto feminino que viesse sentar-se àquele balcão - vestido de branco - oh! branco por força... a frente descaída sobre a mão esquerda, o braço direito pendente, os olhos alçados ao céu... De que cor os olhos?(...)
    - Os olhos, os olhos... - disse eu pensando já alto, e todo no meu êxtase - os olhos... pretos.
    - Pois eram verdes!
    - Verdes os olhos... dela, do vulto da janela?
    - Verdes como duas esmeraldas orientais, transparentes, brilhantes, sem preço.
    - Quê! pois realmente?... É gracejo isso, ou realmente há ali uma mulher, bonita, e?...
    - Ali não há ninguém - ninguém que se nomeie hoje, mas houve... oh! houve um anjo, um anjo, que deve de estar no céu.
    - Bem dizia eu que aquela janela...
    - É a janela dos rouxinóis.
    - Que lá estão a cantar.
    - Estão, esses restam ainda como há dez anos - os mesmos ou outros, mas a menina dos rouxinóis foi-se e não voltou.
    - A menina dos rouxinóis! que história é essa? Pois deveras tem uma história aquela janela?
    - É um romance todo inteiro, todo feito como dizem os franceses, e conta-se em duas palavras.
    - Vamos a ele A menina dos rouxinóis, menina com olhos verdes! Deve ser interessantíssimo. Vamos à história já. (...)
    Já se vê que este diálogo passava entre mim e outros companheiros de viagem.
    Apeámo-nos com efeito; sentámo-nos; e eis aqui a história da menina dos rouxinóis como se contou(...)

    in Viagens na Minha Terra, Almeida Garrett

    João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu no Porto a 4 de Fevereiro de 1799. Em 1809 partiu para a ilha Terceira por causa das invasões francesas. Aí recebe de um tio, bispo de Angra do Heroísmo, uma educação religiosa e clássica. Matricula-se no curso de Direito em Coimbra e adere às ideias liberais e começa a escrever algumas peças de teatro. Com a Vila-Francada, exila-se em Inglaterra, onde contacta com a literatura romântica (Byron e Walter Scott). Em 1825 publica em Paris Camões, obra marcante para o Romantismo português. Após a guerra civil, é nomeado cônsul geral em Bruxelas. Estuda a língua e a literatura alemãs (Herder, Schiller e Goethe). Regressa a Portugal em 1836 e Passos Manuel encarrega-o de reorganizar o teatro nacional, nomeando-o inspector dos teatros. Publica várias peças de teatro: Um Auto de Gil Vicente (1838), O Alfageme de Santarém (1841), Frei Luís de Sousa (1843), Falar Verdade a Mentir (1845), entre outras. Publica os romances Arco de Santana (1845) e Viagens na Minha Terra (1846), assim como os livros de poemas Flores sem Fruto (1845) e Folhas Caídas (1853). Morre a 9 de Dezembro de 1854 em Lisboa.
    Biografia extraída do site Projecto Vercial

    Vá para fora cá dentro,

    ou faça campismo na sua casa. Com o patrocínio do Gás Natural.

    "Dias a fio a mastigar sanduíches, frango assado e refeições pré-congeladas, com banhos tomados em casa dos amigos ou água aquecida no micro-ondas. Dias a fio em que o conforto doméstico não difere muito do de um parque de campismo." in Público.

    03 fevereiro 2004

    Nem tanto ao mar...

    O príncipe Felipe de Espanha (futuro Felipe V) fez aninhos – feliz aniversário, alteza! Esta republicana ao invés de se curvar, estica-se para vos dar um respeitoso e arrochado beijo na vossa real bochecha, de aspecto sadio e determinado – e decidiu festejá-los nas Astúrias, supostamente a terra natal da sua noiva da qual não me recordo o nome, mas que também é muito engraçada e elegante. E eis que ambos surgem em Covadonga, a prestar os seus respeitos à virgem que terá aparecido ao rei Pelagio no séc. VIII a anunciar-lhe o apoio dos Céus na luta contra os Infiéis que dominavam a grande maioria da Península Ibérica, à excepção do pequeno reduto das Astúrias, de onde, após a batalha de Covadonga em 722, partiu a Reconquista que só terminaria em 1492, com a tomada do belíssimo reino de Granada.

    Ora, os jornalistas portugueses encarregues da “notícia” (as aspas aparecem porque não sei até que ponto o aniversário do príncipe, apesar de simpático e bem parecido, será digno dessa designação, mas nos tempos que correm e depois de pelo menos 4 edições do “Big Brother, muitos conceitos se modificaram...) fizeram questão de frisar a importância de Covadonga para a História de Espanha. Pois bem, meus caros, nem tanto ao mar, nem tanto à terra, digo eu. Covadonga foi importante para a História peninsular, porque os reinos de Portugal e Espanha tiveram origem numa raiz comum, numa mesma nobreza visigótica, que, por convicção, espírito de sobrevivência, religião, ou pura carolice, enfrentou o poderio muçulmano e conseguiu, a pouco e pouco, conquistar espaço e poder. Nesse sentido, Covadonga não é apenas importante para a História de Espanha, também o é para a História de Portugal, eco de uma época em que Aljubarrota ainda nem sequer era sonhada.

    Quer queiramos quer não, e a menos que nos tornemos na tal jangada de pedra de que fala o padrinho deste “blog”, partilhamos esta Península com Espanha. Além do espaço físico, partilhamos História e cultura. Até quando vamos continuar a separar o inseparável? Um dia chegará em que a História será estudada e avaliada numa perspectiva universal, até lá, vamos pelo menos apreciá-la de uma perspectiva peninsular – acreditem que as nossas armas e os nossos barões nada ficarão a perder com isso.
    Um amigo aconselhou-me a escrever esta história. Há muito tempo que não me lembrava dela, mas veio-me à memória na 6ª feira passada, enquanto falava com esse amigo. Então, para ele e para o Tiago que está prestes a começar uma vida nova, aqui vai.

    Há uns anos, viajava de autocarro na carreira nº 49 da Carris, que faz a ligação entre Alvalade e Restelo. Devia vir do Museu das Janelas Verdes, quase de certeza absoluta. Algures em Alcântara, um rapaz que viajava de pé caiu para o chão e começou a contorcer-se e a deitar espuma pela boca. As pessoas em redor afastaram-se institintivamente. Estávamos a passar perto da esquadra da PSP de Alcântara e o condutor parou o autocarro e, com a maior frieza imaginável, como se já tivesse visto aquela mesma cena vezes suficientes para saber como agir, dirigiu-se ao rapaz e, aos pontapés, atirou-o do autocarro. Depois saiu também e arrastou-o até perto da esquadra. Sem uma palavra voltou para o autocarro. Sem uma palavra, retomou o percurso. Nós, os passageiros, ficámos estupefactos, a olhar uns para os outros, incrédulos do que acabávamos de presenciar.

    Não sabia se estava a sonhar, mas lembro-me de me levantar e protestar qualquer coisa em voz alta. O condutor limitou-se a encolher os ombros. A pessoa que estava comigo puxou-me e fez-me sinal para me voltar a sentar. Não sei se mais alguém disse alguma coisa, para ser sincera.

    Hoje, muitos anos depois, sei que deveria ter descido também do autocarro. Sei que deveria ter acompanhado o rapaz. Sei que deveria ter protestado. Sei que deveria ter anotado a matrícula do autocarro e apresentado queixa formal do motorista. Sei que deveria ter feito mais qualquer coisa do que dizer meia dúzia de palavras ôcas já depois de o autocarro ter arrancado. Sei que deveria ter sido menos cobarde, menos acomodada. Se calhar, fui preconceituosa...Fui de certeza pouco corajosa.

    Muitos de nós continuam a pensar na droga – e, atenção, ninguém soube ao certo se o rapaz era drogado. Creio que todos partimos desse princípio, devido à idade e ao aspecto. O velho preconceito sempre à nossa volta! – como um vício, em vez de uma doença. Outros dizem que se trata de uma doença auto-infligida e, como tal, os drogados são uma espécie de doentes “de segunda”, que não merecem o mesmo tratamento, a mesma atenção.

    E eu pergunto: quantas doenças, além da toxicodependência, podem ser auto-infligidas? Ou melhor, quantas formas de toxicodependência se conhecem? Sabemos que o tabaco mata e, no entanto, continuamos a fumar. Sabemos que o álcool mata, e no entanto continuamos a beber. Consumimos gorduras, vivemos em permanente estado de ansiedade, tomamos comprimidos para tudo e mais alguma coisa, não vamos ao médico regularmente, descuramos o nosso corpo todos os dias. A diferença é que existem “vícios” consentidos, bem tolerados socialmente e até incentivados e outros que são pontapeados para fora das nossas vistas como coisas vergonhosas.

    Até quando?

    02 fevereiro 2004

    Arte do Dia


    Whistler's Mother

    "Whistler's Mother"
    James Whistler
    Museu d'Orsay, Paris

    Qualquer semelhança entre este quadro e um outro pintado pelo Mr. Bean (Rowan Atkinson), é pura coincidência.

    A nossa vida daqui a uns anos...

    Telefonista: "Pizza Hot, Bom dia."
    Cliente : "Bom dia, quero encomendar uma pizza sff"
    T: " Pode me dar o seu NIDN,sff ?"
    C: " Com certeza, o meu número de identificação nacional, é 6102049998-45-54610."
    T: "Muito obrigado Sr Jaquim. A sua morada é Rua do Meio à Lapa, Nº 17, e o seu número de telefone é 555962366, o seu número do trabalho na Contruções Abrantes, Lda é o 555952302 e o seu portátil é 992662566. De que número é que o Sr ligou ?"
    C: "Eu? Estou em casa. Onde foi buscar essas informações todas?"
    T: "Nós estamos ligados em rede ao Sistema."
    C: (Suspiro) "Ai sim ! Eu queria encomendar duas pizzas com extra queijo e camarão..."
    T: "É capaz de não ser boa ideia."
    C: "Desculpe!!! ?"
    T: "Consta na sua ficha médica que sofre de hipertensão e de um nível muito alto de colesterol, além disso o seu seguro de vida desaconselha vivamente escolhas perigosas para a sua saúde."
    C: "Pois é ...tem razão! O que é que me propõe ?"
    T: "Porquê que não experimenta a nossa pizza Light com iogurte de soja, tenho a certeza que vai adorar."
    C: "Como é que sabe que vou adorar!!!?
    T: "O Sr. consultou o site ``Receitas de Soja´´na biblioteteca municipal dia 15/01 às 14h32 onde permaneceu ligado à rede durante 36 minutos, daí a minha sugestão."
    C: "Pronto está bem!. Dê me duas pizzas familiares, quanto é?"
    T: "É a escolha certa para si , a sua esposa e respectivos 4 filhos, são €49,99 ."
    C: "Quer o meu número de cartão de crédito?"
    T: "Lamento mas vai ter que pagar em dinheiro. O limite do seu cartão de crédito já foi ultrapassado"
    C: "Não faz mal eu vou ao multibanco levantar dinheiro antes que chegue a pizza."
    T: "Dúvido que dê. Tem a conta a descoberto."
    C: "Meta-se na sua vida. Mande-me as pizzas que eu arranjo o dinheiro. Quando é que entregam ?"
    T: "Estamos um pouco atrasados. Daqui a 45 minutos serão entregues. Se estiver com muita pressa pode vir buscá-las, só que transportar duas pizzas de mota não é aconselhável além de ser perigoso"
    C: "Mas que raio de história é esta, como é que sabe que tenho uma mota ?"
    T: "Peço desculpa, apenas reparei que não tinhapago as prestações do carro e que ele foi penhorado. Mas a sua Harley está paga. Daí pensei que fosse utilizá-la"
    C: "@#%/$@&?#!"
    T: "Agradeço que não me insulte... não se esqueça que já foi condenado em Julho de 2009 por Insulto a Agente na via pública"
    C: (Silêncio)
    T: "Mais alguma coisa! ?"
    C: "Não é tudo...não espere..não se esqueça dos 2 litros de Coca >Cola que constam na promoção ."
    T: "Peço imensa desculpa, mas o regulamento da nossa promoção descrito no art.3/12 proíbe-nos de enviar bebidas com açúcar a pessoas diabéticas."

    Chegou por e-mail. Não sei porquê, mas não me parece totalmente descabido

    É Segunda-feira...

    é preciso dizer mais...


    Garfield

    01 fevereiro 2004

    Bom Domingo para todos!

    É ao som de "Light my Fire" ( e se pensam que estou muito bem, saibam que antes tocaram os Modern Talking. Sim, aquele duo alemão, do loiro e do moreno de cabelos compridos, que fizeram dezenas de cantigas sempre iguais, cantavam com voz fininha e dançavam com os pés sempre fixos, como a Barbie, mas que fizeram enorme sucesso por estas paragens e não só, com esta mesma fórmula) que vos desejo um excelente Domingo. Vou estar fora do Convento hoje e amanhã, por isso, um bom início de semana para todos também.

    O dia está tristonho e ameaça chover, por isso, eis um excelente pretexto para ficar em casa, ouvir uma boa música, conversar, ler, descansar da vida louca que todos levamos, ver um bom filme e, o mais importante de tudo, passar tempo connosco, coisa que muitas pessoas ainda não fazem o suficiente e por isso se zangam tanto, por tudo e por nada.

    Bom, a música está a acabar e eu vou surripiar o CD da Conversa Moderna e fazê-lo desaparecer atrás do móvel. Com um bocadinho de sorte, o abade João só o descobrirá quando nos mudarmos para um Convento maior. Hihihihihihih...