22 agosto 2005

Portugal a arder

Fui passar uma semana de férias ao norte de Portugal e houve algo que se manteve inalterável todos os dias ao longo da semana... os incêndios. Todos os dias sem excepção avistava um "cogumelo" de fumo. Na deslocação entre Lisboa e a aldeia de Cimbres, perdida entre montes e vales no concelho de Armamar, a paisagem encontra-se pintada de negro. É triste, muito triste ver o país a arder. É ainda mais triste que os responsáveis por este flagelo continuem impunes e que algumas pessoas em busca de lucro fácil queimem um património vital que é de todos nós.

04 agosto 2005

Viv'ó Bolhão, carago!

Acabei de ler num jornal que se está a planear para Setembro um concerto, ao estilo do Live Aid, para chamar as atenções sobre o velhinho e agora, ao que parece, bastante achacado, Mercado do Bolhão.

Acho bem. Pronto, se calhar a comparação com o Live Aid é um bocadinho exagerada, não só porque desconfio que as estrelas internacionais se estejam borrifando para o nosso Bolhão, mas também porque não se trata de salvar vidas (pelo menos não directamente).

Mas o que mais me impressiona é este eterno espírito português de cruzada, de gostar de fazer uma grande entrada dramática nos últimos minutos da peça. No último instante, quando o desfecho se revela em toda a sua crueza, eis que surgem os portugueses, fresquinhos que nem alfaces porque até aí não intervieram na acção e cheios de energia e vontade de agir. Então, quase aos gritos de por San'Tiago aos Mouros, lá vão eles, empunhando microfones em vez de espadas, armados de boa vontade e espírito cívico, dispostos a salvar o património que nunca se deveria ter deixado degradar em primeiro lugar...

Eu sei que o tempo é inflexível. Sei que não volta atrás e arrasta com ele pessoas e coisas, mesmo as mais fortes, mas se não podemos restaurar pessoas (não importa o que os cirurgiões plásticos possam pregar), podemos sempre tratar do património e quanto mais cedo, melhor.

Não vale deixar as coisas degradarem-se para depois, de repente, tomar consciência de que elas existem e até são importantes. Há uns anos atrás, quando a IURD resolveu comprar o Coliseu do Porto, houve uma verdadeira revolução popular. De repente, as pessoas perceberam que aquele património pertencia à cidade e, como tal, a todas elas também. Depressa se criou uma liga de amigos do Coliseu e a Igreja Universal teve de ir pregar par outra freguesia. Só é pena é que antes de a IURD ter, inadvertidamente, chamado a atenção do Porto e do resto do país para o Coliseu, este se encontrasse lentamente a definhar porque ninguém se importava com o seu destino. Os portuenses que se queriam amarrar às suas portas para impedir a venda, eram os mesmos que dias antes passavam pelo velho edifício e nem sequer se lembravam de que ele existia...Sai um rasgo de orgulho decrépito à moda da casa! Bem passado!

Já agora, não seria uma ideia realizar um concerto pelo Românico do norte do país que se vai afundando em degradação? Há igrejas a fazer de estábulos, sabiam? E quem diz pelo Românico, diz por todos os monumentos, grandes e "pequenos", que por este país fora vão envelhecendo sem dignidade, sem merecer o menor cuidado por parte de quem os deveria defender, porque fazem parte da nossa memória colectiva, da nossa herança, do nosso passado - e um povo saudosista por natureza deveria saber amar e preservar as relíquias do passado!

Lanço daqui o meu apelo à IURD: que tal começarem a ameaçar comprar os monumentos de Portugal? É que mesmo os mais bem "conhecidos", não estão a salvo deste povo de memória e de vistas eternamente curtas.

01 agosto 2005

Espécie - infelizmente - não extinta

Na sexta-feira, infelizmente, não fiquei mais rico, ou melhor, mais excêntrico.

[ainda não é desta que compro um monte alentejano e me mudo de armas e bagagens para a costa vicentina...]

No Sábado, como previsto fomos ao Jardim Zoológico de Lisboa passar o dia. Demos uma voltinha pela quintinha, assistimos ao show do Leões Marinhos e dos Golfinhos, fomos ao reptilário, andámos de teleférico, vimos elefantes, girafas, zebras, suricatas, etc... mas os animais com quem estávamos semore a dar de caras, só têm duas pernas, dois bracitos e um cérebro mais pequeno que uma ervilha: o tuga estúpido!

O tuga estúpido é uma espécie - infelizmente - longe da extinção. Caracteriza-se pelo ar de "eu cá sou bom"; gosta de anilhas nas garras; tem, pelo menos, uma unha desenvolvida para poder escavar túneis no seu nariz; ao fim de semana usa uma plumagem colorida feita de nylon e coberta com coleiras de um metal amarelo ou - quando o calor aperta - uma plumagem especial de alças que apenas cobre uma parte insignificante dos membros superiores que ficam junto ao pescoço (não posso usar a palavra superior e tuga estúpido na mesma frase).
Esta espécie no seu habitat natural (com a mulher e os filhos ou junto de amigos) tende a exibir-se na sua máxima pujança. Quando se encontra num sítio público onde existem as mais elementares regras de comportamento cívico, tende a ignorá-las e a chamar sobre si as atenções, grunhindo e rindo para os outros transeuntes que passam. Aquando da sua presença num Zoo, o que nos salta à vista é que as grades estão no sítio errado e os intervenientes trocados. O tuga estúpido adora provocar e acirrar os animais, enervando-os ainda mais que o simples facto de estarem enjaulados - como se isso já não bastasse. Adorava que nestas situações as grades se evaporassem e deixasse de haver a segurança que cobre esta cobardia e esta estupidez típica. O tuga estúpido adora fazer caretas e atirar restos de comida aos animais, apesar dos avisos para não o fazer. O tuga estúpido gosta de imitar o animal imediatamente superior na sua escala de evolução: o chimpanzé levantando os braços e coçando-os com a sua unha desenvolvida enquanto emite uns sonhos estranhos imperceptíveis às outras espécies.
O tuga estúpido infelizmente está em franca expansão e começa já a invadir todas as zonas anteriormente controladas por outras espécies. Consegue inclusivé, incutir o seu comportamento, desde muito cedo, aos novos exemplares da espécie: o tuguinha estúpido.

Urge acabar com esta espécie. Vamos exterminar esta espécie e deixar apenas dois exemplares - estéreis de preferência - em cativeiro para podermos observar o quão baixo pode a raça humana descer.