16 novembro 2005

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Uma colega dizia-me hoje que detesta a Índia (embora nunca lá tenha estado) e tudo o que diga respeito aos "monhés". Tudo naquele país, dizia, parece sujo. A imagem de centenas de pessoas a tomar banho nos rios sagrados enojava-a até ao tutano e achava que as lojas e restaurantes indianos tinham um cheiro "esquisito". Tudo, enfim, lhe fazia muita confusão.

Não respondi. Talvez seja cobardia da minha parte, mas quando a estupidez é assim tão grande nem me apetece dar resposta. Limito-me a desviar a conversa para terrenos mais firmes. Tentar explicar o óbvio dá-me imensa preguiça.

Neste caso, quando a colega me dizia que tudo na Índia lhe fazia muita confusão, apeteceu-me dizer-lhe que ela tinha toda a razão. A mim também me impressiona aquela civilização milenar, que já era sofisticada a todos os níveis quando, por estas bandas, ainda andávamos quase de gatas, às mocadas uns aos outros.

Quanto aos cheiros "desagradáveis", já houve tempos em que se matou e se morreu por eles e que, como disse o poeta, este reino quase se despovoou.

Mas, mais do que tudo, entristece-me que, por esta altura, ainda haja quem acredite no preconceito, na superioridade das raças ou dos povos.

O mais irónico é que esta mesma colega confessava-me, há uns dias atrás o seu medo, como mãe de uma adolescente, das associações de extrema direita e do fascínio que têm sobre os mais novos e - supostamente - mais influenciáveis.

Mas, como sempre, não se considera racista...