26 novembro 2003

Cinema Paraíso

Desde pequena que adoro cinema. Ir ao cinema foi sempre uma festa, uma antecipação de magia, uma passagem para outros universos, outras histórias, carregadas de emoções.

Confesso que os cinemas em série dos centros comerciais, as pipocas, e a falta de educação de alguns espectadores esfriaram um pouco o meu encantamento, mas enquanto existirem o King, o Quarteto, o Londres, O Nimas e o Ávila, ir ao cinema continuará a ser sempre uma ocasião solene.

Lembro-me do Monumental e da última vez que lá entrei para ver cinema (nunca lá assisti a nenhuma peça, a alma da Srª D. Laura Alves que me perdoe, mas no pouco que a televisão me deixou ver do seu trabalho, admiro-lhe sem dúvidas o talento e a paixão). "Flash Gordon", o último filme antes do encerramento definitivo, creio eu, do filme lembro-me pouco, apenas que tinha música dos Queen, mas da sala lembro-me bem.

Lembro-me do Condes e dos seus cartazes gigantescos, alguns verdadeiras obras de arte. Para onde foram os artistas que os pintavam? Ainda não entrei no Hard Rock Caffe porque me entristece descobrir destroços daquela sala imponente.

Mas de todos, o meu preferido era o Éden. Não me consigo conformar com o facto de já não existir. Resta a fachada, ou parte dela, como que a dizer "Vêem como nós somos bons? Destruímos a sala de espectáculos, demos cabo do seu interior, matámos a função do espaço, recortámos a fachada, mas mantivémos estes bocadinhos porque gostamos de arte e sabemos reconhecer o seu valor.". Valia mais que o tivessem demolido por completo, como fizeram ao Monumental. Seria preferível a mutilarem-no daquela maneira.

Resta-nos o filme "Até ao fim do mundo" de Wim Wenders, um alemão que parece amar Lisboa muito mais do que a maioria dos lisboetas. Devem ser essas as ultimas imagens da magnífica escadaria interior do Éden.

O Politeama foi, em boa hora, comprado e recuperado. Já não passa cinema, mas tem estado sempre activo como sala de espectáculos graças ao Sr. Filipe La Féria. Embora não seja sua admiradora nem espectadora assídua dos seus espectáculos, tenho de aplaudi-lo e agradecer-lhe por não Ter deixado mais esta sala cair em esquecimento e ficar à espera que o Odeon, o Olímpia e o antigo Animatógrafo do Rossio (hoje uma sex shop) possam também ser recuperados e restituídos à sua função original.

Às vezes acontece-me ter saudades de uma época que não vivi. Os velhos cinemas transportam-me a uma época em que o cinema era um milagre e um mistério e ir ao cinema tinha honras de grande acontecimento.