01 agosto 2003

Cursum Perficio

Todos os anos mais ou menos por esta altura, as televisões lembram-se dela. De vez em quando, há um ou outro ciclo de cinema dedicado a ela, também quase sempre por esta altura. É o aniversário da sua morte. Lembro-me que, quando era pequena, ía no carro com os meus pais, no Algarve, durante as férias. Era noite e a minha mãe fez um comentário qualquer sobre a lua, que estava muito bonita. O meu pai respondeu que aquela lua era a boca da Marilyn Monroe. Foi a primeira vez que ouvi falar dela. Depois, com os anos, fui pesquisando mais sobre a sua biografia, vi os filmes, mesmo os mais obscuros. Vi as fotografias, com especial atenção para as que o fotógrafo Milton Greene lhe tirou - e descobri que é realmente possível que uma fotografia capture a alma de quem é fotografado. Muito se disse e se escreveu sobre ela. Marilyn ou Norma Jean? Ela mesma dizia que, nascida sob o signo de Gémeos, se sentia como sendo duas pessoas, por vezes, até mais do que duas...Por isso, porquê tantas teses e teorias? Era boa, era má, era fútil, era inteligente, era sensível, era burra, era mimada, era louca, era uma mulher, era uma criança...Era uma pessoa. Com tudo de bom e de mau que isso implica, com todas as contradições e desesperos, euforias e depressões, crueldades e generosidades. Era uma mulher bonita, dona de uma voz e de um sorriso cativantes. Era uma actriz aplicada, pronta a mostrar que valia muito mais do que uma saia branca a esvoaçar. Era uma criança à procura de amor e aprovação, à espera que lhe pegassem na mão e a levassem para casa. Falhou. Falharam-lhe. A vida foi curta. O tempo foi ávaro. Resta-nos a memória - as mil e uma memórias de todas as mulheres que ela foi. Por mim, penso nela sempre que vejo uma lua tão bonita como aquela lua do Algarve.