28 novembro 2003

(des)Conto Infantil - Parte II

(continuação)
Chegado ao local, o agente tentou logo mostrar à nossa princesa, toda a maravilhosa paisagem que envolvia a barraca. Mostrou-lhe edifícios, uns em cima de outros, sem qualquer ordenação territorial. Uma amálgama de formas que parecia saída de um qualquer aperitivo do Frank Gehry em fim de jantar.
A princesa, olhou em volta e o que mais gostou foi daqueles "arcos lindos" que cruzavam a avenida.
- Que maravilha! Abriram arcos no muro para passar o trânsito. Somos um povo bestial! - exclamou.
- Desculpe menina, mas os arcos já existiam. Aquilo é um aqueduto, e não um muro.
- A sério ?? Ninguém diria! E serve para quê ?
- Servia para levar água para a cidade de Lisboa.
- Ahhhhh! Pelo aspecto já deve ser do tempo do João Só Ares.
O agente imoboliário engoliu em seco e resolveu apressar o negócio. Entraram então em casa, e logo na entrada, um fabuloso hall recebeu-os. A princesa, deu uma volta pela casa, e soltando um grito histérico (assim do género: Áiiiiiii!) cai para o chão. O agente tentou então reanimar a princesa, com estaladas para cima e estaladas para baixo. Pela porta entreaberta, vários curiosos que entretanto quiseram ver a nova inquilina, ao ver o vendedor à estalada à princesa, chamaram de imediato a PSP, que ao chegar ao local, algemou e levou o vendedor para os calabouços mais próximos acusado de agressão. A princesa, coitada, continuava inanimada no chão. Os vizinhos sempre solícitos, resolveram ajudar, levando cada um para a sua casa, um dos malões que entretanto a companhia de mudanças, havia entregue. Num ápice a entrada da barraca ficou deserta e a princesa estendida, sózinha no chão. Ao fim do dia, dois jovens residentes no bairro, ao ver a porta daquela barraca aberta, resolveram entrar. Viram então que a casa estava vazia, com excepção da presença da nossa princesa. Descontraídos, resolveram acender um charro e fumá-lo. Ao fim de duas passas, o fumo que pairava no ar, chegou ao narizinho empinado da nossa princesa. Ela abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi dois jovens fumando o seu charro. De imediato, levantou-se, e dirigindo-se a eles, pediu uma passa, que inspirou com agrado.
Os jovens, passado o susto inicial da reanimação da princesa, mostraram-se agradados com a sua presença.
- Como te chamas ? - perguntaram em coro.
- Marisa. E vocês ?
- Eu sou o Joaquim Estrela e ele é o José Palácio-Negro.
- Vocês salvaram-me a vida. Sou vossa. Façam de mim o que quiserem.
Um sorriso nasceu naquelas faces, e após um abraço apertado a três, deu-se início a uma bela amizade e cumplicidade. Tendo aquele trio vivido feliz para sempre. (FIM)