16 março 2004

Natália Correia (1923-1993)

11 anos depois...

Fotografia de Natália Correia existente no Site Laur@'s Poesias"Natália Correia nasceu em 1923, em Ponta Delgada, nos Açores. Em 1934, a mãe vai para Lisboa, e Natália Correia é transferida para o Liceu Filipa de Lencastre. Casa-se com Álvaro dos Santos Dias Pereira, em 1942 e, em 1944, torna-se jornalista da Rádio Clube Português. Publica o primeiro livro infantil em 1945, "As Aventuras de um pequeno herói", ano em que conhece Mário Soares. Inicia a colaboração no jornal "Portugal, Madeira e Açores" e assina as listas do MUD (Movimento de União Democrática).

Publicou o primeiro poema em 1946, "Manhã Cinzenta", no mesmo jornal. Nesse ano, publica o primeiro romance, "Anoiteceu no Bairro". Em 1947, publica "Rio de Nuvens" (poesia) e inicia a colaboração no jornal "Sol". Em 1949, casa com William Creighton Hylen, com quem visita a costa Leste dos EUA - viagem que motiva o livro "Descobri que era Europeia" (publicado em 1951). Torna-se amiga de Cruzeiro Seixas e Isabel Meyrelles.
(...)
É julgada e condenada a três anos de pena suspensa devido à publicação da "Antologia de Poesia Erótica". Torna-se directora literária do Estúdio Cor e em 1972 publica "Novas Cartas Portuguesas" (de Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno), mas a Censura retira o livro de circulação.

Continua a publicar e a escrever freneticamente todos os anos e a envolver-se em "confrontos" com a censura. Em 1976, é convidada para assessora de David Mourão-Ferreira como secretária de Estado da Cultura. Em 1980 torna-se deputada à Assembleia da República, cargo que ocupará até à sua morte, em 1993."


Leia a biografia de Natália Correia no Público


Natália Correia, Do sentimento trágico da vida

Não há revolta no homem
que se revolta calçado.
O que nele se revolta
é apenas um bocado
que dentro fica agarrado
à tábua da teoria.

Aquilo que nele mente
e parte em filosofia
é porventura a semente
do fruto que nele nasce
e a sede não lhe alivia.

Revolta é ter-se nascido
sem descobrir o sentido
do que nos há-de matar.

Rebeldia é o que põe
na nossa mão um punhal
para vibrar naquela morte
que nos mata devagar.

E só depois de informado
só depois de esclarecido
rebelde nu e deitado
ironia de saber
o que só então se sabe
e não se pode contar.