26 outubro 2005

Desabafo de fim de dia

Estar perto de quem manda é pior do que mandar. Somos o filtro, uma espécie de segurança mais ou menos mal encarado, que tem a responsabilidade de escolher que pessoas e que assuntos terão o privilégio de ser tratados pelo senhor presidente. As consequências são várias e cada uma pior do que a outra.

Primeiro chegam os aduladores que não querem perder pitada e que nos dão os parabéns pela nossa nova posição, da qual sempre fomos merecedores, aliás. E são elogios e piropos e todo o tipo de simpatias, a culminar num tupperware cheio de ovos lá das galinhas da terra, de gema amarelinha, criadas sem rações e completamente livres de qualquer maleita (não como ovos e por isso lá tive de os distribuir pelos colegas, muito em segredo, não fossem as galinhas ofender-se e começar a espirrar…).

A seguir chegam os despeitados, aqueles que acham que deveriam ser eles a estar neste lugar e por isso lá vão tomando nota, com a paciência e a minúcia de pequenos Dinatos, de todas as nossas falhas, pequenas e grandes, de trabalho e de visual (as mulheres são do piorio neste aspecto! Um cabelo fora do lugar e lá se vai a nossa reputação!), mas sobretudo de personalidade. São estes que de vez em quando deixam escapar pelo canto da boca, entre um ranger de dentes e outro, que parece impossível o quanto estamos diferentes! Que o poder (que não temos) nos subiu à cabeça e que andamos de nariz empinado, qual rainha de Inglaterra (quanto a mim essas empinavam o nariz para se afastar mais do cutelo, mas esta teoria ainda não foi provada…).

Por fim, existem os colegas-barra-amigos, que continuam a tratar-nos como sempre (ou seja mal!) e que se estão absolutamente nas tintas para protocolos, hierarquias, urgências, despachos, composturas e que nos fazem sacudir com riso a lixarada que os aduladores e os despeitados nos atiram para cima.

Por isso este “post” é dedicado ao Pedrito, à Tomásia, ao Heldinho, à Paulinha e à Garçona, por aligeirarem os meus dias com boa disposição e por me terem feito presente da sua amizade.

Obrigada, gajos!