22 dezembro 2003

A Lua de Joana

Nesta altura em que se volta a discutir o direito à vida na questão do aborto, em que tanto se fala sobre a educação das crianças, dei comigo a reler um livro que apesar de extremamente simples e breve, transmite uma grande lição. Ao direito a viver, está subjacente o direito à qualidade de vida, ao amor e à atenção dos pais sobre essa vida, que com amor geraram.
Deram este livro à Sónia, aqui há uns anos, e depois dela o ter lido, li-o eu. Gostei. Trata-se de um diário escrito por uma adolescente de 15 anos, sob a forma de cartas escritas à sua melhor amiga que entretanto morreu no flagelo da droga. Os desabafos próprios da idade, as dúvidas, os conhecimentos, a falta de tempo dos pais, a incursão em terrenos proibidos... de tudo se encontra um pouco. Este livro, chama-se "A lua de Joana" e foi escrito por Maria Teresa Maia Gonzalez. Editado pela Verbo, teve na sua primeira edição o apoio do Projecto Vida e da TVI.
Deixo-vos os últimos parágrafos do mesmo.

A Lua de Joana

Acabou de ler e, quando ia pousar as folhas sobre a cama, a mulher abriu a porta do quarto.
- O que é isso? - perguntou baixinho, a medo, como se não quisesse saber a resposta.
- São cartas... da Joana.
A mulher voltou-se e saiu, de mão sobre a cara, fechando a porta atrás de si. Ele ficou no quarto. juntou cuidadosamente todas as cartas e arrumou-as sobre a mesa-de-cabeceira. Ficou por muito tempo a ajeitar o molho para que ficasse bem direito, entre o candeeiro e o despertador. Depois, deixou cair o corpo molemente sobre a coberta, e a cabeça pesada afundou-se no almofadão de penas. Sobre a cama, restos de um papel onde se podiam ler os cuidados a ter com o cão. Encolheu as pernas lentamente e fixou os olhos inchados naquele baloiço estranho suspenso do tecto. A lua estava em quarto crescente.
Desapertou a correia do relógio e pousou-o devagarinho sobre a mesinha. Agora, tinha todo o tempo do mundo. Para quê?