31 agosto 2004

Férias são férias!

Há uns tempos ouvi uma canção que dizia que "Férias são férias, aqui ou no Japão". Assim sendo, não vou contrariar uma letra tão bem escrita e submeto-me às implacáveis férias, que tanto existem aqui como no Japão.

Voltarei no final de Setembro, mais bem disposta (espero) e com resmas, paletes, imensidões e cataplanas de coisas para contar.

Bom, vou ajudar o abade a fazer a mala sentando-me em cima dela para ele a conseguir fechar. Este grande querido quer levar mais de uma dezena de hábitos, mas as mulheres é que são complicadas e viajam com muita bagagem (entre muitos outros defeitos terríveis...).

Beijos e bençãos!

(...)

Ainda sobre o inesgotável tema do aborto (e o ainda mais inesgotável tema da hipocrisia) deixem-me contar esta história que se passou comigo, está a fazer agora um ano.

Porque a minha ginecologista estava com muitas pacientes, decidi ir a outra para uma consulta de rotina. Sendo a primeira vez que me consultava com ela, foi necessário fazer a minha história clínica e a primeira pergunta que a médica me fez foi quantos filhos eu queria ter. Respondi que nunca tinha pensado muito nisso, que teria os que tivesse, se tivesse e quando quisesse. Face a esta resposta, a senhora olhou ara mim como quem olha para um bicho raro e resmungou qualquer coisa sobre parecer impossível alguém na minha idade não ter ainda decidido os filhos que quer. Não gostei, mas relevei e seguimos em frente. Mas a senhora não queria mudar de assunto e pediu-me o meu grupo sanguíneo porque em caso de parto seria importante.

Devo dizer que, naquele momento e depois, durante toda a consulta, me senti uma aberração. Uma mulher de 31 anos que nunca teve filhos e não sabe ainda se os quer e quantos quer parecia inconcebível para aquela médica tão orgulhosa de ter escrito sob o nome “Ginecologista e Obstetra”. As minhas fibroses mamária eram típicas de quem nunca tinha sido mãe e desapareceriam quando eu amamentasse. Os meus óvulos tinham as dimensões e características normais “para uma pessoa da minha idade” que nunca tinha engravidado, etc., etc.

Por razões várias, decidi não voltar a este consultório, mas não esqueci a atitude de desdém da senhora para comigo. Há poucos dias, em conversa com uma colega, fiquei a saber que esta mesma senhora havia sido proibida pela Ordem dos Médicos de exercer obstetrícia porque fazia abortos naquele mesmo consultório onde me tinha feito sentir inferior a todas as outras mulheres do mundo por não ser mãe…

Efeitos secundários

Li algures que, depois de um acidente grave ou de uma morte, as pessoas perdem o rumo e que, durante algum tempo, tudo anda à deriva, a flutuar à nossa volta, espalhado pelos muitos cantos das nossas vidas, como numa dança lenta e descoordenada. Nós próprios flutuamos numa espécie de dimensão paralela de onde se vê tudo o que se passa do outro lado, mas onde nada se alcança. Um pouco como um astronauta fechado na sua cápsula, rodeado por tudo o que precisa para sobreviver e que vai recebendo, de tempos a tempos, o som distorcido das vozes que vêm da Terra e que lhe falam de conforto, de chão firme, de gravidade e da falsa ideia de estabilidade que a rotação da Terra sobre o seu próprio eixo nos oferece.

Depois aterra-se, passado não sei quanto tempo. Apanha-se os cacos e fragmentos que connosco rodopiaram e com eles procuramos reconstruir a nossa rotina. Nessa altura, descobrimos que nada é como era, que nós mesmos não somos iguais e aí começa o sofrimento. Sentimos saudades das pessoas que éramos e, em consequência, dos que partiram porque com eles partiu uma parte de nós. Quando choramos a morte de alguém, é por nós também que choramos, porque já não nos reconhecemos e não gostamos da pessoa que somos agora.

Olhamos para a vida e vê-mo-la desarrumada. Nada faz sentido, nada cabe nos lugares onde dantes tão bem se encaixava. Ou será que é ao contrário? Será que afinal nada fazia sentido e agora é que começamos a ver as coisas na sua realidade nua e crua e é ela precisamente que nos morde e nos dói e nos faz sentir tristes e revoltados?

São os efeitos secundários, as ondas de choque de um acontecimento tão intenso que nos faz saltar de carril e, muitas vezes de direcção. Os outros não nos reconhecem, estranham-nos as atitudes, as reacções, os exageros. As pessoas mais próximas sentem-se postas de lado, longe e perto ao mesmo tempo, como se houvesse uma barreira de silêncio e dor tão forte que quase ganha expressão física. E os dias passam, e os meses arrastam-se. E o desespero instala-se.

Vale a pena continuar a viver? Ouvi esta frase a uma amiga há pouco tempo. Disse-me que era o seu primeiro pensamento todas as manhãs, enquanto o pai esteve doente. Dentro de mim, o meu terrível optimismo diz-me que sim, que ainda há muitas coisas à minha espera. Por outro lado, quando olho à minha volta e vejo a família desunida, os conflitos cada dia mais presentes, as mágoas e os remorsos que se revelam através da agressividade, os problemas antigos que explodem à superfície com toda a violência, tenho vontade de fechar-me na minha cápsula e voltar a flutuar. Sem peso, sem chão, sem sentir, sem sofrer, sem destino, sem objectivos, sem ter que voltar a viver.

Ofende-me...

...que continuem a oferecer-me o aborto como se de um direito se tratasse.

Ofende-me mais quando vejo outras mulheres a acreditar nessa mentira e a defendê-la cada vez com mais convicção.

Pela minha parte digo que não sou católica e, embora não me reveja em nenhuma ideologia política, simpatizo mais com os ideais tipicamente ditos "de esquerda". No entanto sou contra o aborto, não devido a qualquer moralismo caquético e sem fundamento, mas porque acredito que uma vida tem direitos desde o momento em que começa a existir e o primeiro de todos eles, é o direito à vida.

Como mulher, não quero que me dêem o direito a abortar. Antes quero que me dêem os meios para não engravidar se não quiser.

Como mulher, não quero abortar o meu filho deficiente. Quero que o país onde vivo me dê apoio e condições para que ele possa ter uma vida feliz e digna.

27 agosto 2004

Difícil

Ontem encontrei uma colega que já não via há algum tempo. Achei-a pálida e abatida e perguntei-lhe se já tinha tido férias. Respondeu-me que sim, mas que o ar cansado se devia ao facto de estar grávida e contou-me dos tratamentos que fez para engravidar, dos rios de dinheiro que tem gasto, do tempo que tem passado a ser observada, tocada, espicaçada e cortada, tudo na esperança de ter um filho. Disse-me que esta era a nona gravidez. Todas as outras tinham terminado em aborto. Estava cansada, assustada, saturada mas confiante de que desta vez iria consegui levar a gravidez até ao fim.

Depois - como se vem tornando inevitável desde há alguns anos - perguntou-me quando é que eu me decidia a ter filhos. Respondi que já me decidi, que ando a tratar do assunto e ela aconselhou-me a fazer exames para saber se está tudo operacional. Respondi-lhe que sim, que está tudo óptimo, simplesmente não aconteceu ainda. Disse-lhe que, se até aos 35 anos não conseguir ter um filho, tentarei adoptar (aliás, tenciono adoptar uma criança mesmo que consiga ter uma minha).

A resposta foi "Mas a adopção é tão difícil!". Isto vindo de uma mulher que, depois de tratamentos longos, caros e dolorosos já enfrentou 8 abortos dá que pensar. O que é que será mais difícil afinal? Ou será que há alguma coisa nesta vida que seja fácil?

26 agosto 2004

Querido Zé Maria,

Não sei muito bem quem você é, porque fui um dos dois portugueses que não assistiram ao “Big Brother”. Deveria acrescentar “com muita pena minha”, mas a verdade é que não tive pena nenhuma. Não vi por opção, porque sei que, 99% das vezes, a intimidade das pessoas não tem interesse nenhum. Se eu tivesse alma de “voyeur”, preferiria espreitar os momentos íntimos dos que me são queridos. Mas não tenho e acho uma completa falta de respeito e um rematadíssimo disparate perder tempo a olhar esbugalhada para dentro da janela de alguém que não conheço, que não me é nada e que, tanto quanto sei, nunca fez nada de especialmente interessante na vida.

Note bem que não há despeito nas minhas palavras. Gosto da minha vida tal e qual ela é. Claro que não sou hipócrita ao ponto de dizer que não gostaria que a minha conta bancária fosse um bocadinho mais saudável, mas paciência. Trabalha-se, ganha-se, gasta-se. Vai-se dando uns passeios, uns com os pés, outros com a imaginação, de quando em vez janta-se fora e assim se vive, a contar os tostões (perdão, os cêntimos). Mas, mesmo assim, digo-lhe que nunca, por razão alguma (ou por quantia alguma) seria capaz de me expor da maneira como você o fez.

Disparate, meu caro, grande disparate! As pessoas não se apaixonaram por si, pelo seu modo tímido de ser, pelo seu recato, pela imagem de bom rapaz, vindo da província, amigo dos pais e dos animais. Os espectadores deste tipo de programa são criaturas ávidas, salivam por escândalos, poucas vergonhas, violência (mas não em demasia), sexo (mas não explícito) e, na verdade, consomem hora após hora de programa só para não perder o momento em que o circo começa a arder.

Estas são as mesmas pessoas que devoravam (e devoram) as chamadas revistas cor-de-rosa. Adoram a coscuvilhice, a vida alheia, seja a do vizinho de cima, seja a da princesa de Tumbuctu. Os motivos? Nenhum em especial, ou muitos em particular. Tédio, frustração, curiosidade, sadismo, mordidez, enfim, sabe-se lá… Os psicólogos lá vão aproveitando para fazer uns estudos, elaborar umas teses, conseguir material para mais artigos, livros ou doutoramentos

Mas, vendo bem, era fácil de prever que estas pessoas se iriam esquecer de si. Em bom rigor, elas nunca o conheceram! Sabe Deus como é complicado para escritores, actores, cantores, etc., artistas com talento e cujas carreiras dependem do reconhecimento público conseguir manter-se vivos nas efémeras memórias da populaça. Quanto mais um grupo de rapazes e raparigas, sem quaisquer talentos notórios que apenas tiveram o enorme descaramento de expor as suas desinteressantes vidas ao país inteiro.

Já tinha ouvido dizer que você andava por baixo. Aliás, ouvi-o lamentar-se há largos meses a esse outro prodígio, Manuel Luís Goucha. O que me chamou a atenção não foi tanto o que você dizia, mas a pronúncia que usava. Você escancarava a boca a cada palavra e despudoradamente falava com sotaque “à tio”… Ora bolas! Como é que um alentejano fica a falar assim, quase de um dia para o outro? Teve vergonha do seu sotaque? Achou que seria mais facilmente aceite aqui na capital se falasse com a adorável espontaneidade dos “tios” e “tias” do Jet?

Meu caro, você devia ter pegado no dinheiro que ganhou, voltado para a sua terra e aberto um restaurante típico ou então podia ter-se dedicado ao turismo rural. Mas não. O menino gostou do sabor da fama, das borlas ocasionais, de ser reconhecido na rua, de ver a sua carinha laroca estampada na capa de qualquer revista, bem ao lado da legenda “Aprenda a satisfazer o seu parceiro! Ofereça-lhe uma semana de sexo e “bondage” consigo e com a sua irmã”. E depois foi o que se viu, ou melhor, o que se tem lido. Tentativas de suicídio, internamentos, etc. Espero que não me leve a mal, mas a história da ponte não me convence. Conheço vários suicidas profissionais e sei que são capazes de encenações que fariam qualquer La Feria roxo de despeito. Quem se quer matar não dá sinais, não pára, não hesita, não reflecte no último momento e, sobretudo, não se deixa dissuadir.

Deixe-se de espectáculos baratos e lastimáveis e dedique-se a si e aos seus que também foram (e continuam a ser) demasiado expostos por sua causa. Se recuperar um pouco da sua fama com todo este imbróglio, porque não tratar de a usar para protestar contra as atrocidades que todos os anos se cometem, à sombra da Lei, na sua terra natal? Isso sim, seria mostrar talento.

Espero que não me tenha levado a mal. É que ver pessoas a desperdiçar a vida por causa de uma coisa que não tem sabor, nem cheiro, nem forma como o sucesso, aborrece-me solenemente. Preocupe-se mais em ser famoso junto dos seus, daqueles que realmente gostam de si, que lhe reconhecem os talentos e que não o esquecem nem o trocam por nada nem por ninguém! Nem pelo novo namorado da princesa do Bhárein!

25 agosto 2004

Central do Brasil

Ontem, por cortesia do meu abade que me ofereceu o DVD, pude rever um dos filmes da minha vida: "Central do Brasil", de Walter Salles. Tinha visto este filme uma só vez e chegou para me marcar.

Para quem ainda não viu, o filme é a jornada de uma escrevedora de cartas - a magnífica Fernanda Montenegro - e de um menino de nove anos, pelo interior do Brasil, em busca do pai deste. Dora ganha a vida a escrever cartas na estação de combóios do Rio de Janeiro. Ao fim do dia, é ela quem decide que cartas vão para o correio. Amarga e desiludida, Dora avalia o carácter e faz o retrato da vida dos seus clientes lendo nas entrelinhas das palavras por estes ditadas.

Um dia conhece Josué que vem com a mãe para escrever uma carta ao pai, que não conhece. A morte súbita da mãe do menino faz com que Dora o acolha e os dois iniciam um périplo pelo interior do Brasil, rumo ao Nordeste, à procura da família de Josué. Para Dora, são duas as viagens. Além daquela que a leva a percorrer as estradas de um país de paisagens, raças e credos vários, Dora empreende uma viagem íntima, dolorosa, ao fundo das suas recordações da infância, marcada profundamente pelo abandono do pai.

Quando amamos alguém e essa pessoa nos trai ou desilude de alguma maneira terrível, o amor desaparece instantaneamente? Ou será que fica guardado em algum cofre secreto, onde guardamos o melhor e pior das nossas vidas porque, lá no fundo, temos consciência de que ambos são necessários para nos fazer crescer?

O filme termina com estas palavras, escritas por Dora para Josué: "Tenho saudades do meu pai. Tenho saudades de tudo."

Se quando vi o filme, há uns cinco anos atrás, sabia que ele me iria marcar para sempre, nunca pensei que ontem, ao revê-lo, ele me tocasse ainda mais. Eu também tenho saudades. Do meu pai e de tudo.

24 agosto 2004

(...)

Caro Francis,

Ver-te cortar a meta comoveu-me de uma forma como nenhum campeonato de futebol foi capaz. O Euro nem me beliscou a emoção, tantos eram os interesses, tão elaborada a máquina, tanta a falta de alma, tão largo o vazio, embrulhado à pressa em tons de verde e encarnado, a fingir um patriotismo instantâneo, que durou uns dias, uns jogos, enquanto a vitória foi nossa. Abre-se a embalagem e é só juntar um pouco de nada. Deve consumir-se depressa, antes que se evapore. Não alimenta, não tem consistência, nem sabor, nem cheiro. Não tem conteúdo, porque não existe.

Mas enfim, não me apetece falar do Euro. Apetece-me mais falar de ti, da tua imensa humildade, qualidade rara nos tempos que correm, sobretudo em pessoas que, de um momento para o outro, se tornam alvo de tantas atenções. Ao contrário de outros atletas, tu nunca te queixaste, não começaste logo a preparar o terreno para um possível mau resultado com desculpas de lesões, má forma, depressões, etc. E, no entanto, já passaste por tudo isso. A única coisa que disseste foi que os tempos em que trabalhaste nas obras te estragaram os músculos e, mesmo assim, fizeste esse comentário quase como quem pede desculpas pela vida dura que teve.

Nem uma queixa, só um sorriso tímido, a esconder a confiança que vem de dentro, do fundo, da raiz do coração, alimentada de fé. Fúria de vencer, não por vaidade mas por convicção, pela vontade de ir mais alto e mais rápido, de ser o mais forte.

Se alguém personifica o espírito olímpico és tu, sem sombra de dúvida. Ganhar é bom, todos gostamos do nosso lugar no pódio de vez em quando, mas nada nem ninguém pode superar o prémio de uma missão cumprida, levada ao fim com ânimo e dignidade.

23 agosto 2004

Aventura alentejana

Durante mais de 10 anos trabalhei com um engenheiro mecânico que me ensinou muitas coisas, nem todas sobre engenharia ou mecânica. Uma das coisas que me ensinou foi que nunca se deve usar a ferramenta errada. Eu passei a seguir esta máxima com fervor religioso e tenho vindo a descobrir que ela me evita alguns acidentes e dissabores. Mas o meu querido abade não a conhece e este fim de semana aconteceu-nos esta pequena pérola que decidimos escrever para ficar para a posteridade.

No Sábado de manhã fomos até Porto Côvo. Enquanto vestia o meu hábito-fato de banho, perguntei ao abade se não ia levar o seu. Ele respondeu-me que não, que já tinha vestido as cuecas-conventuais e os calções-monásticos e que se sentia muito bem assim. Acostumada à aversão do meu abade por praia, mais concretamente por areia, encolhi os ombros e lá embarcámos no nosso convento-móvel rumo a terras mais a Sul.

Chegádos a Porto Côvo, logo o abade se deixou tentar pelas águas serenas e verdes da Costa Vicentina e eis que, num rasgo de paixão, pára o convento-móvel à beira de uma venda onde uma simpática família cigana nos arranjou uns calções de banho pela módica quantia de 5€. Ora os ditos calções não eram forrados o que fez com que o abade João, púdico e reservado como sempre, tomasse a seguinte decisão: vesti-los por cima das cuecas-conventuais (que, como sempre acontece nestas circunstâncias, eram escuras...).

Ainda tentei argumentar, usando a minha sensibilidade feminina e a experiência secular que as mulheres têm nestas coisas, mas de nada adiantou. O abade entrou na água com as cuecas vestidas por debaixo dos calções, para evitar partilhar as suas partes privadas com a praia inteira.

O resultado: não só toda a gente percebeu que ele estava de cuecas, como eu tive de passar pela suprema humilhação de vir de braço esticadinho para fora da janela do convento-móvel, para que o ar secasse as venerandas cuecas do abade... Os carros que passavam estranhavam, mas eu lá fui, séria e compenetrada, fiel à minha missão.

Chegados a Alcácer do Sal, já as cuecas estavam secas e pudémos refazer-nos do trauma com uma bela dose de migas alentejanas.

Moral da história: assim como nunca se deve usar a ferramenta errada, também nunca se deve usar a roupa errada. E não estou a falar de etiqueta ou moda! Se vão para qualquer lugar próximo da praia, levem sempre fato de banho, mesmo que não esteja nos vossos planos mergulhar. A menos que tenham uma abadessa dedicada que não se importe de ir estrada fora a arejar a vossa roupa interior, pela planície alentejana...

19 agosto 2004

Está quase...

já faltou mais.

Ouriço que contém a castanha

O regresso

Cheguei ontem ao fim da tarde a Lisboa. Já sentia saudades de casa, desta casa (e claro, das minhas gatinhas também).
Na viagem de regresso, estrada fora, vi (mais uma vez) imensas asneiras perpetradas por condutores e condutoras. Asneiras essas que não são passíveis de serem enquadradas na propalada teoria do excesso de velocidade, mas sim na categoria das azelhices perigosas ao volante. Num curto trajecto de auto-estrada perdi a conta a automobilistas que se enfiaram na faixa da esquerda sem sequer espreitarem se vinha alguém atrás. Acidentes, não vi... e sinceramente, não sei como.

A estadia no norte passou rapidamente, entre voltinhas por aqui e por ali, convívios familiares ali e além, pouco tempo restou para fazer o que quer que fosse. Amanhã começo a pôr a conversa em dia e a saber as novidades.

Viagens I

Mosteiro de Salzedas

A festa de outros anos

Mais um ano, mais uma reunião familiar a norte, na pequena aldeia de Cimbres, mais uma vez sob o pretexto das festas em honra da Nossa Senhora da Graça - a padroeira da aldeia.

[eu, a bem dizer - e respeitando o culto mariano - venho para comer a comidinha da avó ;) e dar uma voltita pelas aldeias próximas]

À partida de Lisboa, pensava eu, que iria encontrar mais uma vez a minha zona de destino devorada pelas chamas, mas apesar de ter visto alguma coisa ardida, fiquei contente por ver que por estes lados, a imensa mancha verde se manteve incólume (ou quase).

A família, foi chegando aos poucos e reuniu-se hoje (domingo, 15 de Agosto). Fomos, mais uma vez, trinta e tal pessoas para o já tradicional cabrito assado, acompanhado por batatinhas (novas) assadas e arroz, tudo confeccionado pela minha avó no forno a lenha.

A festa - o referido culto mariano - deste ano, em nada se assemelhou com anos anteriores. Este ano festejou-se apenas a festa religiosa, com uma pequena procissão encabeçada por 4 ou 5 andores enfeitados de flores e a missa campal no cimo da serra, no regresso da Senhora da Graça à sua capelita - onde fica a zelar pela aldeia durante 360 dias por ano.

Nos outros anos, a festa durava 4 ou 5 dias, sempre sob o barulho ensurdecedor de grandes grupos musicais, como os famigerados Zé Tó e Carmelita, o Duo Eu e o Outro, os Teclas Alternadas, os Relâmpagos e Trovoada, entre outros. O povo juntava-se no centro da aldeia e em frente ao palco desafiava a lei da gravidade dançado e inclinando-se para um lado e para o outro. Na noite de sábado para Domingo uma grandiosa partida de fogo de artifício iluminava o céu (e por vezes também os arbustos secos da serra). Durante os dias da festa, o barulho suave de morteiros acordava as pessoas mais preguiçosas ás 6 horas da manhã. Eram outros tempos. Eram outras maneiras de prestar homenagem à padroeira da terra.

18 agosto 2004

(...)

Tenho sentido muito a tua falta. Tanto que parece que, a qualquer momento, alguma coisa vai explodir dentro de mim. Na noite de Domingo senti-te tão presente que pensei que, a qualquer momento, te iria ver. Há pouco, em casa, ouvi o elevador e imaginei que, em seguida, ouviria o barulho das chaves na porta. Não me conformo, não me consigo conformar, cada dia menos. Cada dia a tua ausência é mais presente.

Agora, fui ao café e estava lá a D. Maria Sidónio, como de costume. Ela é sempre muito simpática, cumprimenta-me à distância, mas hoje, pela primeira vez, chamou-me. Sem dizer nada, deu-me um postal com uma imagem e sorriu. É uma das esculturas de santos que ela faz tão bem. É um Santo António, o teu patrono. Não consegui agradecer, não fui capaz de dizer nada. Beijei-a e vim-me embora.

Apesar de não ser a pessoa mais mística à face da terra, hoje prefiro acreditar que não existem coincidências e que o Santo António foi a tua maneira de me dizeres que continuas aí e ainda me carregas nos braços.

17 agosto 2004

Lição de hoje: Homens e mulheres ou como engomar pode ser potencialmente perigoso

Nunca mais passo a ferro. É uma tarefa monótona, cansativa, desagradável, pouco criativa (a menos que consiga fazer origami com as roupas, dobrando-as de forma original ou criando vincos, em vez de os eliminar) e perigosa! Sim, pelo menos para mim, que me queimo frequentemente, ou seja, de cada vez que pego no ferro de engomar. Desta vez, encostei a barriga ao ferro, ou vice-versa. Nunca me tinha acontecido esta variante, confesso. É o que dá tentar ver televisão ao mesmo tempo para me distrair da monotonia das tarefas domésticas...

Definitivamente, não nasci para a coisa. Se me aplicar, até consigo passar tudo na perfeição, mas como não gosto de o fazer acabo sempre lesionada e a fazer uma viagem até à engomadoria mais próxima, onde entrego as minhas tentativas goradas a qualquer empregada antipática, que olha para mim com um certo desdém como quem diz: "Já tinhas idade suficiente para saber engomar ou, pelo menos, para não fazeres macacadas destas.". Mas será que as engomadorias são exclusivamente para os homens? Será que tenho andado enganada este tempo todo e, na verdade, estes estabelecimentos não passam de uma espécie de "Clubes do Bolinha", instrumentos de apoio para homens temporariamente sós que, por opção ou não, não dispõem de uma mulherzinha que lhes engome as cuecas? Porque é que toda a gente espera que uma mulher saiba passar a ferro e chame um homem para lhe mudar um pneu?

Um destes dias, uma amiga minha ficou parada na estrada porque um dos pneus do carro se furou. Enquanto se preparava para o trocar, eis que aparece um jovem que, delicadamente, lhe pergunta se precisa de alguma coisa. A minha amiga respondeu que sim, que tinha uma pilha enorme de pratos para lavar em casa e o rapaz foi-se embora, ofendido de morte por não o terem deixado cumprir a sua função de macho diligente...

Por tudo isto, pergunto: será preciso inventar um terceiro sexo, para que os homens que passam a ferro e as mulheres que mudam pneus não sejam vistos como excepções a qualquer regra possidónia?

Ele há noites assim...

Deitei-me por volta da meia noite. Poucos minutos passados, acordei sobressaltada por uns barulhos estranhos que vinham de perto da minha janela. Espreitei e vi um bêbado que vomitava a alma para o meio da rua, em frente à porta (fechada) do café (Memo: a próxima casa NÃO pode ser numa rua onde haja um café). Como o senhor estava acompanhado por dois comparsas que o olhavam e amparavam com ar compadecido, voltei a deitar-me.

Mal tinha fechado os olhos, eis que chega um grupo de jovens em pleno embaraço da puberdade - naquela fase terrível da mudança de voz, em que de cada vez que abrem a boca emitem sons que se assemelham ao som de milhares de garfos a roçar o fundo de outros tantos pratos de louça - que decide ficar na rua a conversar em voz alta, até que o sono lhes chegue. Claro que adolescentes em férias de verão levantam-se tarde e, como tal, não é provável que tenham sono às tantas da manhã. Assim fiquei acordada, a ouvir a surpreendente retórica dos jovens, recitada em tons graves que alternavam de forma estranha com agudos esganiçados cheios de hormonas aos pulos, ansiosas para sairem desencabrestadas à procura do mundo inteiro para o fecundar.

Olhei para a gata deitada ao meu lado. Dormia enrolada, completamente alheia à agitação na rua e suspirei "Ao menos isso!".

Devo ter fechado os olhos por mais uns minutos, embalada pela conversa dos mancebos, quando chega um carro em alta velocidade, com o rádio igualmente alto, a tocar uma música de batuque acelerado. O carro ficou algum tempo estacionado por baixo da minha janela, com as portas abertas e o rádio aos berros até que o meu vizinho do rés-do-chão resolveu entrar, batendo com a porta da rua para que todo o prédio percebesse que estava a chegar a casa (Memo: ligar a aparelhagem no próximo Sábado, a partir das 8 da manhã e encostar as colunas ao chão, na direcção do quarto da peste).

Entretanto o relógio já marcava 5 da manhã e a gata continuava a dormir impávida e serena. Virei-me e tentei adormecer. Minutos depois fui acordada por um nariz frio e húmido encostado à minha cara - a gata tinha acordado e queria brincar. Foi nesta altura que desisti de conseguir dormir. Será que hoje conseguirei?

16 agosto 2004

Parabéns, caríssimo abade!

Queria ter escrito mais cedo, mas o dia não me deu tréguas. Parabéns pelo seu 31º aniversário, meu caro abade João. Que este novo ano de vida que hoje começa lhe traga felicidade, saúde, paz e sabedoria para, como alguém disse um dia, mudar as coisas que estão ao seu alcance e aprender a aceitar aquelas que lhe escapam.

E mais não digo, porque sabe que só lhe desejo bem mas, por muito que desejemos tudo de bom quanto este mundo possui para as pessoas de quem gostamos, a verdade é que o poder de mudar as nossas vidas depende em grande parte de nós, das nossas acções, da nossa genica e coragem.

E lembre-se que nunca é tarde para mais um salto de fé. Achar que se faz tarde seja para o que for, é começar a morrer cedo demais.

Beijo na alma.

14 agosto 2004

(...)

Tu és dia e eu sou noite.
Tu és Inverno e eu sou Verão.
Tu és vinho e eu sou água.
Tu és carne eu sou peixe.
Tu és rock e eu sou jazz.
Tu és campo e eu sou praia.

Às vezes discutimos. Às vezes é tudo muito difícil, mesmo as coisas que deveriam ser fáceis para quem se conhece há tanto tempo. Às vezes, até a maneira como respiras me irrita e acho que não vale a pena continuar.

Outras vezes, somos uma festa juntos, um casal de “sitcom” americana, cheio de humor e peripécias que não acontecem a mais ninguém, com uma cumplicidade à prova de tudo.

Mas, quando estás longe é sempre a mesma coisa: tenho todo o tempo do mundo para mim, para fazer tudo o que queira, todas as coisas que não fazemos juntos porque tu não gostas e acabo sempre por não fazer nada porque sinto a tua falta.

Não vou dizer que nada faz sentido, mas tudo faz muito menos sentido sem ti aqui.

Caír no sonho, depois de despertar do sonho

Ontem, durante a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, ouvi este poema que achei belíssimo. Acompanhou um dos momentos mais simbólicos, que pretendia render homenagem ao nascimento da Filosofia, do pensamento lógico, da tomada de consciência do Homem sobre si mesmo e sobre o mundo, do eterno questionar, da descoberta do mais poderoso instrumento à face da Terra, a mente.

I awoke with this marble head between my hands
Which tires my elbows. Where can I put it down?
It was falling into the dream as I rose from the dream
And so our lives grew one, hard now to be separated.


(Giorgios Seferis)

Ao mesmo tempo, não pude deixar de pensar que, para muitos, a cabeça de mármore continua a ser demasiado pesada simplesmente porque ainda não descobriram o que fazer com ela. É esta a verdadeira alquimia: transformar matéria em Conhecimento para construir a Humanidade.

13 agosto 2004

Esclarecimento

Caros amigos,

Muito obrigada pelos votos de boas férias, mas, por enquanto, eles vão todos para o excelentíssimo senhor abade, visto que eu ainda tenho de esperar mais 19 dias até ao glorioso primeiro dia de férias.

Até lá, tenho três vice-presidentes cheios de ideias e genica para aturar. O que vale é que um deles é giro que se farta e sempre posso deleitar o olhar enquanto trabalho...

Faltam

apenas 5 horas e 30 minutos para entrar de
Férias!
De Férias!

12 agosto 2004

Déjà Vu...

A Selecção Nacional de Futebol Sub-21 perdeu hoje, no primeiro jogo efectuado na edição deste ano dos Jogos Olímpicos, com uma selecção muito (supostamente) inferior e em quem poucos apostariam.

a) pensarem que eram favas contadas;
b) perder no primeiro jogo;
c) com um adversário em quem ninguém apostaria;

Onde é que eu já vi isto?

Espero que façam como os outros... e contornem as restantes dificuldades.
Vá lá.. vocês são capazes.

O sonho

comanda a vida.
Nikon Digital SLR D70

Ando atrás desta máquina há uns tempos. Estou à espera que baixe ligeiramente de preço para a adquirir - promoções de fim de ano e Natal ;).
Um colega comprou uma em França (via internet) que acabou mesmo agora de chegar. Já a estive a ver, já estive com ela na mão. É robusta, é linda, é potente, tem qualidade de construção, é Nikon... enfim... é mais um brinquedo para se gastar algum dinheiro. A fotografia acaba por ser um hobby caro, mas quando se consegue tirar uma foto (quase) perfeita tudo isso é (quase) compensado.

11 agosto 2004

(...)

Ó Dr. Bagão Félix... por quem sois!?
Se soubesse que perguntar-lhe acerca da devolução do meu IRS faria com que fosse depositado no dia a seguir... já tinha feito a pergunta há mais tempo!!

Já agora... Dr. R.S. para quando a minha promoção e respectivo aumento?
(pode ser que também resulte)

10 agosto 2004


Hello Teste. Posted by Hello

Pergunta fútil do dia

Dr. Bagão Félix, porque é que eu ainda não recebi a minha devolução do IRS??

09 agosto 2004

...

Neste fim de semana, soltei a criança que há em mim. Refastelado no sofá, assisti às aventuras de Sinbad, à fábula do Imperador e do camponês Pacha e ainda à narração da conquista do Oeste por um cavalo chamado Spirit. Foi encher a barriga e chorar por mais. Só faltou mesmo um geladito ou um doce a acompanhar, mas a preguiça falou mais alto e não me apeteceu ir comprá-lo ou fazê-lo. Foi um fim de semana a pensar já no período de férias.

06 agosto 2004

Momento (absurdamente) fútil do dia

Hoje...

...vou estar com amigos que já não vejo há, pelo menos, uma eternidade;
...vamos todos comer frango de churrasco com salada de tomate;
...comprei um chapéu engraçadíssimo para levar para as férias;
...ao arrumar uma gaveta encontrei uma caixa de pastilhas elásticas cheia;
...acabei de comer um Magnum de amêndoas.

Por tudo isto e algumas coisas mais, o mundo é um lugar bom.

Curiosidades

Sem querer fazer quaisquer juízos de valor, deixem-me partilhar duas pequenas histórias relacionadas com a Ponte Salazar. Primeiro deixem-me dizer que acho legítimo continuar a chamar-lhe assim, porque foi esse o seu nome de origem.

A História da humanidade é feita de bons e maus momentos, tal como as nossas histórias individuais, e o passado não se pode alterar. Quando muito, poderá (ou antes, deveria) servir como aviso, lição, aprendizagem para prevenir a repetição dos mesmos erros, o que raramente acontece.

É um facto que a ponte sobre o Tejo foi construída em pleno Estado Novo. É um facto que o Estado Novo se (con)funde na mentalidade e na figura de Salazar. Mil revoluções não poderão mudar o passado, nem é em seu nome que são levadas a cabo, antes são feitas em nome do futuro, que se deseja sempre mais esclarecido do que o passado.

Posto isto, cá vão as curiosidades sobre o nome da ponte. Consta que Salazar não gostou da ideia de a ponte ser baptizada com o seu nome. Às grandes obras, ruas, monumentos, etc., dizia, é mais prudente dar o nome de pessoas já mortas e há bastante tempo, de preferência.

Mas a ideia foi avante e a ponte recebeu o nome de Salazar. Antes da inauguração, e enquanto observada as letras na placa à entrada da ponte, este perguntou se estavam soldadas ou aparafusadas. Quando lhe responderam que tinham sido aparafusadas, Salazar respondeu que achava bem, porque assim seria mais fácil retirá-las...

Ponte Salazar

Pilar Central da Ponte 25 de Abril
Em 1966, mais precisamente a 6 de Agosto, foi inaugurada a ponte sobre o rio Tejo, ligando Lisboa a Almada. Designada na altura como Ponte Salazar, viria a mudar de nome para Ponte 25 de Abril em homenagem à revolução com o mesmo nome.

Pensamento (positivo) do dia

Your first 10,000 photographs are your worst.
Henri Cartier-Bresson

Fico mais descansado. Eu, que já estava a ficar desanimado com o que tenho feito até agora, vou encarar os restantes milhares como mais uns testes até atingir uma boa foto. E para atingir as 10.000 ainda tenho bastantes oportunidades.

Boa, Georgie!

O presidente dessa grande nação, tão grande que até costuma ser confundida com o continente de que faz parte, acaba de nos presentear com mais um "deslize" magnífico. É bom saber que Georgie continua no seu melhor e que não se cansa de fazer bom humor, de grande qualidade, subtil e elegante.

Desta vez, Georgie afirmou a quem o quis ouvir - e foram muitos - que, tal como os seus inimigos, o governo dos EUA não se cansa de procurar novas formas de prejudicar o país...Caramba! É preciso ter talento, "verve", espírito, enfim, é preciso ser-se artista, pá!

O quê? Não é de propósito? Bah! Sai daqui espírito democrata do demo!

Uma data a recordar

"O dia 6 de agosto de 1945 amanheceu claro e quente em Hiroshima, sétima maior cidade do Japão, com 343 mil habitantes e uma guarnição militar de 150 mil soldados. Hiroshima fica junto ao delta do rio Ota, que desemboca no mar Interior. Naquela segunda-feira, apesar da guerra travada em ilhas do oceano Pacífico contra os Estados Unidos, a vida corria como sempre: os comerciantes já haviam aberto as lojas, os estudantes estavam nas salas de aula, os escritórios e as fábricas estavam a pleno vapor. Pouco antes das 8 horas da manhã, toca a sirene avisando sobre a presença de avião inimigo. O alerta era tão corriqueiro que pouca gente correu para os abrigos antiaéreos. A sirene parou. Às 8:15h, bem alto no céu, espoca uma faísca branco-azulada que se transforma em um arco rosado. Em décimos de segundo, Hiroshima [Ilha Larga] fica branca. Prédios e casas levitam. Pessoas e animais evaporam; telhados e tijolos derretem. Uma onda de calor de 5,5 milhões graus Celsius e ventos de 385 Km/h arrasam a cidade." Texto extraído daqui

A 6 de Agosto de 1945, o mundo, impávido e sereno, assistiu a uma das maiores atrocidades efectuadas pela raça humana: o lançamento da bomba atómica sobre a cidade de Hiroshima, o que provocou a morte de mais de 140 mil pessoas. Outros milhares, que não morreram de imediato, viriam a morrer mais tarde vítimas dos efeitos da radiação (queimaduras, cancro, etc). Estima-se que tenham morrido cerca de 300 mil pessoas em consequência do ataque nuclear. A bomba, baptizada de "Little Boy" foi lançada por um Boeing B-29 ("Enola Gay") às 08.15 da manhã (hora local). Dias depois a carnificina repetiu-se. Desta vez em Nagasaki.

Que a humanidade nunca se esqueça desta data. Que a humanidade nunca repita tal atrocidade.

05 agosto 2004

Marilyn

Marilyn por Milton Greene

In the years when we were
all children, this inclining
to be alone so much was gentle;
others' time passed fighting,
and one had one's faction,
one's near, one's far-off place,
a path, an animal, a picture.

And I still imagined, that life
would always keep providing
for one to dwell on things within,
Am I within myself not in what's greatest?
Shall what's mine no longer soothe
and understand me as a child?

Suddenly I'm as if cast out,
and this solitude surrounds me
as something vast and unbounded,
when my feeling, standing on the hills
of my breasts, cries out for wings
or for an end.


(Rainer Maria Rilke)

o tempo e as férias que não chegam

Ando aborrecido. Estes ultimos dias antes das férias parecem não passar. Arrastam-se lenta e dolorosamente até ao fim da tarde, dia após dia.
Entretanto, no meio dessa lentidão, vou pesquisando factos sobre um dos destinos de férias deste ano. Na semelhança de outros anos, vou passar uns dias ao norte de Portugal para mais uma reunião familiar durante a festa da aldeia - perdida entre montes e vales chamada Cimbres, mas não me vou ficar por aqui.
Irei, mais a abadessa deste convento (que entretanto entrará de férias) passar uma semanita à Tunísia para poder admirar ao vivo (e espera-se a cores) as maravilhosas praias, os circuitos históricos e a sociedade tunisina. Só vai ser chato é ter de regatear tudo o que quiser (e poder) comprar... Poderá ser engraçado no início, mas tornar-se-á irritante após algumas compras.
Sendo assim, já andei a reunir alguns dados sobre locais que gostaria de ver ao vivo e qual a maneira de lá chegar. A uma ou outra excursão, temos de juntar uma viagem de comboio ou o aluguer de um automóvel para um ou outro local.

De entre os vários locais obrigatórios, destaco:
Cartago - passado púnico e romano, bem como a Arte Nova do tempo do protectorado francês;
Sidi Bou Said - ver a vila toda azul e branca e beber um chá de menta no Café de Nates;
El Djem - o seu magnífico coliseu romano;
Tunes - conhecer a cidade e ver o Museu do Bardo;
Kairouan - cidade santa;
Nabeul;
Port El Kantaoui;
Monastir

e, por fim, Hammamet, onde iremos ficar alojados e gozar alguns dias de praia.

Em todas elas, embrenharmo-nos nos souks (mercados), visitar as medinas, espreitar as Mesquitas e tentar ver um pouco da cultura daquele povo, fazem parte do pretendido. Como quem não quer a coisa... vou levar a máquina digital com vários cartões de memória (Nuno, não te esqueças que já te cravei o cartão de 512Mb) e ainda uma compacta com mais alguns (muitos) rolos fotográficos. Quero fazer um verdadeiro álbum de recordações. A Sónia, já prometeu que vai arranjar um caderninho e escrever o diário de bordo.

Quando regressarmos, sobra-me ainda mais uma semanita de férias que, será ao que tudo indica, passada na costa vicentina. Vila Nova de Milfontes é o local escolhido.

Mas porque é que o tempo demora tanto a passar até essa altura... e depois vai (de certeza) voar ?

(...)

"I knew I belonged to the public and to the world, not because I was talented or even beautiful, but because I had never belonged to anything or anyone else."

Nasceu Norma Jean Baker a 1 de Junho de 1926.
Morreu Marilyn Monroe a 5 de Agosto de 1962.

Marilyn Monroe - fotografia por Milton Greene


Goodbye Norma Jean
Though I never knew you at all
You had the grace to hold yourself
While those around you crawled
They crawled out of the woodwork
And they whispered into your brain
They set you on the treadmill
And they made you change your name

And it seems to me you lived your life
Like a candle in the wind
Never knowing who to cling to
When the rain set in
And I would have liked to have known you
But I was just a kid
Your candle burned out long before
Your legend ever did

Loneliness was tough
The toughest role you ever played
Hollywood created a superstar
And pain was the price you paid
Even when you died
The press still hounded you
All the papers had to say
Was that Marilyn was found in the nude

Goodbye Norma Jean
Though I never knew you at all
You had the grace to hold yourself
While those around you crawled
Goodbye Norma Jean
From the young man in the 22nd row
Who sees you as something more than sexual
More than just our Marilyn Monroe

Your candle burned out long before
Your legend ever did


Candle in the Wind,
Elton John e Bernie Taupin

04 agosto 2004

1908-2004

02 agosto 2004

Utopia

Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo, mas irmão
Capital da alegria

Braço que dormes
nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu a ti o deves
lança o teu desafio

Homem que olhas nos olhos
que não negas
o sorriso, a palavra forte e justa
Homem para quem
o nada disto custa
Será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio, este rumo, esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?


José Afonso
2/08/1929-23/2/1987
Zeca Afonso

01 agosto 2004

Parabéns, Memorial!

Parabéns

Mafalda Veiga


Mafalda Veiga no Anfiteatro Keil do Amaral, 31/07/2004

Tatuagens

Em cada gesto perdido
tu és igual a mim
em cada ferida que sara
escondida do mundo
eu sou igual a ti

fazes pinturas de guerra
que eu não sei apagar
pintas o sol da cor da terra
e a lua da cor do mar

em cada grito de alma
eu sou igual a ti
de cada vez que um olhar
te alucina e te prende
tu és igual a mim

fazes pinturas de sonhos
pintas o sol na minha mão
e és mistura de vento e lama
entre os luares perdidos no chão

em cada noite sem rumo
tu és igual a mim
de cada vez que procuro
preciso um abrigo
eu sou igual a ti

faço pinturas de guerra
que eu não sei apagar
e pinto a lua da cor da terra
e o sol da cor do mar

em cada grito afundado
eu sou igual a ti
de cada vez que a tremura
desata o desejo
tu és igual a mim

faço pinturas de sonhos
e pinto a lua na tua mão
misturo o vento e a lama
piso os luares perdidos no chão.