08 outubro 2003

She walks in beauty, like the night
Of cloudless climes and starry skies;
And all that 's best of dark and bright
Meet in her aspect and her eyes


Pediram-me para fazer uma tradução deste poema de Byron. Já o conhecia, mas nunca o tinha "dissecado" com olho técnico. É impressão minha ou o primeiro verso é das obras mais sublimes que se podem construir com palavras? Qualquer tradução, por melhor que seja, fica sempre aquém da imagem evocada.

Há cenários que os artífices das palavras modelam mas que só podem existir no palácio da nossa memória (por falar em "palácio da memória", eis mais uma imagem sublime do escritor Thomas Harris. "The Memory Palace", o lugar onde o Dr. Hannibal Lecter guarda as suas recordações). Há ideias que simplesmente não é possível "de-construír", explicar, definir, desmantelar, a menos que se seja uma desas criaturas abençoadas que juntam palavras e sentimentos como se fossem areia e água e, com a maior facilidade deste mundo, constroem castelos resplandecentes de beleza e fragilidade - como se fossem crianças a brincar à beira mar.

Da mesma forma, há sentimentos que não se deixam colar às palavras, fazendo-as todas parecer demasiado fracas para os prender.

É por isso que a leitura é o meu vício. Porque, embora não tendo esse "dom", sei reconhecê-lo e prestar-lhe a homenagem devida e sentida. E, se o saber tem de ocupar algum lugar (o meu avô jurava que sim e tinha alguma razão, já que a memória humana vai "apagando" informação para dar lugar a novas lembranças), então que ocupe o das recordações menos boas e encha o meu Palácio de alegria e prazer.