30 janeiro 2006

VERDE...

...lima?
Verde azeitona?
Verde garrafa?
Verde relva?

Não! Verde SPOOOOOOOORTING!

Vá lá rapazes, reajam! Afinal de contas, se ganhasse sempre o mesmo a coisa tornava-se um bocado monótona, não? Não se deixem ficar...

Verde melão,
Verde nabiça,
Verdes de inveja.

Em convalescença...

Depois de ter atingido os 40 e tal graus de febre no sábado à noite, e não por causa do Benfica-Sporting, que apesar de não ter visto e, segundo me disseram e li, só poderia haver um vencedor, o Sporting - parabéns a eles, mas devido à realização da Febre de Sábado 25 anos, cá estou regressado à realidade e em convalescença...
Sábado à noite houve mesmo alguns casos em que o estado febril quase causou a perda de sentidos ou o delírio, quando por exemplo os Taxi nos puseram a mascar Chiclete e a suportar as altas temperaturas do Cairo, ou ainda, quando o Grupo de Baile nos perfumou com Patchouli e os Trabalhadores do Comércio tiveram que impor a ordem chamando a polícia e ameaçando "Tás quietinho ou lebas no focinho". Em video, os Salada de Frutas ameaçam que Se cá nevasse, fazia-se cá esqui..., antecipando o domingo de neve que ontem se fez sentir. Correu-se em Cavalos de corrida logo a abrir o espectáculo e terminou-se aos gritos por uma rapariga chamada Marlise...
Ao longo de quase 4 horas de espectáculo, as palmas acompanharam os milhares de vozes que a cada novos acordes acompanhavam os hits de antigamente e nos fizeram voltar por momentos à infãncia e à adolescência dos anos 80.

DVD's - Informação

A Atalanta Filmes vai realizar no fim-de-semana de 4 e 5 de Fevereiro uma feira do DVD no cinema Monumental, em Lisboa.
Vão ser postos à venda diversos títulos a um preço único de 5 Euros. A feira decorre entre as 15:00 e as 22:00 de sábado e domingo.
Entre os títulos disponíveis estão «As Asas do Desejo», «Mulholland Drive» ou «A Maldição do Escorpião de Jade», entre muitos outros.

29 janeiro 2006

Está...

A nevar com alguma intensidade na Amadora, neste momento...

27 janeiro 2006

Aumento!

Este mês fui aumentado, segundo as expectativas da minha entidade patronal e até chegar a acordo com o Sindicato, em 1,5%.
O engraçado é que, mesmo com o aumento de 1,5% fiquei com um ordenado base mais probrezinho em 8 euros que no mês passado.
Como eu era empregado do extinto BIC, e, este pagava um pouco acima da tabela do ACTV Bancário, este mês, e após a fusão BIC/BES em que passsei a integrar os quadros do BES e a ser pago pela tabela em vigor no BES, mesmo com o aumento de 1,5% (uma fortuna) fiquei com um ordenado base mais baixo que anteriormente. Engraçado!
Como não posso ficar a ganhar menos, lá têm os colegas do departamento de pessoal, colocar o valor da diferença noutras contrapartidas... enfim...

26 janeiro 2006

Amadeus

Extraordinary! On the page it looked nothing. The beginning simple, almost comic. Just a pulse - bassoons and basset horns - like a rusty squeezebox. Then suddenly - high above it - an oboe, a single note, hanging there unwavering, till a clarinet took over and sweetened it into a phrase of such delight! This was no composition by a performing monkey! This was a music I'd never heard. Filled with such longing, such unfulfillable longing, it had me trembling. It seemed to me that I was hearing a voice of God.

a ouvir Serenade For Winds K.361 3rd Movement

Ano Mozart

Wolfgang Amadeus Mozart nasceu Johannes Chrysostomus Wolfgang Gottlieb Mozart, no dia 27 de Janeiro de 1756, em Salzburgo, Áustria. Representa, com Haydn, o ponto culminante da música no século XVIII.
Exemplo notável de precocidade criativa, aos 3 anos de idade recebia lições de piano, ministradas pelo pai; aos 4 fez a sua primeira composição; aos 7 tocava órgão, cravo e violino. Apresentou-se ao público pela primeira vez aos 6 anos, na universidade de Salzburgo. Mozart escreveu mais de 600 composições. Entre suas óperas merecem referência: A Flauta Mágica, Miltríades, La Finta Giardiniera, Zaída, inacabada, Idomeneu, o Rapto do Serralho, As Bodas de Fígaro, Don Giovani, Cosi Fan Trutte, A Clemência do Tito, etc. A música religiosa guarda bem as preciosidades das 15 missas, Te-Deums, 9 Ofertórios, De Profundis, Cantatas, 7 sonatas para órgão e o inimitável Requiem (compôs a Missa Requiem minado pela tuberculose). Trabalhava nesta missa, quando sofreu um ataque de paralisia, vindo a morrer no dia seguinte.
Apesar de sua vida curta, encontra-se entre os grandes génios da música. A sua imensa produção (mais de 600 obras) mostra uma pessoa que, desde criança, dominava a técnica da composição, além de possuir uma imaginação transbordante. As suas obras instrumentais incluem sinfonias, divertimentos, sonatas, música de câmara para diferentes combinações de instrumentos e concertos. As obras vocais são, basicamente, óperas e música religiosa (missas, oratórios). A sua obra combina as doces melodias do estilo italiano com a forma e o contraponto germânicos. Mozart sintetiza o classicismo do século XVII, simples, claro e equilibrado, mas sem fugir da intensidade emocional. Estas qualidades estão patentes em todos seus concertos, com os contrastes dramáticos entre o instrumento solista e a orquestra, e nas óperas, com as reacções das suas personagens diante de diferentes situações. A sua produção lírica coloca em evidência uma nova unidade entre a parte vocal e a instrumental, com uma delicada caracterização e o uso do estilo sinfónico próprio dos grandes grupos instrumentais.

texto extraído da página da Câmara Municipal do Montijo - que deve ser louvada por assinalar esta data

Comemoram-se amanhã os 250 anos da data de nascimento de um dos maiores génios musicais de todos os tempos, Mozart. Nunca fui grande apreciador de música clássica - confesso que por pura ignorância, mas quando - ainda adolescente - vi aquele que considero um dos filmes da minha vida: "Amadeus", passei a admirar aquela criatura, aquele génio que compôs algumas das obras musicais mais belas que a humanidade pode desfrutar.
Só lamento que Lisboa tanto apregoe o "Ano Mozart" e pouco se veja e ouça além disso...

Anos 80

A propósito do regresso da Febre de Sábado de manhã, confesso que vivi os anos 80 apenas na 2ª metade da década. Era novo demais na primeira. Pelo que a influências musicais e "estilísticas" só se fizeram notar a partir dos 12 anos, mais coisa, menos coisa. Ao fazer o teste da Rádio Comercial (um ou dois posts abaixo) recordei algumas das coisas que hoje são consideradas pirosas, mas que na altura eram moda entre adolescentes e população escolar. Dos blusões carregados de pins artísticos; aos patches alusivos a grupos musicais - cosidos nas costas de blusões e casacos; às correntes e aos pins metálicos que faziam a roupa aparentar padecer dum ataque fulminante de varíola; às corridas de carrinhos de rolamentos, ou na falta deles, de carrinhos construídos com rodinhas de triciclos; do ficar até tarde na rua, jogando à bola ou à escondidas, ou ainda iniciando-nos nas maravilhas do bate pé... belos tempos... sem dúvida.

Sim, eu sou daqueles que sinto saudades dos chapéus de chocolate da Regina, daqueles que iam às matinés do Crazy Nights ou do Loucuras - não me recordo bem, que usava laca no cabelo para tentar segurar uma poupa teimosa e enchumaços nos blisões e muitas mais coisas rídiculas... bem, pensando bem... nem tudo nos anos 80 é para recordar com carinho... ;)

25 janeiro 2006

:(

Lidar com pessoas é do mais difícil que pode haver. Todos os dias me felicito por não ter escolhido ser psicóloga e todos os dias me lamento por não ter seguido psicologia. Isto porque acredito que hoje teria as técnicas e as estratégias necessárias para entender as pessoas e conseguir fazer-me entender…ou não.

Hoje de manhã, pedi a uma colega que me tirasse umas fotocópias. Daí a alguns minutos, as cópias estavam feitas, mas completamente destrambelhadas. Delicadamente pedi à colega que revisse o trabalho, o que ela fez mas, ao longo do dia, reparei que deixou de me olhar nos olhos e, sempre que eu lhe pedia alguma coisa, respondia com sete pedras em cada mão e com uma galeria de caretas de fazer inveja a qualquer exposição sobre a história da tortura através dos tempos.

Como tenho pouca paciência para este tipo de coisas, chamei-a e perguntei-lhe qual era o problema. Primeiro fez-se desentendida, depois acabou por admitir que o problema era ela própria: como era uma pessoa exigente consigo mesma, disse, não se perdoava por não ter feito bem o que lhe pedi… E como tal, passou um dia inteiro sem ME falar e a agraciar-ME com as suas melhores caretas…

Faz sentido, faz todo o sentido.

Preciso urgentemente de férias! É a única conclusão a que chego.

Teste

Segundo o resultado...

Você é "Come On Eileen" dos Dexy's Midnight Runners (1982):

Você é viciado em diversão com os seus amigalhaços. Gosta de fazer disparates, sobretudo se desafiado com argumentos do género “aposto que não és capaz”.



Parabéns!

À Filipa pela Margarida, que, por enquanto, dorme aconchegada na barriga dela.
Há mais uma gaja no mundo para ajudar a torná-lo num lugar melhor.

24 janeiro 2006

Regresso ao futuro passado

Este sábado vou trocar o Benfica-Sporting pelos loucos anos 80. E para provar que levo isto muito a sério até já estou em estágio... a ouvir Sing Sing Club, dos Táxi. ;)

23 janeiro 2006

Cabrice

Conheci uma rapariga, há muitos anos atrás, que costumava dizer que existiam dois tipos de mulher: as "cabras" e as "outras". Sinceramente nunca prestei grande atenção às suas teorias sobre as mulheres, até porque ela só as enunciava quando se aborrecia com o namorado, com quem manteve um relacionamento durante 11 anos, até o trocar por outro, com quem começou a "andar" (o que eu detesto esta expressão, Jesus! A andar por onde? Para onde? E as pessoas que casam depois de pouco tempo de namoro? Andaram ou correram com alguém? Sim, porque se andar significa namorar, então correr com alguém deveria ser namorar mais depressa e não mandar a pessoa embora, não é?) enquanto ainda namorava o primeiro...Ou seja, resolveu pôr a sua teoria em prática e passar de "outra" a "cabra".

Como ela casou e foi viver para longe, nunca soube se tinha valido a pena testar a sua própria teoria, mas hoje, pela primeira vez, cometi uma "cabrice" e devo dizer que me soube pela vida! Percebi finalmente porque é que os actores gostam tanto de representar vilões, porque é que as pessoas sacaninhas têm aquele brilhozinho extra na pele, porque é que a adrenalina sobre, ao mesmo tempo que a moral desce.

Gostei tanto, que qualquer dia sou capaz de repetir...

(Não, não fiz maldades ao meu abade, nem nada que se pareça! A minha "cabrice" foi uma coisinha relacionada com trabalho, que não prejudicou ninguém e a mim me deu uma enorme satisfação!)

20 janeiro 2006

(...)

Muito se tem falado nos últimos tempos sobre a máquina administrativa do Estado e do seu peso, quer em termos de custos, quer em termos de burocracia. Trabalho para o Estado e posso garantir que as críticas e maleitas apontadas são, na grande maioria, verdadeiras - há excesso de pessoal na função pública, a maioria das pessoas não tem formação adequada, não tem trabalho que as ocupe durante 7 horas diárias e, se as obrigam a trabalhar, das duas uma: ou ficam doentes, ou ficam zangadas. A filosofia que sustenta este comportamento é a de que se ganha mal e, como se ganha mal, tem de haver um limite para o que se pode e deve fazer.

Claro que este limite varia de serviço para serviço e de funcionário para funcionário, mas, basicamente, traduz-se em fazer pouco, sair cedo, acumular horas e dias para gozar no fim do mês e aproveitar as horas de expediente para fazer as compras, pôr os telefonemas em dia, ficar a par com os resumos das telenovelas e das vidas alheias e lamentar-se sobre o aumento da idade da reforma.

Mas o pior é quando as pessoas querem trabalhar e não as deixam. Tenho uma amiga e colega que decidiu fazer, a expensas próprias, um doutoramento numa universidade estrangeira. Este doutoramento não existe em Portugal e faz todo o sentido na área de trabalho dela. Não existe ninguém com aquele tipo de formação e a instituição onde trabalhamos teria muito a lucrar em ter alguém que dominasse a área em questão.

Ora, para poder frequentar o doutoramento, a minha amiga precisa de tirar uma licença sem vencimento de curta duração, ou seja, precisa que o serviço a dispense, sem lhe pagar o ordenado, durante 2 ou 3 meses. Esta licença foi-lhe negada com o argumento de que esta instituição, tão antiga e conceituada e que, supostamente, tem como missão o desenvolvimento da Investigação, nas suas múltiplas vertentes, não precisa de técnicos superiores doutorados - não só não precisa, como até os considera perigosos, vá-se lá saber porquê!

Resumindo: a administração pública é composta de pessoas a mais e, na sua maioria, com formação deficiente, mas quando uma pessoa quer, às suas custas, melhorar a sua aprendizagem, é proibida de o fazer.

Como diz a canção: "Isn't it ironic?"

Momento Não Político

Trova do vento que passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre

Esquecendo - ou não - o actual momento politico que Portugal atravessa, é um belo poema.

16 janeiro 2006

Olho, sonho...penso e imagino...

...e não vejo a hora de partir...

Uma das minhas viagens de sonho está prestes a ser cumprida. Se o frio se afigura como um inibidor, a paisagem urbana e natural afigura-se como o melhor catalisador possível.
Dentro de um mês, andaremos por aqui, por aqui e por aqui. Se houver tempo ainda queremos dar um saltinho aqui!

Veeeeeeeeerrrrrrrdeeeeeeeeeeee!!!

Li hoje no jornal que um grupo de cientistas criou três porcos verdes. É verdade, os bicharocos são mesmo verdinhos, de um lindo tom verde-lima, a mesma cor com que eu fico quando ando muitas horas de carro.

Ao que parece, os porquitos são verdes por dentro e por fora, sendo que todos os seus órgãos internos têm a mesma linda cor. Este efeito foi conseguindo através da injecção de uma proteína fluorescente (verde!) no ADN dos bitózitos.

E agora eu pergunto: "What's the point?" Em que medida é que ter porcos transgénicos, verdes ou de qualquer outra cor, contribui para a felicidade da Humanidade? Avançámos na descoberta de uma cura para o cancro? Ou de uma vacina para a SIDA? Acredito que estas manipulações genéticas tenham outros objectivos, mais nobres e mais úteis para as nossas vidas futuras mas, por enquanto, gastámos mais uns milhõezitos para mostrar ao mundo que somos capazes de ter porcos verdes, que, certamente, ficarão arrumados na história da humanidade, num importante fundo de prateleira, ao lado da colherzinha de café de poeira de estrelas que a Stardust nos trouxe ontem, ao fim de sete anos de missão e muitos milhões de dólares...

Mas, quem sabe, pode ser que, um destes dias, ao trautear o clássico desse rouxinol que foi a Srª D. Natália de Andrade, estejamos a dizer ao mundo que o nosso amor é verde - literalmente!

05 janeiro 2006

"(...) Nada penses ou faças vai-te embora
tu serás nessa altura jovem como agora
tu serás sempre a mesma fresca jovem pura
que alaga de luz todos os olhos
que exibe o sossego dos antigos templos
e que resiste ao tempo como a pedra
que vê passar os dias um por um
que contempla a sucessão de escuridão e luz
e assiste ao assalto pelo sol
daquele poder que pertencia à lua
que transfigura em luxo o próprio lixo
que tão de leve vive que nem dão por ela
as parcas implacáveis para os outros
que embora tudo mude nunca muda
ou se mudar que se não lembre de morrer
ou que enfim morra mas que não me desiluda
Dizia que ao chegar se olhares e não me vires
nada penses ou faças vai-te embora
eu não te faço falta e não tem sentido
esperares por quem talvez tenha morrido
ou nem sequer talvez tenha existido"

Ruy Belo, "Muriel"


Teresa Manuela (Tecca)
1969 - 2005
Sempre presente

04 janeiro 2006

"Algumas ideias podem ser perigosas"

"A Papisa Joana", Donna Woolfolk Cross

Terminei recentemente a leitura deste livro e recomendo-o vivamente. Já tinha ouvido falar da história da papisa Joana, que teria conseguido iludir igreja e sociedade, ao ponto de chegar ao trono papal e que teria sido traída pela sua natureza, dando à luz em plena rua, no meio de uma procissão.

Ouvi falar desta história como um dos mitos que os luteranos e calvinistas gostavam de contar como anedota para justificar as acusações que faziam contra a igreja católica, os seus falsos pudores e dogmas decrépitos. O facto é que, lenda ou não, existem várias histórias e documentos que mencionam esta mulher como uma das muitas que, em plena Idade Média, teve de sacrificar o seu sexo para poder aprender a ler, para poder estudar, já que era comummente aceite – e activamente pregado pela igreja – que as mulheres eram, por natureza, inferiores aos homens, menos capazes física e intelectualmente e a fonte de todos os males da humanidade…

A ter existido, Joana terá vivido na Europa em pleno século IX, uma época em que o mundo se alicerçava entre a cultura decadente do império romano do ocidente, a emergente força da igreja católica como instituição, as invasões normandas e muçulmanas e o esplendor crescente de Constantinopla como capital do mundo, por oposição à Roma papal. Pouco se sabe de concreto sobre estes tempos a que alguém chamou idade das trevas, mas é inegável que hoje, passados mil e cem anos, continuam a existir ideias consideradas perigosas e continua a existir quem tenha medo delas.

No mundo do século XXI, ainda há quem acredite que as mulheres são inferiores aos homens. Saber ler está longe de ser um direito garantido e ainda há quem tenha de se disfarçar para conseguir o respeito e a dignidade mais elementares.

Em mil e cem anos o mundo é muito maior, descobrimos terras e traçámos mapas do fundo dos mares, do centro da terra, do espaço e do interior do nosso próprio corpo. Somos mais, mais fortes, mais sofisticados, supostamente mais inteligentes, mas, pelos vistos, ir numa casca de noz ao outro lado do mundo foi mais aceitável do que reconhecer que a pessoa ao nosso lado é igual a nós, independentemente de raça, sexo, sexualidade, credo ou convicções.