16 janeiro 2004

Arte do dia


Kahlo

(Frida Kahlo, Auto-retrato, 1926)

Pinto auto-retratos porque estou muitas vezes sozinha e porque sou eu a pessoa que conheço melhor.

(Frida Kahlo, 1907-1954)

Ouvi falar pela primeira vez em Frida Kahlo quando andava no liceu e o meu namorado na altura me mostrou alguns dos seus quadros. Fiquei estarrecida. Era uma arte crua, de sangue e vísceras, sem subterfúgios, sem inocência, sem encanto, era o real transformado em surreal, a morte, a vida, a dor, sobretudo a dor. Tudo isto repassava da fotografias que vi na altura. Não gostei, não percebi a obsessão da senhora pela sua própria imagem, embora admitisse que ela tinha uma imagem forte, transbordante de expressividade.

Durante alguns anos não ouvi falar em Frida Kahlo até que vi o filme. Gostei e recomendo-o, apesar da tentativa hollywoodesca de embelezar uma vida que teve tanto de magnífico como de terrível e tornar agradável uma mulher que não tinha grandes motivos para ser gentil com o mundo. Depois fui lendo, vendo, descobrindo. O meu objectivo era encontrar um quadro onde houvesse alguma paz, harmonia, uma réstea de doçura na expressão sempre tão grave. Encontrei este que é dos meus favoritos.

Duvido que algum dia me torne khaloísta (sim, existe uma religião que tem a figura de Frida Kahlo como inspiração), mas vou continuar a ler sobre esta mulher. Sem dúvida teve talento. Sem dúvida teve coragem. Sem dúvida teve convicções. Sem dúvida teve amor. Merece ser redescoberta.