Personalidade do dia - Mário de Sá-Carneiro
Mário de Sá-Carneiro nasceu em Lisboa em 19 de Maio de 1890 e morreu em Paris a 26 de Abril de 1916. Filho único de pai engenheiro, a mãe morreu quando ele tinha dois anos. De infância e adolescência difíceis, marcadas pela angústia e pela solidão, em 1912 partiu para Paris, onde pretendeu estudar direito. Freqüentando o curso irregularmente, jamais chegou a formar-se.Às dificuldades emocionais somaram-se as de ordem material. O único amigo era Fernando Pessoa, que o compreendeu e ajudou como pôde. Em Lisboa (1913), introduziu-o entre os modernistas da revista Orfeu. No ano seguinte aparecia o seu livro de poemas, Dispersão. Nas cartas enviadas para Fernando Pessoa acompanha-se o ritmo crescente de seus problemas, o seu desespero, até ao suicídio no hotel Nice.
Sobre ele, disse Fernando Pessoa: "Sá-Carneiro não teve biografia: teve só génio. O que disse foi o que viveu."
Texto de Ana Nascimento Piedade
Além Tédio
Nada me expira já, nada me vive
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.
Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.
Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.
Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu... Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!
Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.
E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...
Mário de Sá-Carneiro
Sobre ele, disse Fernando Pessoa: "Sá-Carneiro não teve biografia: teve só génio. O que disse foi o que viveu."
Texto de Ana Nascimento Piedade
Além Tédio
Nada me expira já, nada me vive
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.
Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.
Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.
Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu... Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!
Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.
E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...
Mário de Sá-Carneiro
0 Novas Memórias:
Enviar um comentário
<<Página Principal