21 março 2005

Chain cake

Parece que anda a circular por aí uma alternativa gostosa às aborrecidas "chain letters". Trata-se do "chain cake" e, ao que consta, vem do Brasil, mais concretamente do Padre Marcelo (para quem não conhece, o Padre Marcelo é a alternativa "bossa nova" ao nosso Padre Borga) e, pelo que consegui apurar, garante o primeiro prémio da lotaria a quem seguir a receita "religiosamente".

Basicamente, o que se pede aos fiéis é que façam um bolo, segundo a receita do Padre Marcelo, com um fermento especial e que se dê a primeira fatia do dito bolo à pessoa que nos passou a receita e o fermento. Ao que parece, esta receita infalível garante o 1º prémio da lotaria (não percebi se, mesmo assim, a caturrice divina ainda quer que os crentes comprem o bilhete...)e tráz ainda vantagem de permitir uma experiência gastronómica ímpar, pois, ao que parece, o dito bolo é bastante saboroso.

Por isso já sabe: não negue à partida uma ciência que não conhece. Receba a receita, faça o bolo, partilhe a primeira fatia e ganhe a lotaria. Afinal de contas, o que é preciso é acreditar!

(...)

Houve alturas em que imaginei este dia e sempre o vi como um dia feliz. Não foi. Não é. Não poderá ser. É só mais um dia, apenas mais uma etapa.

15 março 2005

"(...)a arte é uma respiração fundamental. Num mundo tão dramático e traumatizante como este, em que as pessoas estão desfiguradas, a arte antiga é um refúgio, a beleza e a serenidade são fundamentais. O Museu também pode ser um espaço de conhecimento. Não há ninguém que venha e não descubra ou aprenda alguma coisa, de cada vez."

Dalila Rodrigues, Directora do Museu Nacional de Arte Antiga

14 março 2005

Pais precisam-se - Urgente, Assunto sério.

Uma destas noites fui até ao centro comercial mais próximo com a minha mãe. Fomos jantar (mamãe tornou-se adepta convicta de "fast food" e de comidas "exóticas"...)e, a seguir, aproveitámos para passar pelo supermercado. No total, não demorámos mais de duas horas mas esse tempo foi mais do que suficiente para que eu assistisse a três casos de maus tratos a crianças, que passo a contar.

O primeiro aconteceu logo à saída do parque de estacionamento, enquanto esperávamos pelo elevador. Ao nosso lado estava um casal ainda jovem com a filha, uma menina que ainda não deveria ter seis anos. A menina estava satisfeita, a cantarolar e a rodopiar como as meninas costumam fazer quando estão satisfeitas, mas os pais estavam cansados e com pouca paciência, por isso optaram por lançar um valente berro que imediatamente colocou a menina satisfeita em sentido e acabou com a cantiga e com o rodopio. De repente, a menina satisfeita transformou-se numa menina tristonha e envergonhada, quase tão aborrecida e cansada quanto os pais estavam.

A seguir, no restaurante, duas meninas brincavam enquanto a família acabava de jantar. Eram ambas pequenas, com uns 4 e 6 anos talvez, não mais. Brincavam às escondidas e faziam um teatrinho animado, com direito a números de dança moderna e contorcionismo de considerável exigência física. Mas, ao ver as meninas espojadas no chão, a mãe, que entretanto tinha acabado de jantar, achou que seria boa ideia atirar-lhes um grito e levantá-las bruscamente.

O terceiro caso aconteceu no supermercado. Uma família - mãe, pai e dois meninos - fazia compras calmamente. A dada altura, o carrinho onde o mais pequeno dos meninos ia pendurado, roçou uma prateleira e várias caixas de bolachas foram atiradas ao chão. A mãe aproveitou para gritar de tal forma a que todo o supermercado ouvisse (se bem que, até aí, o menino fosse pendurado no carrinho com o seu óbvio consentimento...) e o pai, do tipo forte e silencioso, aproveitou para manter o respeito do clã dando uma forte e silenciosa bofetada na criança que chorou, mais de vergonha certamente do que de dor ou susto.

Depois de ter visto estes três casos voltei para casa a pensar que a quantidade de crianças maltratadas neste mundo deverá ser muito superior ao que imaginamos. Porque existem formas de maltratar muito mais subtis do que a pancada ou o abuso sexual. Nós que tanto temos falado em pedofilia, que morremos de vergonha e de raiva por existirem adultos capazes de torturar uma criança, muitas vezes não nos apercebemos do nosso próprio comportamento. Tenho a certeza de que, qualquer uma daquelas mães é frontalmente contra a pedofilia e os maus tratos, no entanto, nenhuma hesitou em tratar as suas crias com brusquidão por nada, porque estávamos no fim de um dia de trabalho, porque estavam cansadas, contrariadas, com mil coisas mais importante e prementes dentro da cabeça do que as brincadeiras tontas dos filhos.

A falta de paciência, a brusquidão, a rispidez podem ser também maus tratos. Nenhuma criança pede para nascer mas, uma vez nascidas, todas exigem atenção e paciência sem limites, seja durante um agradável passeio de Domingo, seja ao fim de um frenético dia de semana.

Assim como eu fixei estas cenas tristes na minha memória, tenho a certeza de que aquelas crianças também se recordarão delas por muito tempo, até porque não acredito que tenha sido a primeira vez que elas tiveram lugar.

Será que este tipo de violência, bem disfarçada sob a capa da protecção maternal não é capaz de criar raízes tão fundas e tão tristes quanto os abusos sexuais ou a violência explícita que todos tão prontamente criticamos?