19 novembro 2003

Caro Azelha,

Antes de mais, muito obrigada pela sua visita e pelo seu comentário. O facto de eu não querer entrar em guerrilhas políticas na "blogosfera" não significa que não me mantenha informada sobre o que se passa em Portugal e no mundo. Vejo noticiários (excepto os da TVI, confesso), leio jornais, enfim mantenho-me a par dos assuntos "sérios", embora não partilhe com alguma imprensa a curiosidade mórbida pela dissecação de certos assuntos até à raíz do mau gosto e da pura especulação. Apenas não tenho qualquer filiação política porque nenhum partido corresponde aos meus ideais e, como disse e reafirmo, não acredito que neste momento existam políticos idealistas em Portugal. Creio que os objectivos pessoais há muito que devoraram os ideais sociais e por isso não nutro qualquer admiração por eles (os políticos) nem tão pouco acredito em promessas que, nos últimos tempos, mais parecem as histórias que a minha avó me contava para eu adormecer tranquila. Mas ouço o que dizem senão como poderia ter uma posição e opinar sobre o assunto?

E voto! Sempre votei, até nos referendos que tão desprezados foram, lembra-se? O facto de ser apartidária não significa que não tenha consciência social e noções elementares de cidadania.

Para terminar, deixe-me apenas que lhe diga que não concordo de todo com esta sua frase:(a política) mostra-nos a caminho para onde vamos e para onde não queremos ir . O meu avô - comunista, idealista, apaixonado e temerário – costumava dizer que cada homem constrói o seu próprio destino. Ele construiu o seu, sem dúvida, e por isso passou metade da vida a contrariar um regime político com o qual não concordava, assumindo os riscos e as consequências sempre de cabeça erguida. Nunca deixou de acreditar e defender aquilo em que acreditava.

Foi essa a sua herança para mim. Não o comunismo, que não posso subscrever, tal como não subscrevo nenhuma outra doutrina política, mas o ensinamento de que é preciso conhecer para poder escolher e assumir as nossas escolhas não com instransigência, mas com convicção.

Para mim, uma pessoa é mais do que a sua expressão social, é mais do que uma estatística ou um voto e nenhuma política, filosofia ou religião devem ditar e delimitar os nossos caminhos.