27 novembro 2003

(des)Conto Infantil - Parte I

Era uma vez uma princesa que morava numa linda vivenda na Quinta da Ponteaguda com o seu pai, um cirurgião plástico famoso e a sua madrasta, uma bela ex-modelo de catálogos de lingerie, totalmente moldada em silicone pelas preciosas mãos do cirurgião.

A princesa tinha uma vida muito má, pobrezinha! A madrasta, terrível, levantava-se todos os dias às 11 horas da manhã e ligava a televisão aos altos berros, enquanto repetia os exercícios de yoga que o mestre Oprah Noodlemantra lhe tinha vendido em 600 cassetes VHS. A nossa princesa, acordava atarantada, e ainda com a boca a saber a papel de música polvilhado com cortiça, depois da noitada na discoteca da moda a Periferia, ali para os lados da Brandoa. Ao acordar assim, e ainda com os restos da noite bem passada, a fazer sentir a sua presença no organismo, a nossa princesa, passava sempre o resto do dia rodeada de sacos de gelo, sorvendo goladas de Guronsan, para tentar debelar a sua enorme dor de cabeça.

Um dia, após tantas manhãs desperdiçadas acordada, a nossa princesa tomou uma decisão. Agarrou no seu cartão de crédito Gold, encheu com umas roupitas 4 malões Louis Vuitton (que deixou na entrada da sua vivenda para serem resgatados pela Companhia de Mudanças Vou Num Pé e Volto Noutro), e atestando o seu cabriolet para uma viagem que não sabia onde terminaria, fez-se à estrada.

Após cerca de 3 horas, perdida no trânsito dos arredores da cidade de Lisboa, onde quase foi vítima de 12 acidentes, culpada de 3 atropelamentos e um manguito para o fogareiro que teimou em meter-se à sua frente, chegou finalmente ao seu destino: a Cova da Loba, ali para os lados da Esburacada.

Durante o caminho, e através do seu telemóvel XXS topo de gama, tinha entrado em contacto com uma imobiliária, a quem tinha alugado uma barraca de 7 assoalhadas, terraço e jardim com piscina.
Chegando à Cova da Loba, e estacionando o seu cabriolet em frente à sua nova moradia, a princesa ligou então para a companhia de mudanças para lhes dar o endereço onde deveriam entregar as suas "malinhas". Ao seu encontro foi também o agente imobiliário, responsável pelo aluguer da barraca. (continua brevemente)