Meu querido Rui,
Sobre as nações, os povos que as constituem e os dirigentes por eles eleitos, tenho a dizer-te apenas isto. Sou portuguesa, nasci mais de quinhentos anos após a conquista de Ceuta e, no entanto, peço desculpas com a maior e mais sentida humildade aos povos e às nações que tão generosamente foram por nós, bravo povo lusitano, "descobertos", evangelizados (por vezes até de livre e espontânea vontade!) na palavra de Deus e nos mais elevados princípios do cristianismo. Gentes cujas culturas foram descritas e tidas como inferiores. Terras cujos recursos naturais foram desbaratados. Seres humanos que foram reduzidos ao mais degradante estado de escravidão, de apátridas, de meros objectos, instrumentos de trabalho e reprodução, sem família, sem afectos e sem dignidade. E aos que, não tendo sido escravizados, foram mesmo assim subjugados a ferro e fogo pelos heróis desta nobre e brava nação portuguesa. Finalmente, peço desculpas aos filhos desta terra que foram enviados a combater guerras inglórias (e haverá alguma que o não seja?) e a defender, sob o tradicional pretexto da Pátria, os interesses de alguns senhores que ficaram confortavelmente na metrópole a esfregar as mãos, mas apenas de ansiedade, não porque as sentissem sujas.
Como portuguesa, este é o meu pedido de desculpas. Não acredito que todos os judeus odeiem os árabes e que todos os árabes odeiem judeus e ocidentais. Conheço o suficiente de cada cultura e de cada religião para me espantar com o descaramento com que estas são distorcidas e moldadas de acordo com os interesses de meia dúzia de senhores que, com desculpas esfarrapadas e grandes encenações teatrais, conseguem arrastar milhões para as causas nas quais eles não acreditam, mas que lhes servem os mais obscuros e nada religiosos interesses.
No entanto, parece-me inegável que, hoje, essa meia dúzia de pessoas - à qual somos suficientemente ingénuos para chamar "fanáticos" - é a face mais tristemente visível dos povos e das nações. Foi a essa face que me dirigi no que escrevi sobre a "Paixão", não aos indivíduos que, não duvido, são os primeiros a sofrer.
Como portuguesa, este é o meu pedido de desculpas. Não acredito que todos os judeus odeiem os árabes e que todos os árabes odeiem judeus e ocidentais. Conheço o suficiente de cada cultura e de cada religião para me espantar com o descaramento com que estas são distorcidas e moldadas de acordo com os interesses de meia dúzia de senhores que, com desculpas esfarrapadas e grandes encenações teatrais, conseguem arrastar milhões para as causas nas quais eles não acreditam, mas que lhes servem os mais obscuros e nada religiosos interesses.
No entanto, parece-me inegável que, hoje, essa meia dúzia de pessoas - à qual somos suficientemente ingénuos para chamar "fanáticos" - é a face mais tristemente visível dos povos e das nações. Foi a essa face que me dirigi no que escrevi sobre a "Paixão", não aos indivíduos que, não duvido, são os primeiros a sofrer.
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