Poema do dia
Desarrezoado amor, dentro com meu peito,
tem guerra com a razão. Amor, que jaz
i já de muitos dias, manda e faz
tudo o que quer, a torto e a direito.
Não espera razões, tudo é despeito,
tudo soberba e força; faz, desfaz,
sem respeito nenhum; e quando em paz
cuidais que sois, então tudo é desfeito.
Doutra parte, a Razão tempos espia,
espia ocasiões de tarde em tarde,
que ajunta o tempo; em fim, vem o seu dia:
Então não tem lugar certo onde aguarde
Amor; trata traições, que não confia nem
nos seus. Que farei quando tudo arde?
Francisco Sá de Miranda (1481-1558)
tem guerra com a razão. Amor, que jaz
i já de muitos dias, manda e faz
tudo o que quer, a torto e a direito.
Não espera razões, tudo é despeito,
tudo soberba e força; faz, desfaz,
sem respeito nenhum; e quando em paz
cuidais que sois, então tudo é desfeito.
Doutra parte, a Razão tempos espia,
espia ocasiões de tarde em tarde,
que ajunta o tempo; em fim, vem o seu dia:
Então não tem lugar certo onde aguarde
Amor; trata traições, que não confia nem
nos seus. Que farei quando tudo arde?
Francisco Sá de Miranda (1481-1558)
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