30 março 2009

Preservativo (ou não) - Reacção oficial do Convento

Não querendo passar por cima da hierarquia deste convento, mas pedindo desde já licença ao Sr. Papa Rottweiller...ai perdão! Ratzinger, aqui vai a reacção oficial deste Convento à questão do preservativo: usá-lo o, abusá-lo ou deixá-lo?

Primeiro: abusá-lo não convém. Repetir na vida real o que se faz no filme "Delicatessen", onde um presevativo é recauchutado com pastilha elástica não nos parece uma boa prática, até porque toda a gente conhece a natureza dos espermatozóides, que são autênticos McGyvers e fazem de tudo para conseguir chegar ao seu destino, se bem que este se revele, por vezes, bastante inglório (por exemplo, no caso das ditas relações impróprias, segundo a definição do Cardeal Clinton).

Segundo: usá-lo parece ser o melhor remédio. Verifico ainda com grande alegria que a empresa farmacêutica que produz o preservativo feminino escolheu esta altura para lançar o produto. É o que eu chamo um golpe de génio! Agora a Igreja tem agora dois campos de batalha e terá de preocupar-se também em enquadrar os elementos femininos do clero.

Terceiro: deixá-lo. Pode ser, mas convém ver onde, porque no chão, na sacristia ou no confessionário, não convém. É que algum fiel pode escorregar e lá se vai tudo o que Marta fiou, isto para manter a retórica dentro da moral estritamente católica.

Finalmente: o nosso louvor ao Sr. bispo de Viseu, que provou para que serve o livre arbítrio de que Deus dotou as criaturas ditas humanas e, apesar da engrenagem, continua a pensar por si o que, nos dias que correm, parece ser cada vez mais difícil.

Mas claro que, sendo nós um estabelecimento católico de primeira categoria, não podemos deixar de afagar (respeitosamente...) os nossos amigos católicos, legitimamente feridos nos seus interesses por esta quezília e, portanto, deixamo-los com uma música que bem pode ser o hinoda Santa Madre para esta causa.

Every sperm is sacred
Every sperm is great
If a sperm is wasted
God gets quite irate
(....)
Every sperm is wanted
Every sperm is good
Every sperm is needed
In your neighborhood

28 março 2009

A necessidade é a mãe da invenção

Li esta frase há muitos anos atrás, numa versão infantil de "Robinson Crusoe" e nunca mais me esqueci dela, até porque a minha mãe, de quem herdei o livro, também a fixou e gostava de a repetir.

Compreendo o seu significado. Quando somos empurrados para uma situação, o espírito de sobrevivência manda-nos agir, criar, arranjar soluções. Foi o que aconteceu comigo esta semana.

Sempre tive uma relação ambivalente com agulhas, bisturis, sangue e actos médicos em geral. Passo a explicar: tenho alturas em que quase nada me afecta (poucas, muito poucas...) e outras (a esmagadora maioria) em que desmaio quando vejo sangue. E nem é preciso ser uma grande quantidade, como no dia em que o capot do carro me caíu em cima de um dedo e saltou uma lasca de carne. Nada de dramático, mas acabei por desmaiar. Acordei, momentos depois, ao som das gargalhadas do amigo com quem estava...é sempre bom ter amigos assim...mas adiante.

A minha mãe toma anticoagulantes desde que teve um AVC, há cinco anos. Esta semana precisou fazer uma pequena cirurgia no dentista e, para isso, teve de interromper o medicamento e tomar injecções de heparina, para ajudar a coagulação. Procurei quem pudesse administrar-lhas, mas não foi fácil, até porque ela precisava de duas injecções por dia e eu não podia acompanhá-la. Além do mais, descobri, não com grande espanto, confesso, que a grande maioria dos postos de enfermagem fecha ao fim de semana...

Quando telefonei para o nosso centro de saúde, a enfermeira com quem falei propôs-me que fosse até lá aprender a dar injecções...fiquei estarrecida com a perspectiva de furar a barriga da minha mãe diariamente. Sei que isto pode parecer um bocadinho ridículo aos diabéticos, por exemplo, que se injectam várias vezes ao dia, mas para mim era inconcebível.

Mesmo assim, e porque não via outra solução, lá fui aprender a dar subcutâneas. Não sem antes ter tentado aprender com os educativos filmes do YouTube, na sua maioria feitos por norte americanos, que exibiam as barrigas anafadas e pejadas de hematomas....além do mais, todos diziam que a heparina "burns like hell" ao entrar...

Facto é que aprendi. E com grande nervoseira lá apliquei a primeira injecção na barriguita da mãe. Lá investi contra a minha primeira morada, por assim dizer. E depois da primeira veio a segunda e a terceira e, num piscar de olhos, a semana passou, a cirurgia fez-se sem problemas e só faltam duas "picas" para acabar.

Segundo a mãe, nem a tenho magoado, nem a heparina arde tanto assim. O problema são as nódoas negras, que vão deixando menos espaço para picar. mesmo assim, acho que não me saí mal. Consegui vencer um medo. Não desmaiei porque para era importante que ela confiasse em mim. Por isso fiz-me forte e descontraída (para tal fui buscar inspiração às séries de médicos e hospitais que gosto de ver).

Moral da história: nenhum em especial. A não ser talvez, que "You gotta do what you gotta do" ou, como dizia o Sr. Dafoe, que a necessidade é a mãe da invenção ou, neste caso, da coragem. peço desculpas uma vez mais aos que cumprem este tipo de ritual todos os dias, aos profissionais de saúde, para quem esta história é ridícula, à minha colega F., que o fez todos os dias durante meses para conseguir engravidar. Para mim, a "mariquinhas" que desmaia quando corta um dedo, foi importante conseguir fazer isto.

05 março 2009

Direitos iguais entre pessoas do mesmo sexo

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.”
(Declaração Universal dos Direitos do Homem, Proclamada pela Assembleia Geral da ONU a 10 de Dezembro de 1948, Artigo 1º)

“A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da personalidade, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra, à reserva da intimidade da vida privada e familiar e à protecção legal contra quaisquer formas de discriminação.”
(Constituição da República Portuguesa, Parte I – Direitos e deveres fundamentais, Artigo 26.º (Outros direitos pessoais), nº 1)

É por estas e muitas outras que eu nem percebo porque é que tem de haver discussão...

03 março 2009

Blogue Pornocrático - Ai, perdão! Por-no-grá-fi-co (assim é que é!) II


Perguntaram-me por que é que eu tinha "postado" a imagem de uma vulva e não de um pénis. Ora, para que a vulva de Courbet não se sinta só, e para que não digam que este Convento é preconceituoso, aqui vai uma belíssima fotografia do checo Jan Saudek.

Por qualquer razão, o nú masculino sempre foi menos utilizado do que o feminino na Arte. Talvez por ser mais complexo. Talvez por ser mais "explícito". Quem sabe se por timidez ou machismo. Facto é que o nú masculino esteve - e ainda está - muito ligado à homossexualidade. Enorme disparate! O corpo de um homem é tão bonito quanto o de uma mulher e a beleza não tem sexo ou idade.

Amem os vossos corpos. Mimem-nos. São eles que nos ligam ao mundo. São eles que nos permitem sentir. E são efémeros, frágeis, maravilhosos, precisos, falíveis e, mais quilo, menos quilo, todos rigorosamente iguais.

Não vale a pena perder tempo com a vergonha ou a comparar as diferenças. Somos humanos. A nossa grande prioridade deveria ser a felicidade - sem ter de pedir licença ou desculpas seja a quem for.