18 dezembro 2003

Em Portugal fala-se... francês

Nos dias 5 e 6 de Dezembro, realizou-se em Tunes a primeira cimeira de Chefes-de-Estado e de Governo do Diálogo «5+5», que formalizou o Grupo do Mediterrâneo Ocidental. Desta organização fazem parte cinco países do Sul da Europa (Portugal, Espanha, Itália, França e Malta) e cinco Estados do Norte de África (Argélia, Marrocos, Líbia, Mauritânia e Tunísia).
No início dos trabalhos, Jacques Chirac falou em francês, Sílvio Berlusconi fez o seu discurso em italiano, os governantes árabes exprimiram-se em árabe e José Maria Aznar fez a sua intervenção em castelhano. O Primeiro-Ministro de Portugal, patrioticamente..., discursou em francês...

A audiência, maioritariamente francófona, aplaudiu emocionada o gesto do novo apóstolo da francofonia. Os lusófonos só podem, veementemente, vituperar tal acto, especialmente num momento em que, como nunca, se vive numa guerra linguística à escala mundial, na qual, para ganharem posições, França e Espanha têm em marcha grandiosos projectos de ocupação do espaço lusófono. Há poucas semanas, foi em castelhano que ouvimos o Presidente da República falar em Madrid num "forum" promovido pelo jornal ABC e na mesma língua se expressou em Santa Cruz, na Bolívia, na XIII Cimeira Ibero-Americana.

Com comportamentos destes, depois escandalizam-se quando vêem os dirigentes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa falarem em francês ou em inglês...

Bem a propósito destes factos, lembramos uma breve afirmação do galego Manuel Murguia: «Ao povo que esquece e escarnece o seu idioma diz-lhe o resto do mundo que perdeu a sua dignidade. É um povo morto».
- por Mário Rodrigues, Diário Diginal