Faz hoje dois meses que te foste embora, ou melhor, que te mandaram embora, porque tu não querias ir. Apesar de tudo, amavas a vida e os prazeres. A boa comida e a boa bebida, as viagens, as patuscadas entre amigos. Tudo isso nos foi roubado, de ti e de nós, porque desde a tua partida, tudo ficou mais insosso, mais escuro, mais triste.
A voz da Nara Leão é feita de veludo. Não sei de que côr, talvez de um azul intenso, profundo como o mar, cheia de segredos e doçuras que nos murmuram suaves tristezas ao ouvido. Ouço-a e lembro-me de ti. Na verdade, respiro e lembro-me de ti. Nunca sais da minha cabeça, assim como nunca sairás da minha vida.
A tua saudade corta com’um aço de navalha...
O que me dói, sabes, não é a saudade de momentos passados. Esses foram bem vividos. Também não me entristece falar contigo porque, dentro de mim, acredito que me consegues ouvir, se calhar até melhor agora do que quando vivias neste mundo porque agora não há barulho à nossa volta, não há mais ninguém, não há fronteiras. Tu podes ler o meu pensamento e eu nem preciso mexer os lábios. Basta o bater do coração. O que me dói é a ausência do futuro. E choro por dentro e por fora, como não sabia que pudesse chorar. Não imaginava que existissem tantas lágrimas neste mundo.
O coração fica aflito, bate uma e a outra falha...
Disseram-me que, sempre que pensasse em ti, devia imaginar o sol dentro de mim. Um sol imenso e quente, que se fractura em mil raios de luz que atravessam o meu corpo e me aquecem o pensamento. É isso que faço. Mesmo assim, procuro fazer-te viver. Conduzo o teu carro, cheiro os teus perfumes, quero ver as tuas camisas vestidas, usadas, vivas no corpo de alguém. Mexo nas tuas gavetas como fazia dantes, falo de ti no presente e com naturalidade, como se, a qualquer momento fosses entrar pela porta, a protestar, a dizer que está demasiado calor ou que eu estacionei mal o carro, ou que as dores do reumático não te deixam em paz. “O meu reino por um momento de tempo”, disse uma rainha inglesa antes de morrer. Não tenho reino, não tenho nada, mas daria a vida por um momento, por um abraço. Porque o último beijo que te dei, apesar de, na altura, não saber que seria o último, não o esqueço, mas queria ter-te dado pelo menos mais um abraço – se soubesse que tinhas uma viagem tão longa pela frente.
E os olhos se enchem d’água...
A voz da Nara Leão é feita de veludo. Não sei de que côr, talvez de um azul intenso, profundo como o mar, cheia de segredos e doçuras que nos murmuram suaves tristezas ao ouvido. Ouço-a e lembro-me de ti. Na verdade, respiro e lembro-me de ti. Nunca sais da minha cabeça, assim como nunca sairás da minha vida.
A tua saudade corta com’um aço de navalha...
O que me dói, sabes, não é a saudade de momentos passados. Esses foram bem vividos. Também não me entristece falar contigo porque, dentro de mim, acredito que me consegues ouvir, se calhar até melhor agora do que quando vivias neste mundo porque agora não há barulho à nossa volta, não há mais ninguém, não há fronteiras. Tu podes ler o meu pensamento e eu nem preciso mexer os lábios. Basta o bater do coração. O que me dói é a ausência do futuro. E choro por dentro e por fora, como não sabia que pudesse chorar. Não imaginava que existissem tantas lágrimas neste mundo.
O coração fica aflito, bate uma e a outra falha...
Disseram-me que, sempre que pensasse em ti, devia imaginar o sol dentro de mim. Um sol imenso e quente, que se fractura em mil raios de luz que atravessam o meu corpo e me aquecem o pensamento. É isso que faço. Mesmo assim, procuro fazer-te viver. Conduzo o teu carro, cheiro os teus perfumes, quero ver as tuas camisas vestidas, usadas, vivas no corpo de alguém. Mexo nas tuas gavetas como fazia dantes, falo de ti no presente e com naturalidade, como se, a qualquer momento fosses entrar pela porta, a protestar, a dizer que está demasiado calor ou que eu estacionei mal o carro, ou que as dores do reumático não te deixam em paz. “O meu reino por um momento de tempo”, disse uma rainha inglesa antes de morrer. Não tenho reino, não tenho nada, mas daria a vida por um momento, por um abraço. Porque o último beijo que te dei, apesar de, na altura, não saber que seria o último, não o esqueço, mas queria ter-te dado pelo menos mais um abraço – se soubesse que tinhas uma viagem tão longa pela frente.
E os olhos se enchem d’água...
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