19 maio 2004

Poesia - Natália Correia I

(a Marcelo Rebelo de Sousa)

Marcelo, em cupidez municipal
de coroar-se com louros alfacinhas,
atira-se valoroso - ó bacanal! -
ao leito húmido das Tágides daninhas.

Para conquistar as Musas de Camões,
lança a este, Marcelo, um desafio:
jogou-se ao verso o épico? Ilusões!...
Bate-o Marcelo que se joga ao rio.

E em eleitorais estrofes detemidas,
do autárquico sonho, o nadador
diz que curara as ninfas poluída
com o milagre do seu corpo em flor.

Outros prodígios - dizem - congemina:
ir aos bairros de lata e ali, sem medo,
dormir para os limpar da vil vérmina
e triunfal ficar cheio de pulguedo.

Por fim, rumo ao céu, novo Gusmão
de asa delta a fazer de passarola,
sobrevoa Lisboa o passarão
e perde a pena que é de galinhola.