23 dezembro 2003

O inevitável Natal

Nesta altura em que todos devem estar já um bocado fartos de ouvir e desejar votos de feliz Natal, queria , antes de mais, agradecer-vos pela atenção que dispensam a este espaço que começou um dia, por acaso, sem objectivos definidos, sem ambições e, de repente, se tornou complemento indispensável de todos os meus dias. Obrigada por me lerem, obrigada por me compreenderem e fazerem coro comigo ou contrariarem os meus pontos de vista – embora não conheça ninguém que goste, admito que todos precisamos ser contrariados, de vez em quando. Estou grata pelos amigos que fiz aqui, por prosas, poesias, desenhos, fotografias, ideias, sentimentos e tudo quanto me foi dado a conhecer ou a recordar até agora.

Como já tinha dito, o meu afastamento das últimas semanas não significa desinteresse nem desleixo. Foi motivado por trabalho. Os que me conhecem sabem que tenho um problema crónico de falta de concentração. Se não me tivesse obrigado a parar, a deixar de visitar o Convento e os vossos espaços durante este tempo, não teria conseguido dedicar-me a este trabalho. Assim, quero que saibam que o Memorial do Convento ainda está aqui para as curvas e vai continuar durante mais algum tempo. Graças ao cuidado e atenção permanetes do abade João, até vai entrar no novo ano com visual renovado.

Agora quero desejar-vos o inevitável feliz Natal. Como já disse há algum tempo, esta época não é particularmente feliz para mim, mas tento passá-la com boa vontade. Sobretudo tento não frustrar as intenções das pessoas que me rodeiam e que fazem tudo para me proporcionar alegria e felicidade. Também não sou católica, por isso o nascimento de Cristo não me diz grande coisa. Mas este é um feriado mais no ano. Um dia em que não temos de trabalhar. Um dia que podemos passar com as pessoas de quem gostamos. Um dia para dormir até mais tarde, para brincar com as crianças, para dispensar mais atenção aos outros, aquela atenção que fica quase sempre pelas intenções e e nunca chega a ser concretizada no resto do ano. Este é um bom dia para partilhar atenção, carinho, amizade. É um bom pretexto para ligar aos amigos, é um bom dia para ser solidário, para dar qualquer coisa, nem que seja um sorriso. É também uma boa altura para recordar os que já morreram. Ao contrário do que algumas pessoas acreditam, faz bem falar nas pessoas e lembrar histórias e momentos felizes vividos com elas. É o açúcar da saudade.

A todos os que me lêem desejo um bom dia, com saúde e paz. Com estas matérias, podemos construir toda uma vida.