Quando morre um dos nossos pais, incia-se um processo de medo constante. Abre-se a caixa de Pandora e, de repente, percebemos que os nossos pais são mortais e que, mais cedo ou mais tarde, iremos perder o outro. Então, aquela parte mais irracional grita-nos das entranhas que o melhor é ser já, agora, o mais depressa possível, porque estamos a viver uma dor adiada, que já conhecemos em parte. Sabemos que o pior ainda está para vir. É a única dor que, de certeza, vamos ter de viver duas vezes.
Mas, sempre que alguma coisa acontece, é como se dezenas de muros se erguessem imediatamente à nossa volta, pensamos, a caminho de casa ou do hospital, que é agora, é desta vez, que vamos passar por tudo de novo e vamos, de facto, saber o que é ficar órfão. E, instintivamente, vamo-nos tornando em gelo porque já sabemos qual a violência do impacto.
Mas, durante a espera, única prece nos ocorre: ainda não, por favor, ainda não. Eu ainda não estou preparada para isto. Como se realmente acreditasse que algum dia virei a estar…
Depois ultrapassa-se a crise e a calma aparente regressa. Mas vive-se sempre alerta, com os olhos no telemóvel e o sono irregular. Estamos sempre sentados na ponta da cadeira, nunca nos acomodamos demasiado tempo num lugar, porque podemos ter de, a qualquer momento, começar a correr. Excepto se esse lugar for tão longe que, mesmo que quiséssemos, não poderíamos acudir e então acontece o fenómeno: a paz. Dormimos uma noite inteira e respiramos fundo porque a distância desresponsabiliza-nos, torna-nos confortavelmente impotentes.
Ontem fiquei a saber que a minha mãe pode ficar cega. Ela tem muitas dificuldades de visão, mas a pouca que tem é suficiente para as actividades mais básicas de cada dia. Ou melhor, ela foi perdendo o sentido ao longo dos anos, e, com mais ou menos revolta, foi-se adaptando às crescentes limitações. Mas a cegueira total aos 70 anos é uma ideia para a qual nem ela nem eu estávamos preparadas. Pode não acontecer. Mas existe essa possibilidade.
Não falámos sobre o assunto. Eu fiz a minha postura forte e decidida e fingi ser optimista. Ela fingiu acreditar em mim.
Ver os nossos pais envelhecer é um triste privilégio. Vê-los morrer é…
Mas, sempre que alguma coisa acontece, é como se dezenas de muros se erguessem imediatamente à nossa volta, pensamos, a caminho de casa ou do hospital, que é agora, é desta vez, que vamos passar por tudo de novo e vamos, de facto, saber o que é ficar órfão. E, instintivamente, vamo-nos tornando em gelo porque já sabemos qual a violência do impacto.
Mas, durante a espera, única prece nos ocorre: ainda não, por favor, ainda não. Eu ainda não estou preparada para isto. Como se realmente acreditasse que algum dia virei a estar…
Depois ultrapassa-se a crise e a calma aparente regressa. Mas vive-se sempre alerta, com os olhos no telemóvel e o sono irregular. Estamos sempre sentados na ponta da cadeira, nunca nos acomodamos demasiado tempo num lugar, porque podemos ter de, a qualquer momento, começar a correr. Excepto se esse lugar for tão longe que, mesmo que quiséssemos, não poderíamos acudir e então acontece o fenómeno: a paz. Dormimos uma noite inteira e respiramos fundo porque a distância desresponsabiliza-nos, torna-nos confortavelmente impotentes.
Ontem fiquei a saber que a minha mãe pode ficar cega. Ela tem muitas dificuldades de visão, mas a pouca que tem é suficiente para as actividades mais básicas de cada dia. Ou melhor, ela foi perdendo o sentido ao longo dos anos, e, com mais ou menos revolta, foi-se adaptando às crescentes limitações. Mas a cegueira total aos 70 anos é uma ideia para a qual nem ela nem eu estávamos preparadas. Pode não acontecer. Mas existe essa possibilidade.
Não falámos sobre o assunto. Eu fiz a minha postura forte e decidida e fingi ser optimista. Ela fingiu acreditar em mim.
Ver os nossos pais envelhecer é um triste privilégio. Vê-los morrer é…
2 Novas Memórias:
Não sei. Beijinho miúda.
O homem que disse:
"A nossa existência é transitória como as nuvens do outono. Observar o nascimento e a morte dos seres é como olhar os momentos da dança. A duração da vida é como o brilho de um relâmpago no céu, tal como uma torrente que se precipita montanha abaixo."
também disse:
"Viver apenas um dia e ouvir um bom ensinamento é melhor do que viver um século sem conhecer tal ensinamento."
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