23 março 2006

Europa

Hoje acordei com saudades de Budapeste e, logo a seguir, veio-me à memória o filme "Europa", de longe o melhor de Lars Von Trier e um dos melhores filmes de sempre, na minha modesta opinião. Se ainda não viram, vejam depressa. Além de ser apaixonante, é sobre um tema pouco tratado: a Alemanha imediatamente a seguir ao fim da II Guerra e o destino dos resistente nazis, conhecidos como "lobisomens".

Aqui ficam as palavras iniciais do filme que, ditas por Max Von Sydow, são muito mais poderosas.

You will now listen to my voice.
My voice will help you and guide you still deeper into Europa.
Every time you hear my voice, with every word and every number, you will enter into a still deeper layer, open, relaxed and receptive.
I shall now count from one to ten.
On the count of ten, you will be in Europa.
I say: one. And as your focus and attention are entirely on my voice, you will slowly begin to relax.
Two, your hands and your fingers are getting warmer and heavier.
Three, the warmth is spreading through your arms, to your shoulders and your neck. Four, your feet and your legs get heavier.
Five, the warmth is spreading to the whole of your body. On six, I want you to go deeper.
I say: six. And the whole of your relaxed body is slowly beginning to sink.
Seven, you go deeper and deeper and deeper.
Eight, on every breath you take, you go deeper.
Nine, you are floating. On the mental count of ten, you will be in Europa.
Be there at ten.
I say: ten.

22 março 2006

Em casa de ferreiro...

espeto de pau, ou então a raiz de todos os problemas...

21 março 2006

Dias "de"

Sou contra os dias “de”. Primeiro, porque se uma causa for importante o suficiente para ter um dia “de”, então a sua importância ultrapassará certamente esse dia e não vale a pena evocar uma coisa que é omnipresente. Segundo, porque o facto de existirem dias “de” tudo e mais alguma coisa só provoca excesso de ruído no calendário. Se a reflexão é um dos objectivos destes dias, então passa despercebida no meio de tantos dias “de”, de tantas efemérides, feriados nacionais ou locais, o dia de receber o ordenado, o dia da consulta com o médico de família, etc., etc. São coisas a mais em que reflectir, não há cabeça para tanto, não há vontade ou convicção que resistam.

Na verdade, os dias “de” funcionam ao contrário do que se pretende. Quem dá mais pelo dia dos namorados é quem não tem namorado e se vê mergulhado numa enxurrada de rosas encarnadas, cartões cheios de coraçõezinhos e ursinhos de peluche com “I love you” bordado no peito.

Quanto ao dia da mulher, por exemplo, acho-o do piorio. Sinto-me desigual o suficiente para precisar de um dia que me reabilite, que me faça lembrada neste mundo dos homens. Quando me vêm oferecer flores nesse dia, tenho vontade de as enfiar pelas narinas abaixo de quem mas dá. Além disso, flores para mim são cravos encarnados. Aprendi a gostar deles com o meu avô – sim, era comunista - e ainda hoje acho que nenhuma outra flor enche tanto os olhos e o coração como um ramos de cravos encarnados, carnudos, e, de preferência, oferecidos “porque sim” e não porque os homens, lá do alto da sua infinita misericórdia, resolveram agraciar as mulheres com um dia inteirinho só para elas, 24 horas dedicadas em exclusividade – mas só na agenda, claro, na vida real continua tudo na mesma.

Mas o pior dos dias “de” é para mim o dia do pai. Não que alguma vez tenha festejado esse dia com o meu pai, mas agora que ele já não está aqui, sinto-me mal ao ouvir falar em dia do pai porque nunca mais vou poder oferecer-lhe seja o que for, nunca mais vou poder almoçar com ele, nunca mais vou passar um dia que seja com ele, nunca mais, nunca mais tudo e nunca mais nada. E essa é a expressão mais dura para mim, a que não tem retorno nem solução.

E, de repente, aquele dia que não significava nada, passa a ser uma tortura. Não que eu me lembre mais do meu pai, até porque não se pode lembrar quem nunca nos sai do pensamento, mas nesse dia sinto-me mais órfã.

Ontem, durante um telejornal qualquer, tropecei numa reportagem sobre uma lápide que foi descerrada em memória de todos os agentes da PSP que morreram em serviço (as lápides são como os dias “de”, completamente inúteis, quando não têm o efeito contrário ao que se pretende). Perguntavam ao filho de um polícia morto no final do ano passado como tinha sido este dia do pai. Não pude deixar de pensar que aquela pergunta, além de cretina, devia de ser particularmente dolorosa e que o rapaz foi extremamente bem educado quando respondeu que tinha ido visitar a campa do pai. Eu não teria sido nem de perto tão polida, mas deve de ser defeito meu, com certeza.

Laço

As lojas Lanidor associaram-se à luta contra o cancro da mama e estão a vender t-shirts cujos lucros revertem na íntegra para a Associação Laço.

As t-shirts custam 19,90€ e podem ser uma boa opção para um presente ou, simplesmente, uma maneira diferente de ajudar numa guerra que, infelizmente, está longe de ser vencida.

Aqui fica o apelo, não só para as mulheres, até porque nunca é demais repetir que os homens também podem ter cancro da mama. Além disso, esta é uma doença que não deixa ninguém indiferente porque, infelizmente, todos conhecemos ou ouvimos falar de alguém que a teve.

São 15000 t-shirts e já sobram poucas. Não querem dar um empurrãozinho?

20 março 2006

Nódoa negra com bónus

Um dia destes estatelei-me no chão do corredor aqui do meu degredo (leia-se: local de trabalho). Como já passava das oito da noite, ninguém me viu e não tive outro remédio senão levantar-me, praguejar e lamentar-me sozinha. Claro que o mais importante foi o facto de ter conseguido levantar-me, caso contrário teria de ficar à espera das senhoras que fazem a limpeza, até à manhã seguinte...

O resultado imediato foi uma bela nódoa negra na anca (enfim, naquela parte que é uma espécie de terra de ninguém entre a anca, a nádega e o começo da coxa). Ontem, enquanto me esfregava com uma boa dose de Hirudoid ao espelho (não me importa que o INFARMED diga que o Hirudoid é um medicamento de eficácia duvidosa! Para mim, que volta e meia estou negra, tem sido um fiel companheiro que não tenciono dispensar, com ou sem comparticipação), reparei que, além da nódoa negra, havia um bónus: as junções dos tacos do chão tinham ficado marcadas, fazendo uma espécie de padrão de xadrez.

Moral da história: tenho uma nódoa negra especial, estilizada, diferente de todas as que já tive até hoje - e foram mesmo muitas!. Além disso, esta eu sei como e onde a fiz, não é como as outras que aparecem sorrateiramente, fruto de mais uma cabeçada ou canelada por falta de atenção. Não! esta é totalmente legítima: fez barulho, teve impacto (literalmente) e, ainda por cima, trouxe selo de garantia. Que mais se pode esperar de uma nódoa negra?

15 março 2006

RETRACTAÇÃO

O meu querido abade ficou um bocadinho chocado (mas só um bocadinho!) com uma frase do meu "post" anterior, aquela em que eu falo nas escolas públicas da Brandoa.

Ora sendo o meu abade filho (adoptivo) dessa bonita localidade mesmo ao pé de Lisboa, que apenas peca por não ter mantido o nome que tinha noutros tempos, Porcalhota, e tendo frequentado as atrás referidas escolas públicas, não gostou que eu insinuasse que as crianças brandoenses têm tendência para ser um tanto ou quanto estouvadas, por assim dizer.

Assim, e fazendo minhas as palavras do meu amigo Alegrão, retiro "públicas" e "Brandoa" da minha frase, porque, independentemente do choque do meu abade, cada vez acredito mais que, nos dias que correm, ser professor é bastante mais difícil do que ser domador de feras, independentemente do lugar ou da escola.

14 março 2006

Segredo? Que Segredo?

Ao que parece, o filme "O Segredo de Brokeback Mountain" tem gerado muita celeuma. Ainda não consegui perceber o que é que incomoda algumas pessoas, se o facto de o filme contar uma história de amor entre dois homens, se o pormenor de esses dois homens serem "cowboys" (ou, como disse uma apresentadora da TVI - essa abençoada estação - "sheepboys").

Confesso que ainda não vi o filme mas, depois de já ter ouvido tanta coisa, na sua maioria grosso disparate, sinto-me como se o tivesse visto umas 3 ou 4 vezes e continuo sem perceber qual é o segredo ou o problema.

Se o busílis da questão reside no facto de o filme retratar um romance entre dois homens, quer-me parecer que, nos dias de hoje, não existe ninguém tão ingénuo ou mal informado que não saiba que é possível, viável e, ao que consta, até bastante agradável o relacionamento amoroso, com expressão física e emocional, entre duas pessoas do mesmo sexo. Sempre foi, sempre existiu e já houve épocas em que não só era aceite como normal, mas até obrigatório, pelo menos na iniciação sexual dos jovens.

Se, por outro lado, o que confunde as pessoas é a profissão dos dois amantes, então lamento que ainda haja quem acredite que todos os homossexuais são cabeleireiros, estilistas ou artistas plásticos - é o tipo de fantasia que é normal até uma certa idade e depois convém ser desmistificada, assim como acreditar no Pai Natal ou na fada dos dentes.

Conheço homossexuais em profissões másculas, do mais "duro" e "macho" que se possa imaginar, muito mais do que estes vaqueiros hollywoodianos, até porque, se pensarmos bem, ser vaqueiro não é assim tão másculo quanto isso, é até um bocadinho maricas, na verdade...os múmús...os mémés...os cavalinhos...enfim, não é o mesmo que ser domador de feras ou professor numa escola pública da Brandoa...

Quanto mais o tempo vai passando, mais me convenço de que é preciso ser-se muito homem (ou muito mulher) para assumir perante uma sociedade mentecapta que se é homossexual.

10 março 2006

Praga a sépia

08 março 2006

Der Zeit Ihre Kunst. Der Kunst Ihre Freiheit

"Ao tempo a sua Arte. À Arte a sua liberdade"

Esta é a frase que nos acolhe à entrada da Casa da Secessão em Viena. Os vienenses chamam-lhe a "couve dourada" por causa da sua cúpula de ferro, dourada, que imita folhas entrelaçadas. Para mim, é um dos edifícios mais bonitos do mundo.

Poder vê-lo, entrar dentro dele, ver o Friso Beethoven de Klimt, ir ao Belvedere ver o "Beijo", estar em Praga, dentro da Casa Municipal, no museu Mucha, na região onde o movimento secessionista, do qual nasceu a Arte Nova, tomou forma, teve para mim o mesmo significado que tem para um muçulmano ir a Meca uma vez na vida.

A minha vontade era sentar-me no chão e chorar mas, por vergonha, não o fiz. Preferi ficar de olhos esbugalhados e com cara de parva a olhar para o momento eterno em que o próprio Klimt arrebata a sua Emilie e, apertando-a contra si, a beija num abraço eterno, como o amor deve de ser. Quis ficar ali para sempre, tornar-me parte daquele beijo, absorvê-lo, as cores, os padrões, a pele morena dele e os seus traços angulosos, a pele branca e rosada dela, a maciez que se sente, o gesto inocente e sensual com que ela se entrega ao beijo.

Para mim, este foi um sonho tornado realidade. João, muito obrigada por teres lá estado comigo.

06 março 2006

Resumo - 1ª parte

Não tenho tido tempo para fazer as crónicas de férias, por isso, penso que vou apenas fazer um pequeno resumo de tudo o que vi. A abadessa, mais tarde, fará o dela (penso eu).

Geral:

1. Budapeste, Viena e Praga são cidades muito bonitas.

2. Os húngaros são simpáticos, se bem que um pouco fechados. Por sua vez os austríacos - que eu imaginava como sendo arrogantes e altivos - são extremamente simpáticos e expansivos, características que os checos partilham.

3. Em qualquer destas cidades existem wc's públicos que se podem utilizar mediante uma franquia (baixa). Posso adiantar que qualquer uma das casas de banho públicas que visitei encontrava-se imaculada e em muito melhor estado que certas casas de banho de restaurantes ou outras casas comerciais deste nosso cantinho.

4. Os transpostes públicos são baratos e funcionam todos muito bem. O metropolitano tem, na maioria das estações, acesso para deficientes motores e é permitido o transporte de animais, desde que devidamente acondicionados.

Budapeste:

1. As húngaras são mulheres extremamente belas e cuidadas.

2. Em Budapeste, os húngaros retiraram as estátuas do tempo do Comunismo (Marx, Lenine e algumas figuras do comunismo húngaro) e colocaram-nas num parque (Szoborpark) fora dos limites da cidade. Nós fomos vê-las e podemos adiantar que eles não as poderiam colocar em pior sítio. Tem de se apanhar um eléctrico até aos limites da cidade, e depois um autocarro regional e sair numa paragem no meio do nada, cerca de 30 minutos depois. O parque fica no meio de uma zona industrial e o autocarro que o serve apenas passa de hora a hora (no mínimo). O parque, para além das estátuas, tem ainda um Trabant (carro do comunismo) e uma mini loja (estilo guichet) onde se pode comprar cd's com as músicas do comunismo, T-shirt's temáticas (The 3 Terrors - Lenine, Staline, Mao; MacLenine - The Taste of Comunism e muitas outras), latas de spray com o último suspiro do comunismo, etc. Pelo menos, têm sentido de humor!

3. Um dos sítios que visitámos - e que mais nos impressionou - foi a Casa do Terror, uma casa-museu instalada onde anteriormente foi a sede do regime fascista e, mais tarde, depois da salvação pelo exército soviético, do Partido Comunista húngaro. Aqui podemos assistir a videos verdadeiramente terríficos sobre a ocupação fascista e comunista, ver artigos de propaganda, artigos de campanha, fardas e documentos do tempo da ocupação e visitar as celas onde milhares de pessoas acabaram por morrer vítimas do regime de ocupação (fascista antes, comunista depois).

4. O Danúbio não é azul.

5. A neve é fria e incomodativa (mas embeleza a paisagem).

6. A rua Raday (Raday Utca - onde ficámos alojados) e a rua Andrassy (Andrassy Utca) são das mais movimentadas de Budapeste. Esta última - a Andrassy - parte da rua Bajcsy Zsilinszky até à praça dos Heróis, atravessando quase toda a cidade. É nesta rua onde se encontram grande parte dos patrimónios classificados pela Unesco como património mundial.

7. Fomos visitar a Academia Ferenc Liszt (Franz Liszt), onde hoje funciona também o museu Franz Liszt.

8. A Basílica de St. Estêvão (Budapeste) é lindíssima. Queríamos subir à torre, mas a subida à torre da Basílica não se realiza durante o período de Inverno. Esta Basílica é dedicada a ao Rei Estêvão I - coroado pelo Papa Silvestre II, mais tarde Santo Estêvão - foi canonizado 45 anos depois da sua morte. Numa das capelas da Basílica é possível ver a maior relíquia que esta Basílica alberga (além de uma imagem de N. Srª de Fátima)... a mão de St. Estêvão... quer dizer, ela está em exposição, mas para a ver o incauto turista tem que pagar alguns forints para acenderem a luz do relicário. Aliás... quase tudo se paga em Budapeste.

9. Tentámos ir ver o Parlamento, mas a porta de entrada para as visitas (não me recordo agora de qual era) estava fechada e ninguém tinha a chave. Uma situação surreal... debaixo de uma carga de água que nos deixou encharcados até à medula.

10. Em Buda, visitámos o Bastião dos Pescadores e a Igreja de S. Matias (onde encontrámos uma imagem do nosso Stº António).

11. Visitámos ainda a Grande Sinagoga de Budapeste, onde além de casa de oração, museu e exposição, havia ainda nas traseiras um cemitério e um memorial aos mortos do Holocausto. Nesta parte, havia também uma enorme placa de mármore no chão - que não percebi se era túmulo ou um memorial - onde constavam diversos nomes e, entre eles, o do diplomata português Carlos Alberto de Liz-Teixeira Branquinho - que há semelhança do cõnsul de Bordéus, Aristides de Sousa Mendes, salvou vários judeus dos campos de concentração.

12. Visitámos o Museum of Fine Arts, onde pudemos observar, entre outras, uma exposição temporária com telas de Velasquez, Goya e El Greco. Nos museus - na sua maioria - é obrigatório deixar os casacos e mochilas no bengaleiro. Embora nalguns casos, as coisas sejam mais ou menos organizadas, neste caso, no Museum of Fine Arts, tal não era o caso, onde havia coisas que ficavam facilmente ao dispôr de alguma pessoa menos bem intencionada.