Dia Europeu em Memória das Vítimas de Acidentes Rodoviários II
Por vezes, quando desço a escada do prédio onde moram os meus pais, ao passar pelo 1º direito, vem-me um cheiro a torradas. Não umas torradas quaisquer, mas torradas feitas com pão alentejano, bem tostadas. Ainda me lembro do barulho da faca a raspar o excesso de queimado, para logo a seguir encher ambos os lados de manteiga que se derretia e escorria para o prato. Tenho esta lembrança desde pequeno. Desde que me lembro. Cresci naquele prédio. Os vizinhos eram como família.
No 1º andar direito, moravam a Alice e a Marta, mãe e filha. A Alice era uma senhora alentejana, muito bem disposta, sempre alegre. A Marta é da minha idade, andámos juntos na escola, fomos nomeados namoradinhos de infância. Por vezes, eu, a Marta, a minha mãe e a Alice saíamos. Íamos passear. No Verão íamos até à mata de Benfica, ou passear pelos campos floridos da Venda Nova (quando ainda eram campos e quando ainda eram floridos). Muitas vezes, de manhã, após as compras, acabávamos em casa da Alice a beber café com leite e a comer aquelas torradas deliciosas, cujo cheiro se entranhou na minha memória.
O pai da Marta, morreu quando tínhamos 14 anos. As duas irmãs casaram e saíram de casa. Naquela casa, viviam apenas as duas, mãe e filha. Uma completava a outra, uma fazia companhia à outra. Passaram-se anos assim. Eu e a Marta crescemos, as nossas mães amadureceram, os nossos laços mantiveram-se.
Um dia, ao chegar a casa, vindo do trabalho, a minha mãe com os olhos húmidos diz-me que a Alice morreu. Não quis acreditar. A Alice transmitia saúde a quem a visse. Como poderia ter morrido? Mas morreu. Não de doença, mas devido à incúria de um automobilista. Morreu, sem qualquer aviso, atropelada numa passadeira para peões quando chegava a casa após mais um dia de trabalho. Atropelada, arrastada alguns metros, numa rua a subir e com bastante inclinação, por um condutor distraído. Morreu ali. O condutor, nem sequer tinha seguro...
A Marta ficou sozinha, apoiada pelas irmãs, pelos vizinhos, pelos amigos.
Quando o cheiro de torradas paira no ar, penso na Alice e na sua morte...
No 1º andar direito, moravam a Alice e a Marta, mãe e filha. A Alice era uma senhora alentejana, muito bem disposta, sempre alegre. A Marta é da minha idade, andámos juntos na escola, fomos nomeados namoradinhos de infância. Por vezes, eu, a Marta, a minha mãe e a Alice saíamos. Íamos passear. No Verão íamos até à mata de Benfica, ou passear pelos campos floridos da Venda Nova (quando ainda eram campos e quando ainda eram floridos). Muitas vezes, de manhã, após as compras, acabávamos em casa da Alice a beber café com leite e a comer aquelas torradas deliciosas, cujo cheiro se entranhou na minha memória.
O pai da Marta, morreu quando tínhamos 14 anos. As duas irmãs casaram e saíram de casa. Naquela casa, viviam apenas as duas, mãe e filha. Uma completava a outra, uma fazia companhia à outra. Passaram-se anos assim. Eu e a Marta crescemos, as nossas mães amadureceram, os nossos laços mantiveram-se.
Um dia, ao chegar a casa, vindo do trabalho, a minha mãe com os olhos húmidos diz-me que a Alice morreu. Não quis acreditar. A Alice transmitia saúde a quem a visse. Como poderia ter morrido? Mas morreu. Não de doença, mas devido à incúria de um automobilista. Morreu, sem qualquer aviso, atropelada numa passadeira para peões quando chegava a casa após mais um dia de trabalho. Atropelada, arrastada alguns metros, numa rua a subir e com bastante inclinação, por um condutor distraído. Morreu ali. O condutor, nem sequer tinha seguro...
A Marta ficou sozinha, apoiada pelas irmãs, pelos vizinhos, pelos amigos.
Quando o cheiro de torradas paira no ar, penso na Alice e na sua morte...
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