30 abril 2007

Redacção "Eu fui ao futebol"

Eu fui ao futebol ontem, pela primeira vez. Fui ao estádio do Benfica, antigo estádio da Luz. Agora, ao que parece, ninguém sabe muito bem como é que ele se chama, mas também não faz mal, porque parece que toda a gente sabe muito bem onde ele fica. Além disso, também é uma coisa que se vê bem da estrada, portanto não há que enganar. E ainda tem a vantagem de ficar mesmo pertinho do Colombo, o lugar favorito de grande parte dos portugueses, a seguir às praias da Costa da Caparica em pleno mês de Agosto, pelo menos enquanto ainda houver areal.

Confesso que não percebo nada de futebol, por isso não sei porque é que o Abade me desatou a dar carôlos quando os senhores de verde meteram a bola (logo no começo do jogo, é que quase nem deu para ver como deve de ser!) na baliza dos senhores de encarnado, mas acho que é por ele ser do Benfica enquanto que eu, mocinha nascida e criada em Alvalade, simpatizo mais com o Sporting.

O mais engraçado foi observar as pessoas à minha volta, que ficavam ora muito contentes, ora muito aborrecidas, consoante os senhores no campo pontapeavam para um lado ou para o outro. Havia muita gente a falar sozinha, o que, confesso achei um bocadinho estranho. Aprendi muitas asneiras e gestos novos que tenciono pôr em prática o mais depressa possível, porque isto da cultura se não se pratica, esquece-se e é uma pena.

Também havia muitos senhores a dar palpites para o relvado. Não sei porque é que os jogadores não os ouviam e não faziam o que eles diziam, à excepção das actividades que também tinham a ver com as mães, pois, convenhamos, mãe é mãe e não é nada bonito sugerir que os filhos façam certas coisas com elas.

Não provei as especialidades gastronómicas conhecidas como bifanas e couratos mas tenho pena. Pode ser que, para a próxima, dê para experimentar tais iguarias que, segundo me disseram, são mesmo muito boas, sobretudo quando acompanhadas por cerveja que, ao que parece, tem de ser sem álcool para não excitar ainda mais os ânimos.

E foi assim o meu primeiro dia no futebol. Eu gostei muito de ir ao futebol.

P.S. – Viva Alvalade! Viva o paulo Bento que andou no Padre e, só por isso, já é boa pessoa! E viva o SCP, pá! Sim, porque a sorte dos benfiquistas é que os sportinguistas não fazem a mascote passear pelo campo…

27 abril 2007

Não tenho nada, mas tenho, tudo, tudo!

Alberto João Jardim é a nova Floribela. Passo a explicar. A (actriz? atroz? cantora? ex-concorrente do "Ídolos"?) Luciana Abreu saiu-se, um destes dias, com uma frase absolutamente divina, sobre estar muito zangada com a Lei portuguesa.

E porquê este arrufo? Porque a jovem quer adoptar uma criança mas, confessa, não está disposta a casar "só" por causa disso, de modos que, como a Lei portuguesa apenas permite a adopção por pessoas solteiras a partir dos 35 anos de idade, a pequena Lucy ainda tem muito que esperar(e ainda bem, querida Lucizinha, que a Lei apenas contempla a idade legal, porque se fôssemos pela idade mental, desconfio que a menina só poderia adoptar lá pelos 90 anitos...).

Não contente, a pequena Lucy ainda remata o seu brilhante raciocínio alegando que, lá fora, é tudo muito mais fácil - basta ver o caso de Angelina Jolie...

Ora bem. O ex-futuro-Presidente da Região Autónoma (futura Nação) da Madeira também se confessa muito zangado com a Lei portuguesa. E os motivos do senhor são tão válidos quanto os da Lulu: Diz o Dr. Alberto João que fazem leis só para o chatear.

Pois claro. Tem toda a razão. Eu, se fizessem leis só para me contrariar, também ficaria muito aborrecida e seria capaz de escrever à própria Lei só para lhe dizer que estava zangada com ela. E era gaja para nunca mais lhe dirigir palavra e até, se a coisa fosse grave, deixar de a cumprir. É que, como qualquer cidadão sabe, a Lei destina-se ao nosso prazer e deve ser feita tendo em consideração a vontade e as convicções de cada português. Afinal, somos só 10 milhõezitos...

Por isso, senhores legisladores, toca a calçar os sapatinhos de corrida e começar a calcorrear esse Portugal dos pequeninos de lés a lés (ilhas incluídas, pelo menos enquanto elas ainda fazem parte cá do burgo), para que cada português tenha o seu próprio sistema legal, que é o mínimo que se pode pedir de um país civilizado.

26 abril 2007

O 25 de Abril

Comemorou-se ontem, o 33º aniversário do 25 de Abril, data por si só, de orgulho nacional, de ser Português e de poder pensar e falar livremente (e escrever, como é o caso).
Entre vivas à democracia e vaias ao estado do país, prefiro enaltecer a liberdade de expressão, de pensamento e de opção que esta data nos permite. De um estado ditatorial, passámos a viver em liberdade. Sei que muitas das actuais pessoas não o sabem, e daí algumas críticas, mas liberdade não é fazermos tudo o que nos apetece e saírmos impunes. Compreendo algumas críticas que se fazem, nomeadamente em relação ao aumento da criminalidade (“ai.. no tempo de Salazar é que era bom”... “no tempo de Salazar não havia nada desta pouca vergonha”... etc...), mas não pactuo com elas. No tempo de Salazar, e dos seus seguidores do Estado Novo, pessoas inocentes eram espancadas, presas e mortas. No tempo de Salazar, pessoas que não partilhavam a sua ideologia política era afastadas... (eufemisticamente falando). Pode até ser verdade que não havia tanta criminalidade... também não havia pessoas para a praticar e quando esta existia era abafada pela censura de modo a transparecer que tudo ia bem no país de Portugal.
O estado actual do nosso país, não tem a ver com a liberdade, mas com o facto de as pessoas não a saberem usufruir (sempre ouvi dizer que a nossa liberdade termina onde começa a de outros) e termos um estado novo e jovem, mas em democracia (não confundir com o outro Estado Novo) que ainda peca por desresponsabilizar os seus cidadãos das atrocidades que estes cometem. O sentimento de revolta e injustiça cresce quando após 33 anos de liberdade se continuam a assistir a actos impunes de corrupção, de assassínios, assaltos, agressões, de fugas fiscais, de branqueamento de capitais, de favorecimentos, enfim.. um imenso rol de ilegalidades que continuam e continuarão a acontecer até que todos tomemos uma posição e dizermos que... “BASTA!”.

E isto não é uma crítica a apenas este governo, porque antes dele, muitos outros governaram este triângulo e tudo era igual.

Ser livre não é, nunca foi e nunca será, sinónimo de irresponsável e inimputável.

24 abril 2007

Auto-controlo

Sou uma pessoa exagerada por natureza. Quando cozinho, é em quantidade suficiente para fartar vários batalhões. Quando começo a rir, não consigo parar (o mesmo se aplica às lágrimas - choro em catarata, ainda não aprendi a chorar como os adultos fazem, discretamente, sem alarde). Quando bebo, sou pior do que um estivador. E sim, sei o que são orgasmos múltiplos...

Mas, ultimamente, decidi começar a praticar o auto-controlo. Como ainda me estou a iniciar nesta arte, os resultados não são espectaculares, mas direi que começam a ser inspiradores. Claro que não tenciono aplicar o auto-controlo a tudo...se é que me entendem...há aspectos nos quais quero continuar a ser exagerada...mas adiante.

Comecei por controlar a comida que ingiro, não me fazendo todas as vontades. O meu problema não é com a comida propriamente dita, a séria, aquela que se come de faca e garfo. Os meus exageros têm a ver com chocolate e seus derivados e com a chamada "comida da treta", vulgo "junk food", da qual sou a maior apreciadora.

A seguir, tratei de dominar a carteira ou melhor, o impulso para puxar pela mesma sempre que vejo alguma coisa que me agrada, mesmo que vagamente. Isto aplica-se sobretudo aos livros, que sempre comprei em quantidades exorbitantes. O resultado: uma pilha de livros em frágil equilíbrio na mesa de cabeceira e outros espalhados por aqui e por ali, uns à espera de ser lidos, outros à espera que a leitura continue. Antes de comprar mais, vou tratar de ler todos os que tenho em espera. Se, no final da leitura, me sobrar espaço na estante, então sou capaz de recomeçar as compras, mas, desta vez, vou limitar-me a um de cada vez.

Em terceiro lugar, mas não em último, estou a tentar moderar a língua. Passo a explicar para que não haja malentendidos: sou aquilo a que habitualmente se chama uma "desbocada" ou "língua de trapo". Falo pelos cotovelos e, por vezes, falo demais. Não se trata de contar os segredos que me confiam, o meu problema é mesmo dizer tudo o que penso, na altura em que o estou a pensar. É como uma espécie de ligação directa entre o cérebro e a boca.

Enfim, acho que a isto se chama crescer, não é? Se calhar é isso mesmo, estou a ficar crescida.

Mas desde já aviso que há coisas que não tenciono moderar ou controlar. Os sentimentos, o prazer que me dão umas boas gargalhadas e praguejar e cantar enquanto conduzo. Para já, vou continuar a fazer tudo isto da mesma maneira. Sim, porque não me quero esquecer de mim própria...

16 abril 2007

Salazar Superstar

Após ter vencido a votação d'"Os maiores portugueses", o Dr. António de Oliveira Salazar tornou-se numa verdadeira estrela, como nunca foi capaz de ser enquanto foi vivo. A História tem destas coisas. Já em finais da década de 70, a revista "Rolling Stone" publicava na capa uma fotografia de Jim Morrison com a legenda "He's hot, he's sexy and he's dead". A música dos Doors, que tinha caído no esquecimento desde o início da década, voltava ao público, após Francis Ford Coppola a ter usado no filme "Apocalypse Now". E assim nasceu uma lenda.

E assim aconteceu também com o nosso mais ilustre (e, felizmente, único até à data) ditador. Não se pode esperar uma capa de revista com uma fotografia de Salazar em tronco nú a elogiar o magnífico "sex appeal" do senhor (digo eu...), mas concerteza ele está mais vivo e é mais mediático agora do que alguma vez sonhou vir a ser. Isto, claro, graças à liberdade de expressão, conceito desconhecido nos tempos em que reinou sobre este jardim das delícias, à beira mar plantado...Malhas irónicas que o destino tece!

Por todo o lado, abundam os livros sobre Salazar e todos vendem tão bem como o "Código da Vinci" (ressuscitar os mortos e fazer deles verdadeiras super estrelas é o que está a dar, mesmo que não se tenha nada de novo para dizer). Afinal, já não me sinto tão desapontada com os portugueses. Bem vistas as coisas, se calhar, a votação do programa não expressa a opinião da maioria mas antes foi conseguida à custa dos escritores e pseudo-escritores que, com os manuscritos sobre Salazar fechados nas gavetas a sete chaves (não fosse o diabo tentar escapar!), desataram a ligar desenfreadamente para as linhas de votação. Sim, porque antes do programa, escrever sobre Salazar era "mal" (mesmo que fosse para desancar o senhor) e agora é "super bem" (não interessa se é para dizer bem ou mal).

Por mim, penso que tudo o que sirva para despertar o nosso interesse pela velha senhora História é positivo, mesmo que temperado com fortes doses de fantasia e especulação. Pelo menos, neste 25 de Abril, não haverá tanta gente com dificuldade em situar a figura de Salazar e a confundi-lo com um Capitão de Abril...Se calhar...Se calhar...

Escutas (ou Tudo bons rapazes, versão tuga)

É só rir... ou chorar... depende do estado de espírito.
Tanta corrupção, tanto favorecimento, tanta cunha neste país de brandos costumes...

10 abril 2007

CSI Lisbon - Pigeon Control

Ontem apareceu um pombo morto aqui neste lugar onde passo a maior parte dos meus dias (vulgo local de trabalho). A minha primeira reacção foi achar normalíssimo que o pombo tivesse tido um ataque cardíaco, uma síncope, um AVC, enfim, que tivesse partido em direcção à luz, como é condição de todo o ser vivo. Mas esqueci-me do fantasma da gripe aviária que ainda assombra por estas bandas e que fez com que alguns colegas tivessem montado um perímetro de segurança à volta do cadáver do pombo, com direito a fita encarnada e tudo (tipo “CSI”). Não contentes, os mesmos colegas decidiram cobrir o cadáver com um plástico (“who are we/ who, who/ who, who/ I really wanna know…”) e chamar as autoridades competentes (“Out here in the fields/ I fight for my meals…”).

Assim, fiquei a saber que o Ministério da Agricultura criou uma espécie de “bola anti-stress” chamada CENEGA (Centro Nacional de Emergência da Gripe Aviária), que deveria funcionar nos dias úteis entre as 8 e as 20 horas (está cientificamente provado que ao fim-de-semana as aves morrem menos e apenas devido ao excesso de álcool e acidentes de viação dele derivados e nunca de gripe), mas cujo telefone ninguém atende…O objectivo, quanto a mim, é vencer os eventuais delatores pelo cansaço.

Facto é que o pombo continuava exactamente no mesmo lugar esta manhã (comportamento típico dos pássaros mortos em geral e dos cadáveres e particular), pelo que algum colega hiper-zeloso (uma das raras gemas da função pública portuguesa) fez o favor de chamar a Guarda Nacional Republicana para proceder à remoção do corpo (“We don’t get fooled again/ Don’t get fooled again…”), tarefa que demorou algum tempo, envolveu um número considerável de elementos e um aparato perfeitamente normal para situações desta gravidade (a sorte é que os nossos cães são bem alimentados e nenhum teve vontade de atacar a carcaça…).

Moral da história: podem ser várias, mas a minha preferida é que dantes, as pessoas afastavam-se dos telhados e das varandas com medo de que algum pombo lhe sujasse a roupa; agora, o maior risco e que o próprio pombo nos possa cair em cima (o que, por si só, seria já uma situação potencialmente mortífera) e contagiar-nos com uma dose massiva de gripe aviária, que é como quem diz, febre das galinhas, a mesma que também se pode apanhar na Zara, em época de saldos…

Em memória do pombo falecido.