11 março 2004

A paixão de especular

Sou admiradora do Mel Gibson. Tanto se me dá se ele é um católico praticante e conservador, que gosta de ser visitado por prostitutas tailandesas nos intervalos das filmagens. Não o conheço, não vivo com ele, apenas gosto de o admirar porque o considero um belo espécime do género masculino.

Tenciono ver a "Paixão". Não agora, mas daqui a uma semanas, quando a polémica assentar - dizem que o filme é demasiado longo, mas quem suportou a trilogia d' "O Senhor dos Anéis" (quase) sem dormir durante os filmes, também deve de aguentar este. Gosto destas polémicas, confesso, divertem-me. Acho fascinante como as pessoas podem passar horas a discutir sobre o nada.

Quanto a mim, não percebo de onde possa vir tanto aborrecimento. Para começar, a história é tudo menos original e já foi contada várias vezes, com todas as variantes possíveis e imaginárias. Talvez a única originalidade deste filme consista na ressurreição do aramaico e do latim e talvez seja esse o seu maior ponto de interesse.

Acusam Mel Gibson de ter feito um filme violento. Este argumento não deixa de ser engraçado nos dias que correm, sobretudo tendo em conta os desenhos animados, destinados supostamente às crianças, e que assustam o mais intrépido adulto, isto para já não falar na exibição da violência nos seus mais truculentos pormenores, que é prática comum dos media que, por vezes, revelam até a audácia de lhe chamar "informação"...

Finalmente, dizem que as comunidades judaicas estão ofendidas e furiosas porque o filme acusa os judeus de terem sido os responsáveis pela morte de cristo. Em primeiro lugar, e considerando que Jesus existiu de facto e foi julgado e condenado tal como o Novo Testamento relata, então foram efectivamente os judeus os responsáveis pela condenação. Em segundo lugar, nunca percebi porque é que os cristãos sempre tiveram esse ressentimento porque, pelo que percebo de doutrina cristã, era suposto cristo ser morto, era essa a condição para a remissão dos pecados da humanidade, como tal alguém tinha de o fazer (visto que o suicídio, segundo diz a igreja católica, é um acto imperdoável). Assim sendo, o motivo pelo qual Judas Iscariote, Pôncio Pilatos e os judeus são tão mal vistos pela Santa Madre Igreja escapa-me, pois no meu fraco entender eles deveriam ser louvados por terem concretizado a profecia e o horrendo mas necessário sacrifício.

De qualquer forma, creio que o mundo precisa ser recordado de que o inventor da Santíssima Inquisição era católico (embora de ascendência judaica, o que só reforça o humor negro da história), assim como os seus mentores, juízes e carrascos. Não deixa de ser engraçado ver um católico acusar um judeu de haver assassinado um homem, face aos milhares que sucumbiram (ironicamente em nome desse mesmo homem) aos encantos do Santo Ofício.

Muito mais grave me parece o comportamento actual da nação de Israel e a passividade com que as nações cristãs aceitam a chacina. Grave e muito pouco cristão, judeu e humano...