22 maio 2006

Os portugueses de Lisboa e os outros todos

Este Sábado fui até ao Castelo de São Jorge, lugar onde já não ía há muito tempo. Ao chegar percebi que o Castelo agora é pago, mas não para todos: os portugueses residentes em Lisboa estão isentos de pagamento. Ora, habitualmente até costumo concordar com as borlas e com os descontos nos monumentos e museus para professores, estudantes, idosos e crianças, etc., mas, neste caso, fiquei furiosa e, apesar de o meu B.I. atestar que sou residente em Lisboa, resolvi apresentar uma reclamação e deixar aqui o meu protesto.

Num país que, neste momento, já respira futebol por todos os poros e chama pessoas de Norte a Sul para fazer uma bandeira humana. Um país que condena - e muito bem, a meu ver - os provincianismos bacôcos que de vez em quando tomam conta de algumas pessoas. Este mesmo país faz distinção entre portugueses residentes em Lisboa e todos os outros para entrar num espaço que é monumento nacional e que, para mais, sempre foi gratuito...

A desculpa que me deram foi a contribuição autárquica. E eu pergunto: e os milhares de residentes em Lisboa que não pagam a dita? E os estrangeiros? É por terem mais dinheiro do que nós (hipoteticamente) que devem ser explorados? Sim senhor, bom exemplo este que a Câmara Municipal de Lisboa nos dá. E, ao que parece, não está sozinha pois a autarquia de Sintra já seguiu o exemplo, ou seja, também existem os portugueses residentes em Sintra e os outros todos.

Para cúmulo, a entrada está adornada com uns "obliteradores" e umas passagens metálicas parecidas com as do metro que fazem um lindo "pendant" com as janelas de alumínio, portas envidraçadas e estruturas acrílicas que se podem encontrar um pouco por todo o recinto do castelo, com especial incidência na casa da alcáçova, onde tem lugar uma exposição duvidosa de desenho e pintura que pretende ser sobre Lisboa, mas na verdade é mais sobre os traumas e fantasmas de uma qualquer artista plástica (o nome, tal como a obra, não me ficaram na memória) - certamente nascida na cidade...

No meio, e à laia de recheio, os portugueses continuam a fazer piadas sobre o castelo e o terramoto. Tenho a certeza que o ministro Duarte Pacheco, o homem que deu a Lisboa a sua coroa, já em pleno século XX, dá voltas no túmulo pelo mérito que ninguém lhe atribui.