30 maio 2004

...que continue a ser um prazer...

Quando comecei, com a Sónia, o Memorial do Convento (MC), foi basicamente para bloco de notas, para apontamentos. Com o tempo, começaram a chegar pessoas, algumas boas, outras não tão boas.
Por não ter nenhuma linha editorial (no MC escreve-se sobre tudo e sobre nada - blog generalista) posso permitir-me a certos luxos que dificilmente poderia ter noutro blog com uma linha editorial - com um assunto definido para sobre ele escrever. Se me apetecer mandar alguém à merda, posso fazê-lo. Se me apetecer fazer copy/paste de um poema ou de uma notícia de jornal, posso fazê-lo. Se me apetecer escrever um pensamento profundo (estilo Fossa das Marianas), posso fazê-lo também. Posso fazer tudo o que me apetecer. Só não posso motivar-me quando para tal não tenho motivação.
Nestes muitos meses de existência, algumas das pessoas que apareceram deixaram de ser amigos/leitores/autores virtuais para se tornarem amigos de carne e osso, fazendo parte do mundo real e não apenas da blogoesfera virtual. Outros, que não deixando de ser amigos virtuais, têm já um lugar privilegiado no meu dia a dia, e nas leituras que faço, quando para tal disponho de oportunidade e de tempo - esse eterno amo.
Existem também amigos da blogoesfera que deixaram de ser virtuais, passando a ser reais, e, daí... a serem uns perfeitos desconhecidos, foi apenas um pequeno passo. Mas como se diz, só faz falta quem está, e eu neste aspecto de estar/ficar/partir, começo a perder a vontade de continuar a estar, desenvolvendo-se cada vez mais a vontade de partir.
Tenho uma vida fora da blogoesfera: uma mulher que amo, uns pais que são do melhor que há, uns amigos óptimos, um emprego, divertimentos vários. Houve alguém que um dia ficou espantado quando lhe disse que a minha vida não é apenas isto! Para algumas pessoas pode até ser, mas para mim não é. A minha vida desenvolve-se muito mais além do MC.
Gosto de escrever, de ler o que outros escrevem, gosto de ser comentado e de comentar. Mas não vivo para isso. Não vivo para alimentar polémicas ou para ser um guru dos tempos modernos. Já me apeteceu - por vezes - pura e simplesmente apagar o MC, mas por cobardia, não o fiz e não o farei. Seria apagar uma parte da minha existência nestes últimos 10 meses. Seria negar as acções cometidas, os pensamentos escritos.
A Sónia partilha estes sentimentos e tem, mais do que eu, andado arredada deste meio. Sinceramente, não sei se ela voltará a escrever no MC ou no "Livro das Horas".
Tudo junto: alguma desilusão, muita desmotivação e ter de sozinho continuar um projecto iniciado e pensado a dois, leva-me a ter estas dúvidas. Como a Sónia me disse um dia: "quando nos tornamos escravos de um prazer, este deixa de o ser, para se transformar numa obrigação". Ultimamente, colocava posts apenas para o MC não parecer abandonado. Não tendo assunto para escrever, existe sempre a opção de copy/paste: sai um poema, uma fotografia, uma notícia ali para o blog do canto. Não quero continuar assim. Estou farto de muitas coisas e continuar nesta base é deixar morrer lentamente algo que me deu prazer em participar. Por isso, o MC continuará, ao sabor do vento, nas ondas da imaginação e da motivação. Tanto pode ser amanhã, como daqui a uma semana ou um mês.

Eu não quero que o MC seja uma obrigação. Quero que continue a ser um prazer, pelo menos, para quem o escreve.

Um obrigado a todos os que deixaram uma palavra amiga, mas permitam-me enviar um cumprimento/obrigado especial ao Henrique e à Jacky