09 agosto 2003

Diário de Hospital – Parte I

2001, 12 Dezembro

Não sei ao certo como me sinto. Se por um lado me encontro feliz por estar vivo, estar bem e estar finalmente preparado para a cirurgia que aguardo há 28 anos, por outro tenho medo, muito medo que algo possa correr menos bem durante a intervenção.
Os meus pais saíram há pouco daqui, cabisbaixos, tentando mostrar-se como não conseguem ser nesta altura. Por muita confiança que queiram transmitir, não conseguem porque também eles têm medo. É natural. Mais logo irá começar a preparação para a intervenção cirúrgica (que pelo que sei se chama valvuloplastia). Desde banhos com anti-sépticos e clister, a comprimidos para dormir e calmantes. Eu preferia estar a dormir estas horas que faltam, sei que vou ficar muito ansioso, vou ter dificuldade em adormecer e muito provavelmente irei andar com um nervoso miudinho toda a manhã, antes da entrada no bloco operatório... ou pelo menos enquanto estiver acordado. Depois ando extremamente anti-social aqui com o resto dos doentes. Eu sei que é um mal comum, mas porque terão todos de relatar as suas experiências anteriores e relatarem toda a sordidez de cada intervenção. Já me ligaram várias pessoas, desde familiares a amigos e colegas. Não sei o que escrever, por enquanto não me apetece e não me sinto na melhor disposição para escrever tudo o que penso.