26 janeiro 2004

The Thin Red Line

A morte toca-me. Comove-me. Estristece-me.
Há circunstâncias em que me toca mais profundamente. Pelas causas, pela vida que ceifa, pela impotência que assumimos perante tal destino.
Ontem, estava a ouvir o relato do jogo Vitória de Guimarães-Benfica, aquando da perda de sentidos do futebolista Miklos Fehér. De seguida, ouvi que lhe estavam a fazer massagem cardíaca. De imediato tomei consciência que era grave. Muito grave.
O diagnóstico fatal, veio cerca de 2 horas depois. Miklos Fehér não tinha resistido.
A sua morte tocou-me, como tocam todas as mortes de que tenho conhecimento. Mas esta tocou-me especialmente. Ainda na passada sexta-feira tinha estado a falar com a Sonia, sobre a morte, sobre paragem cardíaca, sobre o futebol, sobre o Kanu a quem foi diagnosticado exactamente o mesmo problema que eu tinha (NR: o Kanu não morreu, o problema foi detectado e ele foi operado, continuando a sua carreira futebolística), sobre os excessos que cometi, sobre os que continuo a cometer diáriamente. Nestas alturas, mais que em qualquer outra, quem tem antecedentes, semelhantes ou não, lembra-se como a vida é frágil e como a linha que a segura é fina demais para ser esticada. Ganhamos consciência. Temos medo.
Volto para a sala. Na televisão observo os jogadores do Benfica, seus colegas, de cabeça perdida, chorando compulsivamente, de joelhos, erguendo as mãos ao céu, outros, de mãos no peito, rezando. As imagens repetidas várias vezes, mostram como somos impotentes, como não há necessidade de guerras, guerrinhas e discussões, sobre assuntos sem qualquer importância. A vida é curta demais para chatices e problemas. Por vezes, até curta demais para ser vivida.