09 janeiro 2004

Oh dear! What a tremendous flaw!


Catarina

(D. Catarina de Bragança, rainha de Inglaterra, França e Irlanda, 1638-1705)

Assisti ontem à primeira parte de uma série britânica sobre o rei Carlos II. Gostei, até porque a época da Restauração é, simultaneamente, uma das mais magníficas e terríveis da história inglesa e a série consegue transmitir muito bem esse espírito claro/escuro, belo /horrendo. Só não gostei do retrato que foi feito da rainha Catarina de Bragança. A dada altura, Carlos II diz que o casaram com um morcego mas, ao que parece, Catarina tinha pouco de morcego e, apesar do seu temperamento libertino, o rei desenvolveu grande consideração pela rainha, ao ponto de, mesmo pressionado pelo Parlamento para a repudiar (Catarina, além de católica era incapaz de produzir um herdeiro), nunca o ter feito, assumindo as consequências de uma decisão que poderia ter-lhe custado cara, visto que, saído reforçado da aventura republicana de Cromwell, o Parlamento britânico controlava o monarca sob todos os aspectos.

Na série, a Catarina é atribuído o mérito de ter introduzido o hábito do chá na Inglaterra. Este, apesar de verdadeiro, não foi o seu maior contributo para a história inglesa. É que, além do chá, Catarina de Bragança trazia na bagagem um dote impressionante, que contava com a cidade e fortaleza de Tânger e a ilha de Bombaim, na Índia Oriental. Ou seja, a rainha entregou a Inglaterra a primeira pedra da jóia na coroa inglesa. Os argumentistas da série esqueceram-se precisamente de mencionar Bombaim...

Para quem quiser saber mais sobre a vida desta rainha, que de morcego tinha pouco ou nada e foi uma mulher de grande inteligência e dignidade, existe na Biblioteca da Ajuda, a colecção da correspondência de D. Catarina com seu irmão D. Afonso VI, e sua mãe, a rainha viúva de D. João IV, D. Luisa de Gusmão.