Blag, bleg, blig, blog, blug
Descobri os "blogs" há pouco tempo. Foi o João que me apresentou porque eu estou (e sou) de relações quase cortadas com a tecnologia. Gosto das coisas simples, mecânicas e o mais manuais possível. Desconfio das máquinas e, regra geral, não tardo a avariá-las. Reconheço que podem facilitar-me bastante a vida mas também quando a dificultam!!!...Adiante, foi o João, como dizia, que me mostrou o primeiro "blog" que vi, mas fui eu quem lhe lançou o desafio de termos o nosso próprio blog. E assim nasceu o Memorial. Nunca tive um diário nem um caderno de notas. Nunca me dei ao trabalho. Tive e tenho ideias engraçadas que se perderam porque não consegui capturá-las numa folha de papel. Não faz mal, as ideias circulam por aí, andam no ar, entram e saem de uma cabeça para outra. Gosto de pensar que alguma cabeça mais prevenida do que a minha tenha sabido agarrar essas ideias e dar-lhes forma. O meu objectivo é escrever para mim própria. Não penso se alguém me lê, eu própria não me leio. Deito as palavras fora e não volto atrás para olhá-las. Não releio, não corrijo, escrevo de rajada, não quero saber se a forma é boa, se o conteúdo é interessante. É para mim que escrevo. Se alguém se der ao trabalho de me ler e ainda por cima conseguir identificar-se com alguma das minha ideias, fico contente, claro, mas não pretendo ter "público". Isso é para os escritores, aqueles que além de conhecerem as palavras, sabem moldá-las, misturá-las, esculpi-las. Conferem-lhes tonalidades e formas, ásperas ou macias, claras ou escuras, dão-lhes rosto e corpo, sopram-lhes vida. É isso que sinto quando leio António Lobo Antunes, por exemplo. Aquelas palavras pulsam, existem, entram-nos pelos olhos, pelos ouvidos, pelas narinas, pela ponta dos dedos ao virar de cada página. Sentimos-lhes os sabores. Para mim, são salgadas na maioria. Tem o gosto da água do mar, salgada com um travo amargo lá no fundo. Atraem e repelem ao mesmo tempo. Marcam-nos o espírito. Não cedem lugar à indiferença ou ao esquecimento. São. Escrever é um acto de dor, falar sobre o que se escreveu, tentar explicar, racionalizar, tornar acessível a outras pessoas os motivos que levaram à concepção de um livro é reviver essa dor. É uma coisa quase obscena, querer dissecar uma obra em termos de forma ou conteúdo. Um livro, um poema, ou se sentem ou não se sentem. Ou nos possuem e é para sempre ou estão de passagem e depressa os esquecemos.
Um escritor, um livro, para mim, são tudo isto e muito mais. Muito mais que eu não encontro palavras para descrever. Sinto-me grata por saber ler e escrever. Um dia quando morrer ou se por qualquer motivo deixar de conseguir ler, gostaria de oferecer os meus livros a uma biblioteca, talvez em África ou em Timor. Gostava que continuassem a ser lidos por muito tempo depois de mim. Um livro que não é lido está adormecido. Se nunca for lido, morre. Não gostava que os meus livros morressem.
Um escritor, um livro, para mim, são tudo isto e muito mais. Muito mais que eu não encontro palavras para descrever. Sinto-me grata por saber ler e escrever. Um dia quando morrer ou se por qualquer motivo deixar de conseguir ler, gostaria de oferecer os meus livros a uma biblioteca, talvez em África ou em Timor. Gostava que continuassem a ser lidos por muito tempo depois de mim. Um livro que não é lido está adormecido. Se nunca for lido, morre. Não gostava que os meus livros morressem.
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