08 agosto 2003

O sal dos domingos

(para a Sofia)
Cara Sofia, nunca pensei que alguém me pudesse compreender tão bem! Sim, os domingos são dias sem sal, sem graça, de uma lassidão que lentamente se transforma em angústia. Geralmente começam tarde e a culpa é nossa. Na nossa necessidade de auto-indulgência, concedemo-nos o direito a dormir pelo menos uma manhã por semana. Sabe bem...não haja dúvida. (então eu, que sou uma dorminhoca! Não havia de reclamar o sagrado direito às manhãs de Domingo passadas na cama!). Mas será que tem de ser sempre assim? Queixamo-nos da rotina, que nos provoca "stress", que por sua vez é o culpado de tantos problemas. Mas nos dias que nos pertencem, impomo-nos outra rotina, não menos desgastante - o não fazer nada. Cada vez mais me convenço de que, se os domingos são dias sem sal porque não sabemos temperá-los. Não há nada aberto. Será? Há matinées no cinema e no teatro, por exemplo. E a praia está sempre aberta. E o campo também. E as estradas também. Os (poucos) jardins de Lisboa também o estão. Os monumentos e museus, embora não tenham o melhor dos horários, também abrem aos domingos com a vantagem de, até ao meio-dia, serem gratuitos. Então porque é que os domingos nos causam angústia? É o tal sofrimento - antecipado e desnecessário - de sabermos que amanhã é dia de trabalho. E isso é assim tão mau? Gostava de aprender a temperar melhor os meus domingos para depois poder dar-te a receita do tempero, Sofia. Gostava de conseguir vencer o torpor que me acompanha há largos meses e por vezes se me assemelha à tristeza, à depressão. Ler o teu comentário sobre os domingos fez-me bem (não que as tristezas alheias me alegrem, nada disso!). Vou fazer alguma coisa interessante este domingo. Não sei se vá até ao museu Gulbenkian ou se dê um passeio. Se o calor for muito, acho que me vou render ao ar condicionado da Fundação. Ainda não sei. Depois escrevo a contar como foi o meu domingo. Vamos fazer dos domingos os dias mais apetitosos da semana!