11 fevereiro 2004

Arte do dia


São Vicente

(Painéis de São Vicente de Fora ou Veneração de São Vicente, Portugal, 2ª metade do séc. XV. Obra atribuída à oficina de Nuno Gonçalves, pintor régio de D. Afonso V, cuja actividade se encontra documentada entre 1450 e 1492. Em exposição permanente no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa)

De uma janela no Tempo, a sociedade portuguesa do séc. XV espreita os seus descendentes com incessante curiosidade. Todas as classes estão representadas neste políptico, pois todas haviam sido convocadas para a missão de construir um novo país, um novo reino, um império. Era a vontade de Deus. Era a vontade do rei. Era a vontade de todos, embora as motivações que conduziam a uma memsa Vontade fossem muito diferentes entre si.

Valeu a pena? Como disse o poeta, tudo vale a pena se a alma não é pequena. Cometeram-se grandes injustiças, crimes atrozes que não podem e não devem ser esquecidos. Não se descobriu absolutamente nada, mas redescobriram-se os homens noutras raças, noutras tarefas, noutras responsabilidades e circunstâncias, noutros conhecimentos.

Não se deram novos mundos ao mundo, porque eles já existiam e o facto de a toda poderosa Europa não ter deles conhecimento não punha em causa a sua existência, mas revelaram-se a aprenderam-se culturas e modos de vida diferentes. Se muitos não tivessem sido aniquilados em sangue e sombra, como escreveu Neruda, não tenho quaisquer dúvidas de que hoje todos seríamos muito mais ricos.

Mas é este precisamente o último território a conquistar e também o mais difícil: respeitar o nosso semelhante e, em vez de fugir da diferença, procurar aprender com ela.