27 janeiro 2004

Pura Sabedoria

Na década de 50 do séc. XIX, o governo dos Estados Unidos da América começou a comprar (e a usurpar) a terra ocupada pelos nativos americanos para poder instalar os colonos que se começavam a deslocar para Ocidente. Em 1854 o Chefe índio Seattle escreveu esta carta ao Presidente Franklin Pierce. Considero este documento como o texto mais verdadeiro que alguma vez me foi dado conhecer. São palavras de pura Sabedoria, de uma sensibilidade que o Ocidente não reconhece e menospreza.

O Presidente em Washington manda dizer-nos que quer comprar a nossa terra. Mas como se pode comprar ou vender o céu? E a terra? Esta ideia é-nos estranha. Se não somos donos da frescura do ar e do som cristalino da água, como poderão vocês comprá-los?

Cada parte desta terra é sagrada para o meu povo (...) Somos parte da terra e ela é parte de nós. (...) A água brilhante que se move nos riachos não é apenas água, mas o sangue dos nossos antepassados. Se vos vendermos a nossa terra, devereis lembrar-vos de que ela é sagrada. Cada espectro reflectido nas águas claras dos lagos conta as histórias e as memórias da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz do pai do meu pai. (...)

Ensinareis aos vossos filhos o que nós ensinámos aos nossos? Que a terra é a nossa mãe? O que acontece à terra acontece aos filhos da terra.

Isto sabemos: a terra não pertece ao homem, é o homem que lhe pertence. Todas as coisas estão ligadas como o sangue que nos une. O homem não teceu a teia da vida, ele é apenas um fio. Tudo o que faz à teia, faz a si mesmo. (...)

O vosso destino é um mistério para nós. O que acontecerá quando os búfalos tiverem sido todos sacrificados? Quando os cavalos tiverem sido todos domados? O que acontecerá quando os recantos secretos da floresta se encherem do cheiro do homem e a paisagem dos montes for manchada com fios para comunicar? (...) Será o fim da vida e o início da sobrevivência.

Quando o último homem vermelho tiver desaparecido com o seu mundo selvagem e a sua memória mais não for do que a sombra de uma núvem que atravessa a pradaria, estas costas e estas florestas ainda existirão? Ainda restarão alguns espíritos do meu povo?

Amamos esta terra como um recém nascido ama o bater do coração da sua mãe. Se vo-la vendermos, amai-a como nós a amamos. Cuidai dela como nós cuidamos. (...) Preservai a terra para todas as crianças e amai-a. (...)

Uma coisa sabemos: só existe um deus. Nenhum homem, seja ele vermelho ou branco, pdoe ser seperado. Apesar de tudo, somos irmãos.