(...)
O Alberto era doente renal crónico. Depois de anos de hemodiálise, conseguiu ser transplantado. Hoje vive bem com o rim que não lhe pertence, mas que lhe trouxe vida nova e a possibilidade de fazer coisas que antes lhe estavam proibidas. Lembro-me de uma noite em que fui visitá-lo e ele me mostrou vários álbuns de fotografias. Tinham sido todas tiradas em fins de semana, as 48 horas de liberdade que a doença lhe concedia, já que, devido à hemodiálise, não se podia afastar muito do hospital. Lembro-me da alegria nos olhos do Alberto enquanto me mostrava aquelas fotografias – eram os momentos em que era livre, saudável, normal. Naquelas alturas não dependia de nada ou de ninguém.
Depois das fotografias falámos das semanas no hospital e o Alberto disse-me uma coisa que nunca irei esquecer. Disse-me que havia três épocas no ano em que os doentes à espera de transplante ganhavam nova esperança: Páscoa, férias e Natal. Referia-se aos acidentes de viação que ocorrem em maior número nessas épocas. Primeiro senti-me chocada. Como pode um ser humano ter esperança na morte de outro? Depois compreendi e hoje compreendo melhor do que nunca.
O Alberto soube quem foi o seu dador. Um rapaz de 18 anos que sofreu um acidente de mota. Excesso de velocidade. Nunca o esquece, tenho a certeza. Nessa noite, falámos dele também, doador involuntário de vida que nunca conhecemos, mas que estava ali tão presente como nós.
Depois das fotografias falámos das semanas no hospital e o Alberto disse-me uma coisa que nunca irei esquecer. Disse-me que havia três épocas no ano em que os doentes à espera de transplante ganhavam nova esperança: Páscoa, férias e Natal. Referia-se aos acidentes de viação que ocorrem em maior número nessas épocas. Primeiro senti-me chocada. Como pode um ser humano ter esperança na morte de outro? Depois compreendi e hoje compreendo melhor do que nunca.
O Alberto soube quem foi o seu dador. Um rapaz de 18 anos que sofreu um acidente de mota. Excesso de velocidade. Nunca o esquece, tenho a certeza. Nessa noite, falámos dele também, doador involuntário de vida que nunca conhecemos, mas que estava ali tão presente como nós.
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